Tenho uma confissão a fazer.
O sofá que tínhamos na sala da televisão, in heaven, era antigo e já afundava. Eu virava as almofadas do assento para ver a sensação de afundanço diminuía mas a idade não perdoa em todas as raças e géneros, incluindo sofás. Portanto, resolvemos trocá-lo.
Às tantas, vimos um que era da cor, do material e com o tamanho e tipo desejável: lavável, clarinho, largo e com dois assentos com sistema de relax. Ou seja, cabendo três pessoas à vontade, quando estamos aqui os dois, cada um pode rebater o seu lugar como quiser que amigo não empata amigo. O meu marido disse: é isto, está resolvido. E eu sentei-me nele para experimentar. A senhora fez a demonstração e achei o máximo. Pedi que ele testasse. Recusou-se. Disse-lhe: mas vamos comprar um sofá sem veres se achas confortável? Ele disse que não precisava de testar, que com certeza que era bom, que servia. Fiquei chateada. Entretanto, no meio da contrariedade, reparei que, quando em posição normal, eu não chegava com os pés ao chão. Disse-lhe isso. Não ligou patavina. Acho que disse que se arranjava um banco para eu pôr os pés. A empregada disse que não era preciso banco pois o sofá levanta a parte de baixo. Tentei perceber como me adaptaria mas o meu marido já queria tratar da encomenda, pagar o sinal, raspar-se dali para fora. O costume.
No outro dia, um conhecido nosso, ao almoço, falou do dono de uma empresa que conhecemos, uma empresa que tem dois nomes. Não vou dizer o nome tal e qual mas imaginem que é Rocha & Bela. Contava ele que Rocha era o nome do dono. E acrescentou que o Rocha casou com uma mulher muito baixa, dizia que era pouco mais que uma anã. O meu marido disse: 'A Bela'. O nosso interlocutor confirmou: 'A Bela'.
Se o reclino fico óptima, o sofá transforma-se numa confortável chaise-longue. Só que, mal isto se estica, logo eu me deixo dormir. Uma luta para estar aqui, reclinada, e a escrever... não vos digo nada.
Tirando isso, a televisão também deixou de apanhar sinal, ou seja, não há televisão. Não sei se a caixinha da TDT se estragou ou o quê. Presumo que a tenham tratado mal durante o processo das pinturas.
O termos optado por pintar a casa toda, por dentro e por fora, cá para mim está ao nível da minha decisão de fazer artroscopia aos dois joelhos ao mesmo tempo. Tinha problema num deles e, convencida que aquilo era só fazer uns furinhos para espreitar lá para dentro, embora do segundo praticamente não tivesse queixas, assim como assim, já que tinha que ser anestesiada, viam-se logo os dois. Tudo na boa, sem pensar nas consequências. Quando acordei e vi que tinha um saco com sangue que escorria de um dreno em cada joelho e quando percebi que, para me pôr de pé, não havia um em bom estado em que me pudesse apoiar, é que percebi a burra que tinha sido.
Mas, trabalhos esforçados à parte, a casa está uma graça. Mais clara, mais luminosa, aspecto mais arejado. A minha filha está cá a fazer as suas decorações. Ela e os meninos também andaram nas pinturas. Subsistem na cor original da madeira os móveis mais antigos mas o aspecto geral é de leveza. Acho que com as janelas brancas ainda melhor vai ficar.
Como estou a trabalhar ao mesmo tempo, ainda não tive tempo de ir passear lá por baixo. E estou cansada. Mas quem corre de gosto não cansa. E fico feliz da vida por ver como os meninos também gostam de cá estar e como hoje gostaram de andar a lixar e pintar móveis.
O pior mesmo é o sono e, aqui no sofá, não ter posição. Ou me reclino e deixo-me dormir ou me sento normalmente e fico com os pés no ar. Sou eu e a Bela.
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Fotografias de Guy Bourdin
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Um dia feliz.
Divirtam-se. Descansem. Descontraiam.
2 comentários:
O que me fartei de rir com o seu post! Peço desculpa, mas está mesmo cómico... No meio de tanto trabalho, faz bem algum humor! Felicidades na sua nova casa. Maria
Olá Maria,
Ri-se porque, com certeza, não está com os pés no ar enquanto escreve...
E, sim, Maria, acima de tudo, que prevaleça o sentido de humor. Para coisas tristes já basta o que basta, não é?
Obrigada pelos seus bons votos.
Desejo-lhe um sábado à maneira.
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