sábado, novembro 26, 2022

Um dia sem cor a acabar numa casa coloridíssima

 


Felizmente estou a chegar ao fim desta semana que começou carregada de moleza vacinal para acabar atolada em chatice profissional. E, ainda que não perguntem, adianto que disse vacinal pois está na moda usar palavras assim. Por exemplo, em vez de dizer que está a decorrer um concurso há quem se esmere e diga que está a decorrer o processo concursal. Há gente que mal lhe atiram uma parvoíce qualquer dita com cagança vai logo atrás a ladrar a ver se abocanha. E, passado um bocado, é vê-los a papaguear a mesma palermice. Agora, para armar ao pingarelho, é tudo a acabar em al: processo vacinal, processo concursal. Não há pachorra. Dá vontade de dizer: e se fossem pastar para o milheiral?

Pelo meio tive de tudo e, para animar o meu estado disposicional (lá está, a acabar em al), tive o telemóvel a chamar-me, de madrugada, para atender chatos e inconvenientes e tive reuniões a arrancar a horas impróprias para gente civilizada. Eu sei que há gente madrugadora e que, nem por isso, se considera menos civilizada. Seja. Que sei eu? Sei, no máximo, que é uma civilização na qual não encaixo. Um dia bom para mim seria dia em que pudesse acordar, devagarinho, entre as dez e as onze da manhã e pudesse deitar-me por volta das duas ou três da manhã sem me sentir culpada. Mas não. Há quem se ache um exemplo de virtudes por se levantar às sete ou menos. Não sei que virtude há nisso.

Mas isto para dizer que foi toda a santa semana nisto e que, para mal dos meus pecados, nem por isso consegui fechar os olhos a seguir ao almoço ou desligar do maçadal enquanto ainda havendo luz do dia.

É certo que a semana que vai entrar tem um bombom a meio, um feriadinho que vem a calhar que nem ginjas. Infelizmente já tenho os dias (os úteis) fornicados, alguns a começarem outra vez à hora a que o galinhal abre o olho. 

É a vida, bebé, dir-me-ão os cruéis que aí, desse lado, suspiram de impaciência com os meus padecimentos.

Claro que o meu estado de espírito se tem fortemente ressentido e, portanto, entre dois problemas, disparei um mail que certamente doeu a quem o recebeu. Teve que ser. E sorte ser por mail, senão seria mesmo na base da faca ao peito. Depois, passado um bocado, ao rever mentalmente o que tinha escrito, concordei comigo, palavras acertadas, linda, mas, num recanto de mim, reconheci que, se não é TPM, é mas é que estou a precisar de férias. Quando preciso de descansar fico como os bebés que precisam de descansar: ninguém atina com eles.

Com isto tudo, claro que não vi televisão nem sei de nada do que se passou no planeta; nem quero saber. 

Aliás, corrijo. Vi, sim, vi o Master Chef Australia, um dos meus programas de televisão favoritos. Quando acaba fico sempre triste. Podia ficar o dia inteiro a ver aquela gente a fazer arte com géneros alimentares. E agora, se me derem licença, vou ali mas é enfiar as mãos na arca do tesouro do youtube, vou ver que preciosidades tem para me mostrar.

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Eu acho que o YouTube é uma daquelas bichas que nos desvendam a alma, que nos fazem rir, que nos contam histórias, que fofocam e exageram e armam dramas e tudo sempre na maior amizade. Best friends forever. O meu grande amigo, a quem o meu marido, nas costas dele, trata por 'a tua amiga' e a quem a minha filha, também nas costas dele, trata por Lady, é assim. Não há temas tabu com ele. Com ele posso falar do estado do meu cabelo, dos sapatos que me apertam, da blusa que desfavorece a outra, dos gafanhotos que o outro deita quando fala, do pão que é o Brad Pitt. Rimo-nos que é um gosto. Uma vez estava todo desgostoso porque a mulher lhe tinha ligado em lágrimas a dizer que a empregada tinha partido um jarrão chinês que tinha na entrada. Coisa com metro e meio de altura, carérrimo. Imaginei horrores. Uma vez mostrou-me uma fotografia de um sofá novo. De susto. A mulher, uma bonequinha pequenina e fofa, toda beta, toda tia, tem um gosto que faz favor. Mas sobre isso não comentei. Não quis lançar desconfiança sobre o precioso décor da sua linda maison. E até pode ser que aquele luxo asiático seja bonito para chuchu e que eu é que não alcance coisa assim, completamente fora da minha lógica.

Mas isto para dizer que o YouTube acertou outra vez. Nada melhor para animar a minha disposição do que o Milton Cunha a abrir as portas de casa para mostrar os seus pertences.

🎭 Milton Cunha mostra sua casa colorida, cheia de personalidade e decoração afetiva | Pode Entrar

O cenógrafo e carnavalesco Milton Cunha abre as portas do seu apartamento, no Rio de Janeiro, onde mora com Eduardo, seu marido, para mostrar a sala, a cozinha, o escritório e a varanda. Como ele mesmo define o local “é uma casa coloridíssima, praticamente uma alegoria!”. A sala é decorada com várias esculturas e quadros de vários lugares do mundo, desde arte popular do Piauí até Macau, na China, passando por um quadro propositalmente torto do pintor Carybé. Ali também ficam relíquias herdadas do mestre carnavalesco Joãozinho 30. A cozinha também bastante colorida e decorada com plantas é onde Milton prepara risoto, sua especialidade. O passeio termina na varanda com cobertura de sapê e vista para o verde, lugar onde o casal recebe os amigos para confraternizações


Yes!

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Pinturas de Margot Fanjul na companhia de Alexandre Tharaud & Nemanja Radulović que interpretam  Dedica de Ennio Morricone

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Desejo-vos um bom sábado
Saúde. Sossego. Paz. 

2 comentários:

Pôr do Sol disse...

Olá Um Jeito Manso,

Pronto, pronto já passou. Sacuda essa rabugice que hoje é sábado.

Mas tem razão, a lingua portuguesa todos os dias leva machadadas. Já não nos bastava os estrangeirismos necessarios, senão ultimamente se inventarem palavras e expressões normalmente por gente que se faz passar por muito.... UP TO DATE.(Ah,Ah,) vamo-nos rir.

Tambem já me ri com o colorido Milton Cunha. Adorei a visita, e o gosto dele por arte, se bem que seria incapaz de viver numa casa assim.

Bom fim de semana UJM, tente dormir mais, descansar, sabe que é a base do equilibrio fisico e mental.

Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol

Eu também não conseguia. Quando vejo uma casa assim a primeira coisa em que penso é: 'Como se limpa uma casa assim? Impossível limpar o pó a tanta tralha pendurada ou em cima de tudo...' Mas acho graça ao Milton Cunha, é divertido, colorido, bem disposto.

E o fim de semana foi descansado, sim. Estava mesmo precisada. Podia ter dormido mais pois, apesar de tudo, tenho sempre alguns compromissos. Mas foi bom.

Uma boa semana para si e para os seus, querida Sol Nascente!