quarta-feira, agosto 07, 2019

Marcelo Rebelo de Sousa, os Motoristas e Pedro Pardal Henriques


Naquela sua demanda de estar com todos e em todo o lado, penso que Marcelo só ainda não esteve comigo nem em minha casa. No entanto, não é que eu não queira, seria muito bem vindo, julgo ser apenas porque ainda não calhou.

do Expresso
Pois bem.

Numa dessas suas, meteu-se num camião e foi à boleia para ver como era a vida dos motoristas. Se bem me lembro, começou por uma breve viagem em Dezembro do ano passado e, para cumprir uma promessa de se aperceber melhor das provações por que passam, tenho ideia que se meteu noutra mais longa em Janeiro deste ano.
Pretenderia ele, na dele, evitar cenas de tipo 'colete amarelo' por cá. Esvaziar o descontentamento. Pois, não digo que não. A questão não é essa, a questão é que há mais por aí quem também não ande a dormir, quem fareje qualquer rastilho, por pequeno que seja, para incendiar as sociedades que vivem estavelmente em democracia. 
Marcelo veio da vaigem a reconhecer as dificuldades da profissão e, como é óbvio, isso soou que nem música para os ouvidos dos motoristas. Dos motoristas e... de um certo recém-advogado, formado pela Lusófona do Porto em 2014, com cédula profissional de junho de 2017 e que, justamente em Janeiro deste ano, muito oportunamente, apareceu como vice-presidente de um Sindicato de Motoristas de Mercadorias Perigosas cuja morada curiosamente coincide com a do escritório do dito Pardal. Também curiosamente o escritório ostenta, quase como 'selo de credibilidade' bem visível no vídeo de apresentação, uma moldura em que o dito Pardal aparece não com o Papa em pessoa mas com Marcelo, o próprio.

do Lusojornal
E agora, enquanto ouvia as declarações do mesmo Marcelo a dizer que os meios não justificam os fins e a apelar ao bom senso numa tentativa de que a greve selvagem não vá avante, vi aparecer logo a seguir um dos motoristas-sindicalistas a dizer que, se meses antes Marcelo os tinha apoiado, estava, então, na altura de ser coerente e os apoiar a sério. Nem mais.

E eu, revendo a fotografia do Pardal com o Marcelo a servir de cartão de visita no dito escritório e ouvindo o sindicalista a reivindicar o apoio consequente do Marcelo, interrogo-me: será desta que o nosso Presidente percebe que, sob pena de parecer que está de rabo preso, não pode andar por aí a distribuir simpatias a eito e a fazer fotografia com tudo o que é cão e gato (sem ofensa para os cães e para os gatos)?

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Tirando isso, só espero mesmo é que o nosso Presidente, que é um ilustre Professor de Direito, esteja, discretamente, a mover as suas influências no sentido de ensinar quem de direito a, legalmente, impedir a greve selvagem e chantagista que está na forja. Agradecemos.

3 comentários:

Paulo Batista disse...

Olá UJM,

Com a desculpa da emancipação do sindicalismo das organizações federativas, acusando-as de serem marionetas de um partido e da necessidade de abrir o sindicalismo a supostas formas modernas de reinvindicação,aos adequadas aos tempos do "fim da história", fornou-se uma santa aliança do PS, ao PSD e o apêndice CDS, sob a benção internacional do neoliberalismo e da terceira via da social democracia, para remover esse suposto anacronismo da negociação coletiva, da concertação social, do federalismo sindical. Eis que chegaram os tempos dos sindicatos tão desejados. Aqueles que irão desalojar o Mário Nogueira - o figurão mais recente desse velho anacrónico sindicalismo a que governos e patrões souberam dar a manchadada quando esse velho estava fragilizado (porque estava, porque o mundo mudou e a adaptação da ação sindical é muito difícil).
Este é o sindicalismo que tanto se esperou. E não é ilegal. Nem "selvagem". É independente. Representanta única e exclusivamente os seus associados. Está pouco interessado em solidariezar-se com outros trabalhadores (a não ser que ganhe com isso). É hostil para o velho sindicalismo. É populista. Mas é tudo legal. É a tão desejada destruição criativa a funcionar.

Mas sabe, até acho que a greve poderá não acontecer.

Anónimo disse...

Bem ditas palavras pelo Paulo Baptista (não benditas, alto lá, que essa não é pronúncia que esteja habilitada a fazer).
Tambem entendo perfeitamente o ponto de vista da UJM. Não sei, porém, se o Marcelo fez propriamente mal em verificar ele próprio as dificuldades do trabalho de motorista e em confirmá-las posteriormente de forma pública. Os motoristas há muito andam sendo explorados por uma certa empresa de transportes pesados que, em poucos anos, se apoderou do mercado ibérico e não foi por em Espanha haver menos oportunidades e capacidade de investimento - foi à custa de mão de obra barata.
O advogado Pardal parece que é manhoso, charlatão, burlão até, segundo relatos de emigrantes em França. Isto não elimina a justiça da luta dos motoristas. Conduz, isso sim, a uma luta onde vale tudo, quer de um lado, quer do outro. Com gente metida no meio, oportunista, sem valores, a ganhar dinheiro e popularidade à conta da ganância dos bem-instalados contra os explorados.
Abraço
JV

Paulo Batista disse...

JV: também (e sobretudo) isso!
Benditas foram essas empresas... protegidas nas suas estratégias agressivas de exploração laboral e ainda por cima abençoadas com medidas diretas de discriminação positiva (como os benefícios fiscais nos combustíveis, nas autoestradas, etc) e muitas outras indiretas (uma rede rodoviária de qualidade paga com os impostos dos trabalhadores, a consagração do transporte de mercadorias (e de passageiros) à rodovia em detrimento de todas as outras alternativas, nomeadamente a ferroviária), etc etc). Torcemos para que não ascendam ao céu populista - mas não me deixa de preocupar a coincidência com a época de comemoração da ascensão!

-DISCLAIMER-
Já no passado me "justifiquei", mas reforço aqui o pedido de desculpas: os erros ortográficos, a má pontuação, as gralhas gramaticais e a estruturação deficiente dos textos é fruto de quatro fenómenos: formação linguística "anarco-vernacular", fraco domínio do dispositivo, modernaço, de digitação ("smartphone"? não tão esperto ainda.... muito menos o seu proprietário, na sua utilização...), leviandade na revisão e edição, e, por fim, os efeitos das substâncias psicotrópicas (melatonina?) - que se fazem especialmente sentir nas horas a que venho para aqui comentar!