terça-feira, outubro 13, 2020

Denúncia

 

Li que, a seguir à onda da pandemia, vai chegar uma onda de divórcios. Não me admiro. Excesso de proximidade e, ao mesmo tempo, o stress acumulado por não se poder fazer isto ou aquilo é cocktail explosivo. Se a isso acrescer o ruído e as solicitações permanentes de crianças a circular no pedaço, a coisa fica estragada de tudo. Junte-se a saturação de calls, teams, zooms, hangouts e o escambau e -- que ninguém duvide -- o caldo entorna de vez. 

Pode acontecer que o casal seja zen, amigo, solidário, que haja um companheirismo total, para todos os momentos, que a relação seja de dádiva recíproca, que haja admiração e respeito mútuos, que haja uma atracção física indestrutível -- e aí passarão quase incólumes ou, até, com o afecto reforçado. Caso contrário, esqueçam, o desgaste será expressivo. Quiçá dramático. Quiçá fatal.

Claro que não são todos os que já estão que não podem que irão a correr assinar os papéis do divórcio ou pôr borda fora os imprestáveis. Pode haver, claro, quem ache que nasceu para sofrer e que decida aguentar-se ao lado de quem já não ata nem desata. Ou pode achar que já está velho demais para arriscar mudanças nem que seja mudar para ficar livre e poder partir para outra. Ou quem ache que tem tão cabeludos pecados a espiar que o sentimento de culpa empurre para uma vida de suplícios. Gente que gosta de sofrer é o que mais não falta.

Além disso, e falando ainda mais a sério, as questões mentais têm vindo a acentuar-se (ansiedades,  depressões, etc) e um casal em que um ou os dois não andam a bater bem é fogo à espera de ser atiçado. Como não? Uma mudança como a que esta maligna covidía tem obrigado dá volta ao miolo de muito boa gente.

Sei de pessoas que, durante o confinamento da primavera, ficaram fechadas em casa com crianças, havendo uma única mesa onde todos se sentavam a atrapalhar-se uns aos outros ou em casas onde não havia qualquer privacidade ou sossego. Desgasta. E ou é tudo gente mentalmente muito robusta ou a coisa abre fendas, algumas estruturais, irreversíveis. 

Portanto, tudo misturado no caldeirão, há muito boa gente que vai aproveitar a ocasião para fazer um saudável reset. E, sendo a coisa devida, farão muito bem.

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A rapaziada da Porta dos Fundos conta como é

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