terça-feira, outubro 15, 2019

Carta de Maria Luísa a sua filha Filipa Bragança
[E outras palavras desta mãe que tenta compreender e aceitar a decisão da sua filha]

E o Filipa Bragança award for the best female solo performance by an emerging artist que tenta preservar a memória de como Filipa era 'calorosa, brilhante, divertida e bela por dentro e por fora'.



Querida Filipa,
A Tasmânia! Que doloroso deve ter sido deixar Hobart, provocando mais uma vez, soube mais tarde pela Sophie, uma ruptura num caso amoroso, que se vinham repetindo sem fim à vista, dado que essas habituais rupturas/desentendimentos só existiam na tua cabeça.
Mas, chegada a Melbourne, da Austrália decidiste não sair, dizendo que te sentias mentalmente doente, confusa, sem saber o que fazer.
A Sophie, habituada, segundo me disse mais tarde, aos teus permanentes altos e baixos, disse-te que regressasses porque em  Londres, mais uma vez, tudo se resolveria.
O Tom, espantado pela tua saída inesperada de Hobart, respondia que regressasses a casa como previsto, daí a dois dias, que mais tarde iria a Londres e resolveriam nessa altura a vossa vida. Mas, a sua última chamada, já não a ouviste, desligaste o telemóvel e, assim, decidiste ficar entregue a ti própria e à decisão que já terias definitivamente tomado.
Questionada a Sophie e o teu irmão sobre o teu silêncio, mesmo em dia de início de viagem, o que não era habitual, responderam, ela que achava que estava tudo bem e ele que podias estar a fazer uma pausa nas redes sociais, que devíamos respeitar.
Na segunda feira, dois dias depois da ausência de sinal de presença no facebook, resolvi contactar um rapaz que estava numa foto contigo e tinham ambos um sorriso bom, sim porque nos teus sorrisos, por vezes, eu via uma nuvem de tristeza no olhar. 
Disse-me que estavas em casa de uma amiga dele mas que tinhas regressado na véspera, domingo, via Singapura. Propôs-me esperar que chegasses aqui a casa, na terça feira, por volta do meio dia, como previsto. Como habitualmente chegarias de comboio, pois não querias que te fossemos esperar.
Terça feira, dia 25 de Outubro de 2016, já dia 26 aí, não chegaste, de Londres e, de Melbourne, confirmaram que não tinhas embarcado. Avisei o teu amigo. Pouco tempo depois recebemos uma chamada da Tessa e ficámos em choque, até hoje!
O pai faleceu três meses depois, mais cedo do que o esperado, segundo os médicos do IPO, sem se ter pronunciado, respondendo-me, quando questionado, que estava "apardalado", e assim partiu pois não tive coragem de perguntar mais nada.
Recomendou ao teu irmão, que nos foi lá representar, vindo de Cabo Verde, que queria que fosses encomendada numa cerimónia religiosa, não interessando qual a religião, e tratasse da incineração.
Quando partiu, a 2 de Fevereiro, sem deixar instruções, fiz exactamente o mesmo, bem como à tua tia, nesse mesmo mês, no dia 26.
E assim ficámos, eu e o teu irmão, sem querer acreditar, até hoje, não esquecendo o Rafael que, com três anos, deixou de vos encontrar quando vem de férias de Cabo Verde e, na ausência de respostas, foi acrescentando estrelas no céu por cada um de vós e já me disse que a seguir vou eu, porque tenho rugas na cara e depois os outros avós porque são mais novos.
Um dia destes escrevo-te mais, sobre o muito que ficou por dizer, por explicar, por esclarecer. Tanta coisa!
Um grande abraço, como aqueles que já por três vezes me deste, em sonho.
Mãe
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Compilação de algumas das palavras de Maria Luísa Bragança sobre a sua filha Filipa

Quando fomos para Londres, a Filipa tinha feito a pré primária e a 1ª classe em Portugal, não falava nada de inglês mas fez um sucesso porque tinha aprendido a escrever o abecedário em letra francesa e toda a gente queria que ela escrevesse o nome de cada um, naquela letra. 

Fez toda a escolaridade em Londres, primária e secundária - numa escola cuja especialidade eram as Performing Arts, perto de casa. No ano do gap year, aceitou a nossa proposta de frequentar a Universidade em Lisboa, onde fez o 1º ano de Sociologia. Tentou ficar cá a estudar teatro mas teve uma branca (!?) no exame de admissão e não conseguiu, regressou e estudou francês e espanhol na Universidade de Nottingham. 


No ano do Erasmus esteve um semestre em Anglet, perto de Biarritz, a dar aulas de inglês, no segundo semestre foi para Cuba, para o Universidade de Havana. Fez um curso de teatro no Drama Studio London.

Nas férias, fez voluntariado, uma vez na ilha da Boa Vista, em Cabo Verde, na Turtle Foundation  protegendo-as dos pescadores e outros perigos, na desova, com a protecção de meia dúzia de soldados, destacados para o efeito. E em Marrocos, onde deu aulas de inglês em escolas perto do Monte Atlas. 


No dia 23.10.2016, domingo, era suposto a Filipa ter apanhado o avião em Melbourne, de regresso a Londres, como previsto e no final do visto de permanência de 2 meses, para participar no Festival Fringe em Brisbane e Melbourne, com a peça Angel que o Henry Naylor tinha escrito para ela e tinha estreado com muito êxito em Edimburgo no mês de Agosto. 






Tal como no ano anterior, onde foi pela primeira vez, com a peça Echoes, de Henry Naylor, adorou Adelaide e depois do Festival foi até à Tasmânia terminar o visto.


A minha filha, com 26 anos, que vivia em Londres e estava na Austrália a gozar férias, depois de ter participado ali num festival de teatro, suicidou-se, em vez de apanhar o avião de regresso a casa, como todos pensávamos que tinha feito, os amigos lá e nós aqui.

Sossegou da incerteza da vida e de tudo o que a preocupava: a sua vida pessoal e profissional; as alterações familiares com o nosso regresso a Lisboa e a constante preocupação de não ter alojamento em Londres, o casamento do irmão, a doença fatal e inesperada do pai; as alterações ambientais do planeta, que ela antecipava sem solução, a indiferença e incapacidade dos políticos e população em geral para com os mais desfavorecidos, deficientes, sem casa, refugiados. O Brexit também a preocupava muito, e com razão. Antecipou todos os males do mundo como se fossem só seus. Desiludiu-se com as grandes cidades: de Nova Iorque mandou um postal a dizer que havia tanta gente a dormir na rua, que era uma cidade sem compaixão!

Saber que sofria de depressão, sem pedir ajuda, é o que nunca me vai deixar de fazer pensar no que terá sofrido sozinha, sem querer maçar ninguém, nem os próprios pais. Como é que foi possível uma coisa destas! O esforço que ela fez para superar esta doença mental sem tratamento, pensado que conseguiria por si só ultrapassar isso.

Foi ao saber isto que comecei a perceber porque é que ela nunca nos atendia o telefone. Ela sabia que pelo tom da sua voz eu perceberia se ela estava bem ou não e desculpava-se que o contrato do telemóvel não dava para receber chamadas gratuitas e mais tarde lá dava noticias, quando ela queria. Reclamávamos sempre mas sem resultado. 

Eu pensava que poderia ter esperança de vir a ficar próxima dela e dizer-lhe tudo o que sempre tinha ficado por dizer entre nós, por esclarecer, os silêncios, os sorrisos tristes, a nuvem que eu via nas fotos mesmo quando estava feliz...

Eu tinha tido a arrogância de pensar que teria hipótese de esclarecer as dúvidas que me assaltavam, que, mais uma vez, podia adiar essa conversa, para mim, para ambas, indispensável e eis que me provam que não mando nada e não mais vou voltar a vê-la.


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A new award for the best female solo performance by an emerging artist at the Edinburgh Fringe has been announced by Gilded Balloon.

The Filipa Braganca award has been set up in memory of the actor, who starred in Henry Naylor’s award-winning productions of Echoes (2015) and Angel (2016).

Braganca died in Australia in 2016, half way through a second world tour of Echoes, which had just completed dates at the Brisbane Festival and Melbourne Fringe.

She was 25 when she was cast in the two-hander Echoes and had just graduated from Drama Studio London. She played Samira, a radical schoolgirl who runs away to join Islamic State.

The production was a critical and commercial hit, and subsequently toured the world for over a year, with Braganca’s performances helping the show collect 11 major international fringe awards.

In 2016, Braganca returned to collaborate with Naylor on Angel at the Edinburgh Fringe, about a Kurdish woman reputed to have shot and killed more than 200 Isis fighters in northern Syria.

In a statement announcing the award, the Gilded Balloon said: “At a time when many commentators were fanning suspicion towards the Muslim community, she resisted, portraying a young Jihadi schoolgirl with warmth, humanity and intelligence.

“It was an astonishing – and brave – performance that reduced audiences to gales of laughter one minute, and tears the next.”

Karen Koren, the artistic director of Gilded Balloon, which produced both Echoes and Angels at the Edinburgh Fringe, said: “Filipa Braganca made an impact on everyone she met. She was warm, bright, funny and beautiful, inside and out.

Her acting was sensitive, meaningful and performed with incredible depth. She was destined for great things; her talent was boundless and she cared deeply about world issues. I hope that this award in some way keeps her memory alive.”


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Pétalas da "Remembrance tree",
feita a partir das mensagens que os amigos de Filipa enviaram a Maria Luísa

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Sabemos, Luísa, que partem cedo aqueles que os deuses amam. Mas a memória do seu brilho para sempre cintilará nos corações dos que tiveram a felicidade de conhecer a sua centelha de paixão, humanidade e alegria.


E vejam a maravilhosa alegria de Filipa, para sempre inocente, jovem e bela
in a little dirty dancing in Lisbon



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Que a ternura de todos nós para sempre envolva, como um longo abraço, a memória de Filipa Bragança, filha de Maria Luísa.

E daqui envio um abraço afectuoso para a Maria Luísa, tão corajosa, que tem tantas razões para se sentir orgulhosa pela sua talentosa filha, Filipa Bagança, que deixou marcas tão fundas em quem teve o privilégio de a conhecer.

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11 comentários:

Paulo B. disse...

Para a Filipa. Para a mãe. Para a família. Para todos nós.
https://www.youtube.com/watch?v=Ma7lyfYzIw8

Abraço.

Lucília disse...

Um abraço á mãe.Escreva tudo o que lhe vai na alma.

Cidália Fialho disse...

Quem teve a sorte de conhecer a Filipa jamais a esquecerá.
Beijo grande e abraço apertado Maria Luisa a Filipa está sempre aqui, se não for no abraço apertado durante o sono, será através de outras manifestações durante o dia, porque tudo o que nos alegra nos faz lembrar o seu bem querer... ❤

Unknown disse...

Tão sentido! Esta malandra de sorriso luminoso e de um abraço tão sentido, resolveu assim...que dizer? Nem sei!?
Só que te adoro e que foi sempre um prazer enorme gargalhar contigo❣️

Unknown disse...

A Filipa foi e será sempre uma princesa á frente do seu tempo, a minha menina das alianças, por vezes esqueço que já não está entre nós e aí sorriu com muita saudade da jóia que o mundo perdeu. Esteja onde estiver será sempre recordada com muito amor. Á minha Amiga Luísa ás vezes não digo nada porque não sei o que dizer só e tão apenas força porque está sempre a manter a Filipa entre nós através de fotos, pinturae prêmios obrigada ♥️ por este texto lindo

Anónimo disse...

The strength, beauty and kindness I have seen in Maria Luisa, eminated through Filipa. May you find peace. Sending you love 💗. Marina xx

mmfmatos disse...

A Filipa era tão talentosa, sempre tão empenhada em tudo o que fazia, parecia tão feliz, seria a última pessoa que eu alguma vez imaginaria que pudesse pensar em suicídio. Foi um choque muito grande quando soube, foi a decisão dela, mas é difícil de aceitar. No entanto, quem somos nós para dizer o que está certo ou errado, cada um tem o direito de procurar o seu caminho. Na altura, li o comentário de um amigo ou amiga da Filipa que dizia mais ou menos isto:"Lutaste por um mundo melhor e como não o conseguiste aqui, foste tentar fazê-lo noutro lugar". Ela partiu, mas ficará para sempre a recordação da pessoa maravilhosa que era. Para a Maria Luísa, um grande abraço, gostei muito de ler o que escreveu.

Tiago Gonçalves disse...

Quando ao desespero ou vazio interior se junta a absoluta deceção do mundo lá de fora... certas decisões tornam-se mais "compreensíveis..."
E a vivência social "chama-nos" a desempenhar um certo papel na relação com os outros, escondendo dentro de nós o que nos devora a alma.

Patuxa disse...

Estou despalavrada.....estarrecida.....
Luisa, como disse uma amiga aqui em cima, escreve tudo o que te vai na alma.
Há momentos e acontecimentos nas vidas das pessoas que pura e simplesmente são inexplicaveis. Mas são tão arrebatadores que perduram sem sentido.
Infelizmente o tempo afastou-nos mas eu ia sabendo umas noticias dela, pela minha avó.
Já disse ao teu filho que um dia vou a Cabo Verde visita-lo. Por tudo. Por ele, que sei e vejo que é uma grande homem. E porque quero conhecer esta familia. Pode ser que vamos as duas.
Um grande beijo da Paula da Idalete.

Anónimo disse...

Filipa will always be a shining star at the end of the path. Her laughter and voice will always be infectious and she will never be forgotten

Um Jeito Manso disse...

Yes, Filipa is a beautiful and living star that always will be present in the heart of those who love her.