sábado, junho 08, 2019

Sobre um marquês com patorras de barro. E uma Imperatriz Emérita


Às vezes acontecem comigo coisas tão inesperadas e inexplicáveis que tento processar o que aconteceu e dificilmente o consigo. Ontem até aqui falei de um marqês da casca grossa com impância proporcional ao volume: gigante, gordo e transbordante de arrogância. Mas eu, por mais que olhe, não vejo a importãncia de que ele se acha revestido: olho e apenas vejo um alvo a neutralizar. Mas uma coisa é o que vejo e outra a forma como ele se vê. Anda pisando os mais fracos, atira piada racistas de que apenas ele se ri, ignora as necessidades dos mais desfavorecidos ao mesmo tempo que, para si, se arroga privilégios e tratamento diferenciado. Furioso comigo do alto dos seus dois metros e dos seus trezentos e oitenta quilos, às tantas perguntou-me se eu o achava igual aos outros. Respondi que sim mas foi por educação e caridade -- que ver, ver, vejo-o é como um parvalhão que não interessa ao menino jesus,

E o lero-lero azedou até que a besta informe avisou que o assunto não era para mim, que ia colocar a questão ao seu superior, alguém que, para ele, está sentado à direita de deus nosso senhor. E eu, como sempre, a observar-me, incompreensivelmente tranquila.

Pois bem. Hoje, sem que eu o soubesse, numa reunião com o dito big chief dele e o verdadeiramente big big chief que lá foi para uma reunião, pediram-me para ficar para o que se iria seguir. E o que se seguiu foi que uns quantos desfilaram ali pela sala, à vez, para exporem o que andam a fazer. Até que apareceu o animal. Espantado por me ver ali no lugar do grande júri, até atirava um olho para cada lado. E eu, de novo mais do que tranquila, tentando disfarçar o quanto me divertia a situação, de vez em quando inquiria-o, deixando a nu como são de barro as suas patorras.  

Mas, ao mesmo tempo, só me interrogava: a que propósito estou aqui metida, nesta bizarra situação?

Quando saí, estava uma pessoa à espera para saber o que se tinha ali passado e eu não soube explicar. Mas depois, saí dali, meti-me no carro e vim na conversa com a minha mãe e nem mais me lembrei de tal coisa. E depois, a caminho de cá, entre umas dormitadelas e combinações para este sábado, nem mais me lembrei de tal coisa. Primária, primária. 

E só a meio do jantar me lembrei e contei. O meu marido também admirado e também divertido.

Passa uma da manhã, não tarda tenho que me levantar para ir ao super e depois vir fazer o almoço que tem que estar pronto bem cedo. No carro, a minha filha dizia: 'lá vai ser mais uma noite em que vais escrever que adormeces de cinco em cinco minutos'. E é, e nem são cinco minutos, são menos. para escrever meia dúzia de linhas levo o tempo de cem. E as gralhas devem estar a comparecer em bando. E vou já para a cama e lamento não ter nada a dizer. Melhor: ter, ter, até tinha, só que estou que não me aguento.

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E agora, para me despedir e depois de ter implantado pinturas de Edward Hopper a despropósito no meio das palavras, só me ocorre aqui ter Michiko que serviu o japão como Imperatriz Consorte, mulher do Imperador Akihito, até 30 de Abril. Michiko tem 84 anos e é muito elegante, qualidade rara, especialmente quando é coisa que vem de dentro.


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Um sábado feliz para todos

2 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Citando o Prof. Coimbra de Matos: "Só precisa de galões quem não tem colhões".

CQD.

Um rico fim-de-semana.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Vou reter essa sábia citação. Quiçá um dia até faça um graffitti na porta do engalanado marquês com tão ilustre dizer.

E gracias por me ter feito rir de gosto.

Um bom feriado!