quarta-feira, abril 19, 2023

Pie Jesu

 


Por vezes tenho vontade de não escrever pois sinto que as minhas palavras podem poluir um ambiente que se quer puro, imaculado.

[Vou apenas abrir um parêntesis para dar uma explicação. Num dia em que várias coisas deixaram de funcionar, uma delas foi o computador. Fiquei com ele avariado, inacessível, com todos os transtornos e perdas que, como é fácil imaginar, daí advieram. 

Algumas coisas estavam salvaguardadas mas as mais recentes, talvez do último mês, não. É imperdoável e uma insensatez da minha parte, bem sei. Num dos dias, quando saí, deixei uma cópia a fazer e, quando cheguei, à noite, vi que tinha havido um problema qualquer mas, nas minhas múltiplas e por vezes sobrepostas actividades e com a canseira com que tenho andado, pensei que tinha que ver, depois, o que se tinha passado... e nunca mais de tal me lembrei. Mas, na minha cabeça, a coisa ficou como se tivesse feito a cópia.

Portanto, creio que há algum trabalho de escrita que pode ter ido à vida. Ainda vou ver se há salvação mas, se houver, só o saberei daqui por algum tempo.

Isso causou-me uma alteração substancial de planos.

Mas não dramatizo. No esforço de recuperação que tenho andado a fazer, descobri coisas que julgava perdidas e outras que nem me lembrava de ter feito. Geralmente há em tudo um lado positivo e pode muito bem ter acontecido que este tenha sido um mal que veio por bem. E já fiz a agulha e já estou a reorganizar-me dentro desta nova realidade.

Claro que tive que comprar um novo e começar a ajustá-lo a mim, passo a passo. Não será a mesma coisa que desbastar um cavalo, bem sei. Mas quase.

Até há muito pouco tempo não tinha que me preocupar com nada disto, havia sempre alguém que se ocupava do assunto. Agora, embora pudesse recorrer a ajudas, não quero. Tenho que me tornar autónoma em muitas coisas e esta é uma delas.

De qualquer forma, tenho perdido tempo e tempo e tempo. 

Enfim, coisas que acontecem. E bola para a frente]

Mas, dizia eu, que há situações em que devemos abster-nos de palavras, de palmas, quase até de respirar. Tudo em nome de respeitar o silêncio para nos podermos genuinamente encantar com o que nos é dado ver ou ouvir. A voz de Malakai Bayoh, de 13 anos, é de outro mundo. Belíssima, belíssima. Claro que recebeu um Golden Buzzer. Mas mais do que a chuva de papelinhos dourados é a expressão emocionada e são as lágrimas de quem o escuta que melhor definem o momento de excepção a que ali se assiste.

Malakai Bayoh interpreta de forma superlativa e muito comovente  'Pie Jesu'


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Quanto à belíssima fotografia lá em cima, vencedora do prémio Sony, saberão certamente que não é uma fotografia. Nem as duas mulheres são duas mulheres. Tudo não passa de fruto da Inteligência Artificial. Por isso, Boris Eldagsen, seu presumível autor não aceitou o prémio e lançou o tema para a discussão. Quais os limites? Ou não existem limites? 

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Lucidez. Harmonia. Paz.

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