quinta-feira, maio 26, 2022

A contida emoção de dois gigantes

 

Já antes aqui os referi e hoje, de novo, vou falar deles. 

Muitos serão os heróis e heroínas que se têm revelado nesta guerra sangrenta. Uns porque largaram tudo e foram lutar para a linha da frente, outros porque tudo arriscam para andar a ajudar os soldados, os feridos, os escondidos, outros porque conseguem sobreviver durante meses em subterrâneos, sem luz, sem água, sem gás, outros porque conseguiram a coragem para pegar nos filhos e, deixando tudo para trás, partir para onde não conhecem nada, nem os lugares, nem as pessoas, nem a língua, outros porque conseguem fazer uma vida aparentemente normal enquanto as bombas caem sobre as casas e os mísseis cruzam os céus. São muitos. Milhões.

Muitos filmes, muitas séries, muitos livros se produzirão sobre o que está a passar-se e será difícil escolher alguém, uma só pessoa, que se destaque mais do que os outros. 

Ao escrever isto lembro-me dos primeiros que chamaram a atenção pela inacreditável bravura, mas esta não será certamente superior à avalancha de coragem a que se tem vindo a assistir desde então. Mas porque foram os primeiros, ficaram gravados de forma mais indelével. 

A mulher de idade que disse ao soldado russo que guardasse sementes de girassol nos bolsos para que floresçam quando o seu corpo estiver enterrado. Os soldados da Ilha da Serpente que responderam à ordem de rendição russa com um 'Vão-se f..., soldados russos'. Ou Zelinskyy a dizer que os soldados russos verão os seus rostos e não as suas costas quando invadirem o território ucraniano. Ou a dizer que quer munições e não uma boleia para abandonar o país.

Mas não tenho dúvida de que os irmãos Klitschko terão também um lugar de destaque no grupo dos heróis desta guerra. Têm sido uma presença firme e corajosa nos momentos difíceis e conseguiram inspirar a confiança necessária para que a vida (quase) voltasse ao normal em Kyiv. São dois gigantes que guardam a capital de um país debaixo de fogo. Não abandonam as populações, estão onde é preciso, falam com uma calma determinada à comunicação social de todo o mundo e deixam sempre bem claro que estão ao lado dos seus conterrâneos a lutar pelas suas vidas, pela vida dos seus familiares, pela liberdade e pela independência do seu país.

Estão cansados e percebe-se a sua emoção ao dizerem que todas as guerras são horríveis, ao testemunharem o medo dos inocentes. Mas lutarão como leões pelo seu país e pelos seus conterrâneos e isso é certamente uma inspiração e um exemplo para muita gente.

Ukraine War: Klitschko brothers warn 'this war could destabilise Europe'

Political and business leaders from across the globe have been meeting in Davos to discuss the economy this week.

Sky's Paul Kelso spoke to the Mayor of Kyiv Vitali Klitschko and his brother Wladimir, who asked for an international, unified response to Russia's actions.

They also warned that the conflict in Ukraine could destabilise all of Europe.


E foi parte do vídeo abaixo que, na entrevista acima, foi mostrada aos irmãos Klitschko. Mais um punhado de gente que deveria igualmente figurar na tribuna dos heróis desta guerra absurda e bárbara. 

Ukraine War: The desperate fight for Severodonetsk, a city under siege

Sky's Alex Crawford witnesses first hand the desperation of people living in the war-torn city of Severodonetsk in eastern Ukraine

E tão vítimas da desmesurada ambição imperialista e assassina de Putin e dos seus apaniguados são os ucranianos como os próprios soldados russos que, muitos sem preparação e sem motivação, caem mortos nos campos de batalha sem que ninguém queira resgatar os seus corpos. Fechados em sacos de plástico, muitos sem identificação, estão armazenados em contentores frigoríficos à espera que haja alguém que os receba na Rússia. Isto enquanto as famílias nada sabem deles e provavelmente acreditam nas torpes patranhas com que a opinião pública é manipulada.

Russian soldier corpses pile up in refrigerated trains as 'Putin set to lose 30k men' in Ukraine


The bodies of dead Russian soldiers have been piling up on refrigerated trains, a video shows.

The claim, made by Ukraine in a video released Friday, comes after reports Vladimir Putin has lost nearly 30,000 of his troops in battle.

The footage, shared by Ukraine's railway chief Alexander Kamyshin, describes how Ukraine preserves the bodies of the fatalities.

The captions reads: "We treat dead #russians better than they treat live #ukrainians. Just another thing that makes us different."

The clip states that Ukraine preserves the bodies "according to humanitarian law, to release them to mothers and wives."

It adds: "Russia hides real losses from families. To avoid panic and to avoid payment of compensations."

The video then explains how Ukraine preserves the bodies by storing them in refrigerated trains. It adds that the railway is ready to deliver "cargo 200" to Russia- a Soviet military code term referring to war casualties.

The video ends: "Your 'cargo of 200' is waiting on demand".
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E queiram descer caso vos apeteça voar na companhia de Sergei

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6 comentários:

Cesar disse...

Muito romântico!
Mas tenho uma novidade: não foram os Russos que inventaram a Guerra!
Outra novidade:em guantanamo 20 anos após, co tinuam detidos sem julgamento;
Outra novidade: na Guerra as convenções e leis são o menos importante para quem sabe que a vida é um fio, e o medo tolda a racionalidade;
Outra novidade: os Ucranianos não são melhores;
Engolir toda a narrativa do Ocidente é meter a cabeça num buraco; na realidade a Russia vai ganhar a Guerra, e isto nada tem a ver com justiça ou razão; os lideres Ucranianos culpam-nos por não mandarmos os nossis filhos, mabde para lá os seus@
Tanto anjinho junto já começa a irritar...

Janita disse...

Bom dia, UJM.
De tudo o que hoje aqui li, retenho várias expressões suas, mas há duas palavras somente que desde o dia 24 de Fevereiro, ao ver as primeiras imagens do bombardeamento à cidade de Mariupol, martelam no meu cérebro e ainda não escontrei uma resposta:
Porquê esta guerra "absurda e bárbara"?

Saber o que move aqueles cérebros russos a rebentar de ambição doentia pela antiga grandeza imperial e imperialista, eu sei, mas não compreendo.

O que fui ficando a saber, ao longo destes duros três meses, é da enormíssima e invulgar resistência e coragem das gentes ucranianas. Só há uma coisa que vi ontem ou anteontem e não gostei...um tanque de combate russo, queimado e semi destruído, ser alvo de manisfestações de júbilo, onde me pareceu ser um soldado ucraniano, em cima do mesmo, a rir e ser fotografado. Esta maldita e desnecessária guerra já custou a vida também a muitos milhares de jovens soldados russos. A sua morte é chorada pelas suas mães, que não têm culpa de ser vítimas de quem os governa. Exibições deste tipo, não gosto. A ausência de compaixão, venha de onde vier, incomoda-me.

Um abraço.

Anónimo disse...

Há uma atitude, principalmente nas pessoas mais velhas, que me comove muito. É quando dizem, por exemplo depois de um forte bombardeamento que lhes arrasou a casa ou matou alguém próximo, “nós vamos ultrapassar isto, nós vamos ultrapassar isto ..”. Vejo-o como uma lição!

Também admiro a sobriedade dos militares e respectivos porta-voz quando falam à imprensa, sobretudo quando contrastada com o robótico porta-voz-quadrado dos russos, o qual, pelos vistos, vem fazendo escola em alguns avenZados ocidentais.

Um Jeito Manso disse...

César,

Para o seu peditório já dei.

Passe bem e, se isso tranquiliza a sua consciência, continue a desfiar guerras transactas para justificar a barbaridade em curso.

Um Jeito Manso disse...

Janita,

O que diz é aquilo a que um dos irmãos gigantes diz com voz triste: a guerra é uma coisa muita má. Quem vem de lá vem sempre marcado pelo que sofreu e pelos actos que cometeu. A adrenalina de fugir à morte muitas vezes só se acalma quando se neutraliza o agressor e, nesse altura, como num jogo de vida ou de morte, matar para não morrer, ao conseguir neutralizar o inimigo, soltam-se todas as emoções.

Para quem está de fora não é bonito de ver. Para quem vive, esgotada a adrenalina, virá a sombra.

Quem vai à guerra vem de lá sem querer falar dela.

Por isso, quem começa uma guerra, ainda por cima uma guerra bárbara e absurda, deve ser castigado mil vezes por tudo o que faz e por tudo o que obriga a fazer.

Um bom dia, Janita.

Abraço

Um Jeito Manso disse...

Anónimo/a

Também fico espantada (e comovida): todos aceitam sem desespero, embora com sofrimento, o que lhes está a acontecer. E todos acreditam que vão recomeçar. E todos querem ganhar esta guerra e voltar à sua vida pacífica de cidadão livres.

Tem toda a razão: é uma lição extraordinária para todos nós.

Um dia bom para si.