sexta-feira, maio 27, 2022

Uma casa no campo, uma casa na cidade

 



Se seguirmos um blog com regularidade, acabaremos por reconhecer um padrão. Há quem fale com arrogância moral, colocando-se num plano de superioridade a partir do qual tudo o que alcançam são seres menores a cometerem actos vulgares, mesquinhos. Há quem use palavras raras para contar histórias de mulheres carentes ou ardentes que acabam por ceder aos desejos caprichosos do autor. Há quem se martirize com os próprios defeitos queixando-se das suas tendências auto-destrutivas. Há quem romantize a vida, os sonhos, a luz, e, em palavras ou em riscos, consiga traduzir sentimentos com uma precisão e contenção ímpares. 

Não sei como me vê quem por aqui me acompanha mas sei que há um padrão: o sono, a escrita sob o efeito do sono. 

Um dia vou aprender a escrever durante o dia, quando estou bem acordada. Agora não consigo pois só tenho tempo à noite. Mas, mesmo quando tenho tempo durante o dia, parece que todas as outras tarefas são prioritárias em relação a esta. Sinto que tenho que varrer, fazer o almoço, arrumar papéis, fazer pagamentos, ir às compras. E, mesmo nesses dias, só à noite, quando nada mais há para fazer e quando estou demasiado cansada para fazer qualquer outra coisa, é que me ponho aqui a escrever. E, no entanto, mesmo quando me custa manter os olhos acordados e pouco ou nada tenho para dizer, aqui estou.

Os dias têm andado madrugadores. Parece que os astros se andam a desalinhar pois para juntar o punhado de gente que deve tratar de alguns assuntos parece que as únicas horas possíveis são à hora em que as galinhas abrem os olhos. O défice de sono vai-se acumulando e eu anseio por pôr o descanso em dia. 

Hoje a meio do dia, lavei umas almofadas e coloquei os 'recheios' dentro da forra de outras que tinha lavado. Também reguei uns vasos. E lavei à mão uma blusinha sensível que não quero lavar na máquina. Com o sol e calor que estava secou num instante.

Ao fim da tarde, quase a noitar, antes de fecharmos as janelas, fui apanhar nêsperas com o pau que tem um gancho na ponta. Comi algumas ao jantar. Boas.

Com esse gancho a ver se esta sexta-feira arranjo tempo para puxar umas guias de glicínia que estão a invadir o quintal da vizinha. 

Sinto muita vontade de ter tempo para fazer coisas assim sem ser a correr.

Também tenho vontade de ir comprar uma grinalda de luzinhas solares para colocar aqui no jardim, no pátio onde costumamos juntar-nos. Mas gostava de ir com tempo para poder ver o que há e escolher com calma. E também gostava de ter tempo para poder dar bondex no banco de madeira que pusemos no jardim, à frente. 

Mas, em vez disso, uso o meu tempo a ver ebitdas, a pedir explicações sobre margens e afins. E o pior é quando aqueles a quem peço explicações, em vez de irem direito ao assunto e despacharem a resposta em três tempos, resolvem justificar tudo muito justificado, uma minúcia que quase me faz ficar com falta de ar, uma argumentação que quase me dá vontade de inventar uma desculpa e pirar-me a sete pés.

Enfim. Cada um é para o que nasce e, para além disso, todos temos uma cruz para carregar.

Portanto, com tudo isto, quando aqui me vejo, quero saber se alguém já internou o Putin (tenho ouvido dizer por aí que é assim que o seu destino se vai cumprir) ou se já acabou o julgamento que opõe Johnny Depp à Amber Heard (coisa com mais destaque do que pandemia, guerra ou degelo) ou, ainda, para ver em que param as modas, nomeadamente o que andam a vestir as socialites que embelezaram a passadeira vermelha de Cannes. Neste particular vi que o que está a dar é a transparência, tudo a ver-se por debaixo. Só ainda não percebi se se aplica a toda a gente, de qualquer idade e qualquer elegância, ou se apenas se aplica a jovens esculturais. Mas essa dúvida fica em stand by. Não estou com cabeça para temas metafísicos.

Vou escolher algumas das fotografias que fiz no outro dia in heaven para polvilhar este texto. Faz de conta que estou a polvilhar o meu kefir matinal com canela. 

Reparem nestes little figuinhos. Agora estão assim, inocentes, infantes. Não tarda estarão tentadores, doces, carnudos. E sobre estes milagres é que os intelectuais deveriam escrever  tratados. Transcendência maior não pode haver. Digo eu.

Bem. Hoje não dá para mais que isto. Só se for decorações. Gosto muito de ver casas. Partilho convosco o vídeo com a simpática Alexandra Tolstoy (de quem já aqui falei, ex de um oligarca próximo de Putin) na sua casa de campo que é toda muito cottage, muito british mas que depois tem um recanto muito seu, muito russo.

Love your home x Alexandra Tolstoy

E agora em Chelsea, uma casinha à maneira. Muito agradável.

The Home of Alexandra Tolstoy Created With Colefax & Fowler Design Firm | Christie's

‘This house is a family home,’ says Alexandra Tolstoy of the beautiful six-bedroom Chelsea residence she converted from two adjacent artists’ studios. ‘I wanted it to be really comfortable — not to be stilted and too formal.
‘Everything we’ve got I feel is in its own right very unusual and special.’

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E tenham um dia bom

2 comentários:

Anónimo disse...

A propósito de “puxar umas guias de glicínia”,

“… Quer a glicínia seja jovem ou com idade, deve podar os sarmentos longos. Estes ramos servem para se agarrar ao suporte e nunca têm botões de flor. Não os corte rente mas depois da terceira folha bem formada, a contar desde o ponto de crescimento. No fim do Inverno, identifique o nível do corte examinando os botões-rebento: os que são arredondados devem ser conservados; os que são finos e pontiagudos devem ser quase todos cortados. Esta poda bastará para encorajar a glicínia a preparar os botões de flores durante toda a época.
Se a sua glicínia estiver em curso de formação e que ainda não tenha coberto toda a superfície desejada, conserve os ramos finos na extremidade dos ramos, para que se possa estender mais tarde .…”

in: https://www.planfor.pt/jardim-conselhos,poda-da-glicinia.html

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo/a

Preciosa informação.

Neste caso, por enquanto ainda não vou cortar estas guias pois estou a ver se ela se enleia numa pequena rede que está sobre o muro que nos separa do vizinho. Só que ela se esgueira e, em vez de se prender, passa por entre os orifícios da rede (que é uma rede muito aberta) e avança pelo ar para o lado de lá.

Mas hoje já pescámos esses rebentos e já tentámos que se detenham na rede.

Agora, numa outra derivação em que também há destas guias espevitadas vou cortar, sim. Mas vou esperar mais pelos meses de verão pois foi o que li no site cujo link enviou.

E já por lá estive a cirandar e a colher outra informação útil.

Obrigadíssima!