segunda-feira, janeiro 14, 2019

Lisboa é romântica, é namoradeira, conversadeira e boa para se ficar zen.
Lisboa, minha linda.
[Postal nº 4 de 8]




Por onde se passe, em especial junto ao rio, há gente a contemplar o rio, lindíssimo, tranquilo, muito azul. Gosto de fotografar as pessoas que olham as águas, seja de um rio, sejam do mar.

Seria bom poder ir falar com elas, saber como se sentem, o que pensam. Mas claro que se pudesse me inibia pois haveria de ter o bom senso que olhar para a água é um momento sagrado, jamais se deve interromper alguém que contempla um horizonte ou o azul impossível de um rio que corre mansamente.


Acho romântico ver alguém assim. Seja uma pessoa solitária, seja um casal, seja um grupo de amigos. Imagina se eu era maluca que fosse cometer um tal dislate: Olhe desculpem, podem dizer-me o que sentem quando aspiram a maresia ou olham o azul cambiante ou o ondular das aguas. coitadas das pessoas, haveriam de ficar desconcertadas, sem perceberem se haveriam de me empurrar a ver se um banho me refrescaria as ideias ou se, cortesmente, me diriam: sorry, can't understand such surreal questions

Também gosto de fotografar pessoas que conversam, mulheres geralmente. Duas mulheres que tirem a tarde para passear, conversarão ininterruptamente desde que se cumprimentem até que se despeçam. Tão certo como dois e dois serem quatro.


Acho o máximo ver duas mulheres a conversarem. Nem dão pelo que se passa à sua volta. A conversa absorve todos os seus sentidos.  Há sempre assunto. 


Diferente de dois amigos, de dois namorados. Aí há silêncios, hesitações, suposições não assumidas, meias palavras -- a cumplicidade assume outras formas. Com duas mulheres amigas é uma torrente contínua.

Mas, enquanto ia caminhando e observando, uma dupla chamou a minha atenção. Um homem magro, debruçava-se sobe uma mulher que, assim de repente, me parecia que estava numa cadeira daquelas para pessoas que não se aguentam bem sentadas. Desviei o olhar. Não gosto de ser indiscreta. Mas a curiosidade foi mais forte. Ao passar perto, espreitei pelo canto do olho e vi que não era o que tinha pensado. Mas continuei a não perceber, parecia que se deitava sobre uma mulher também ela toda inclinada.


Então olhei melhor e vi que era uma cadeira de massagem e que ele lhe dava uma intensa massagem. Ela ali estava, abandonada às mãos e aos antebraços dele. Fiquei com uma certa invejinha. Que bom deve ser levar uma massagem nas costas ali, à beira mar, ao sol suave da tarde. Aliás, pelo Natal, recebi um voucher para uma massagem da felicidade e não vejo a hora de o resgatar. Adoro massagens. A ver se para a semana dá. 

Ao lado do massagista uma rapariga fazia colares, igualmente em estado zen. Vejo agora na fotografia que estava um homem atrás dela. Lá não reparei. A gente não repara em grande parte do que está perante os nossos olhos. É tão estranha essa sensação. Quem sabe se as nossas ideias não seriam diferentes se, no momento em que fazemos opções, tivéssemos em atenção tudo aquilo a que não prestámos atenção?

(É uma pergunta retórica: nunca conseguiremos absorver tudo o que a vida nos oferece)

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Ainda tenho mais uns três ou quatro postais mas já é tão tarde que acho que vou deixá-los para amanhã.

Entretanto, se estiverem in the mood para um passeio comigo por esta Lisboa que amo de coração, desçam até à Lisboa linda e amorosa, à Lisboa musical, à Lisboa com homens com pinta e aos pontos cardeais de Lisboa. Espero que gostem.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ah, assim não vale, fazer-me chorar logo pela manhã... mas são lágrimas boas, de emoções boas.
É que Lisboa e o rio da minha aldeia já tinham feito estrago, agora as palavras do O'Neill, o violoncelo do Morelenbaum, a guitarra do Guerreiro e a voz da Mariza levaram-me ao tapete.
A Mariza é uma mulher extraordinária, como artista e como mãe.
Como compreendo que o Sting (great guy!) a tenha convidado para um concerto a nível mundial onde ela era a única portuguesa.
Já ouvi esta canção 524 mil vezes e fico sempre K.O. (nada a fazer...).
E agora, menina Tá, mande tudo às urtigas e vá fazer a tal massagem.
Se cuide, tá?

Boa Segunda!

🌲L

Anónimo disse...

Sorry, ainda aqui volto para dizer que a música, belíssima, é do Mário Pacheco.
Foi também ele que fez as músicas de 2 poemas do Fernando Pessoa para a Mariza cantar, como só ela sabe:
"Há uma música do Povo" e "Cavaleiro Monge".
Como alguém (que ambas muito estimamos) me lembrou há dias - há que respeitar os Direitos de Autor.

🌲L

Filha de José disse...

Lindas fotos.
Tenho vontade de conhecer Lisboa.

Victor Barão disse...

Também adoro Lisboa; também gosto muito da Mariza; a quem em qualquer dos anteriores casos esta bela partilha vídeo-fotográfico-escrita faz honroso jus!

Parabéns e obrigado

VB