quinta-feira, junho 27, 2019

Oscar e Valeria e todos os outros que tentam atravessar montanhas, desertos, rios e mares na esperança de alcançar um mundo melhor


É fácil a gente comover-se. Daí, é fácil a gente evoluir para a revolta. E ,se muita gente se comove e revolta, mais fácil é sentirmos que fazemos parte de um movimento colectivo que se comove e revolta com a situação, sentimo-nos confortáveis com a causa comum. E a causa comum esgota-se nisso, em comovermo-nos e em revoltarmo-nos. Ou seja, na realidade é uma causa inútil.

Difícil é sermos racionais, consequentes. Difícil é percebermos que escolhas devemos fazer para poiarmos quem saiba evitar que situações como as que nos comovem e revoltam voltem a acontecer.

Falo, neste caso, em defendermos, no nosso país, políticas de acolhimento de refugiados, falo em termos programas de acolhimento para crianças sem família, falo em termos políticas articuladas e sérias de imigração. Falo em não cedermos a populismos, em não ficarmos revoltados se o Correio da Manhã fizer reportagens a dizer que os nossos impostos servem para pagar casas para estrangeiros, sem cuidarmos de saber que os estrangeiros em questão são, afinal, corajosas pessoas que fugiram da guerra, da fome, da violência. Falo em escolhermos quem nos represente na União Europeia para defender a mesma coisa em todos os países da UE. Falo em apoiarmos quem, na UE, quer fazer frente aos Salvinis deste mundo. Falo em transformar a nossa comoção e revolta em coerência.



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Volto aqui para dizer que, depois deste, comecei a escrever outro post dedicado aos livros mas, à medida que ia escrevendo, ia pensando que não deveria publicá-lo senão este iria já lá mais para baixo. Há alturas em que temos que pôr de lado o nosso egoísmo. Apetecia-me escrever mas, na realidade, estaria a relativizar a importância do tema deste post. Não a importância do post que os meus posts valem zero. Mas o tema, esse, sim, é importante. Sem a nossa atenção, cuidado e alguma abnegação tudo continuará igual, imensas correntes de gente a enfrentar o perigo, tantas vezes soçobrando pelo caminho, tantas vezes devolvida como mercadoria indesejável, tantas vezes agredidos, tantas vezes separados dos seus. Por isso, é com este post que termino a minha jornada: desejando que o mundo rico acorde para a necessidade de acolher os que fogem da guerra, do medo e da pobreza.


3 comentários:

Lucy disse...

Olá UJM, veja isto "Years and years" e a HBO que me pague...
Beijinho

Mar Arável disse...

Excelente retrato
Que fazer se não basta ter razão

Smiley Lion disse...

Boa tarde UJM
A guerra é um negócio trágico e sabemos quem são os "ganhantes"! Mas o que fazemos?
Com a desculpa da exportação da "democracia ocidental" e o consequentemente esperado/desejado rebuilding quantas tragédias foram criadas pelo mundo nas ultimas décadas, quantos mortos, quantos deslocados, quantos exilados, quantas mais migrações forçadas vamos tolerar?
Neste momento os "Impérios" existentes e os pretendentes estão uma vez mais a tentar vender-nos uma guerra ou duas ou três.
Quem é que realmente fica b€n€ficiado com uma guerra á Pérsia, á Venezuela ou á Coreia?

Haja tino!!