Gosto de homens bonitos e com corpinho bem feito. Parafraseando o grande Vinicius, os feios que me desculpem mas beleza é fundamental. Não vou agora falar com pormenor dos que namorei e que depois deixei mas falo daquele com quem me casei. E, com vossa licença, vou repetir-me. Quando vejo homens bonitos, gosto de me lembrar.
Num pavilhão cheio de gente, vi entrar aquele por quem, de imediato, me apaixonei. Tudo nele me agradou. Os olhos deles vaguearam pelo vasto pavilhão e foram pousar na que, sentada no parapeito de uma janela, o fitava com encantamento. Barba cerrada, cabelos quase pelos ombros, moreno, olhos cor de mel, era um autêntico cristo mas em bom. Um físico invejável, uma forma elegante e desportista de andar. Quando a seguir estive com o meu namorado, com franqueza, confessei: 'Vi aquele que acho que é o homem da minha vida'. Escusado será dizer que o pobre coitado ficou pregado: 'O homem da tua vida não sou eu?'. Já não me lembro como me saí. Se calhar disse aquilo que era verdade: não sabia quem era, nunca tinha visto e, se calhar, não ia voltar a ver.
E, de facto, passaram meses sem que o voltasse a ver. Até que um dia, estando numa sala perto da escadaria, vejo uma colega entrar em estado de apalermada estupefacção: 'Não vão acreditar. Vi o fulano mais giro da faculdade. Não imaginam. Lindo.' Pensei que só podia ele. Saí a correr mas já não o vi. Ela disse: 'Tinha o braço partido'. Tempos depois, entrei na cantina e vi um ajuntamento ao fundo. Muitas raparigas, muito sorrisinho. Pensei: 'Querem lá ver...' Espreitei. Era ele. Rodeado de mulheres por todos os lados. Estavam a escrever dedicatórias e parvoíces no gesso. Pensei cá para mim: 'Deixa-as. Guardado está o bocado para quem o há-de comer'. Afinal eu continuava a namorar, por sinal um namoro muito a preceito. Por essa altura, já ele tinha ganho o cognome de 'o borracho'.
Meses depois, encontrei uma amiga minha dos tempos de liceu que estava noutro curso. Vinha com um saco com mantimentos. Vinha nas nuvens. Contou que andava com o gajo mais giro da faculdade, que ia fazer o jantar porque ele ia a casa dela, um andar um vivia sozinha. Contou que não era apenas lindo: era culto, era meiguinho. Tudo do melhor. Pensei: 'Querem lá ver...'. Certa de que com tanto elogio só podia ser 'o borracho', perguntei-lhe o nome dele. Disse-me. E foi assim que fiquei a saber o nome daquele que, não muito tempo depois, viria a ser meu.
E isto para dizer que me apaixonei só pelo físico, pelo olhar, pelo andar. Nada sabia dele, nunca lhe tinha ouvido uma palavra. Mas nada disso me fazia falta para ter a certeza de que não descansaria enquanto não o tivesse para mim.
Continuava a namorar outro e, no entanto, dentro de mim eu sabia que aquele lá, o outro, 'o borracho', é que era o tal. Mas ainda não se tinha proporcionado.
Andávamos em cursos diferentes, tínhamos horários distintos, apenas nos cruzávamos (e era de raspão) a espaços de meses. Mas, de cada vez que isso acontecia, ele ficava com os olhos presos aos meus e eu presa aos dele. Aos olhos... e ao corpo -- e ele ao meu. Era inevitável que aquilo tivesse um desenlace.
Teve. Não propriamente um desenlace mas, sim, um enlace. Dura até hoje.
Nessa altura, as minhas amigas diziam que eu era açambarcadora. O meu namorado era bem bonito, tinha (e tem) uns olhos num azul quase violeta, umas pestanas compridas. E um enorme talento. Elas queixavam-se: 'Com o que já tens, para que queres mais outro?'. Mas era mais forte do que eu.
E o anterior ao dos olhos azuis. Irreverente, uns olhos muito bonitos, um ar sensual e todo ele provocação. Um grande amor, esse. O primeiro.
Ou seja: toda a vida fui sensível a homens bonitos. É genético.
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E isto para dizer que. Aproxima-se o fim do ano e, com ele, começam a chegar os calendários. Este de que aqui vos dou conta chega da Austrália e traz um belo naipe de bombeiral. Cada um mais jeitoso do que o outro. Corpinhos bem feitos, carinhas larocas. As australianas, volta e meia, devem pegar fogo aos rissóis na frigideira só para os chamar lá a casa.
A graça é que vejo um montão de fotografias, bem mais que os habituais doze meses. Mas não me espanta. Perante coisa assim, a gente até lhes perde a conta, que venham mais. Vinte, trinta meses... quem é que se prende a minudências dessas perante tão belos exemplares do género humano?
Claro que, ao vê-los só fico a lamentar que se tenham rapado. Não gosto. Salvo uma honrosa excepção, não se vêem ali pêlos no peito, no baixe ventre. Espero que não tenham depilado mais do que isso mas, ainda assim, faz falta algum pelinho para a gente sentir uma coceguinha boa quando se lhes encosta. Só perdoo a estes meninos porque, estando tão longe, lá na Austrália, não vou conseguir pôr-lhe a mãozinha em cima.
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Se conseguir manter-me acordada, ainda aqui volto para mostrar bombeiros que gostam de piu-pus, outros de cãezinhos, outros de cavalinhos upa-la-lá.
8 comentários:
O que já me ri com isto!
Quer-se dizer, fala-nos num homem do tipo "..cristo, mas em bom", tal qual sempre gostei e gosto, e apresenta-nos um bombeiral da moda que, exceptuando, e isso ligeiramente, o penúltimo, de olhar embevecido pelo gatinho listado, não me fizeram estremecer nem a ponta da unha do dedo mindinho? Ora, assim não vale, UJM...:D
Um abraço e boa sexta-feira!! :)
Se o belo fosse uma certeza e um estereótipo definitivo e universal bem tramado estava.
Porém uma certeza tenho: alguém, a esta hora terá o ego nos píncaros.
Um bom fim de semana para curtir.
LS
Eu cá estou cheia de curiosidade de ver o seu escolhido.
Abençoada! :-)
L.
Teve a virtude de saber esperar... A boa comida não é para quem a talha, é para quem a come
Olá Janita,
Pois fique sabendo que de uma coisa estou eu certa: é que nunca deixarei que se chegue perto do meu cristo. E sabe porquê? É que quer-me cá parecer que temos gostos parecidos.
E já agora: a minha filha quando lê as minhas descrições do pai, encolhe os ombros e diz: 'Até parece...' Mas eu não ligo. Quem é que garante que o genuíno, o Jesus, se chegasse à idade do meu marido, ainda se mantinha com ar de jovem rebelde e cabeludo? Não é?
PS: E dos bombeiros de hoje, qual é que prefere...? E não vale dizer que nenhum. Vai uma aposta que, se forçada a escolher, ficava balançada entre os mesmos dois que eu?
Abraço, Janita, e um belo fim de semana!
Olá LS,
Claro que isto é tudo subjectivo. Mais do que ser belo e perfeitinho o que é mesmo preciso é ter aquele 'je ne sais quoi' que faz a diferença: um modo especial de olhar, um modo especial de ter graça, um modo especial de ser malandreco, um modo especial de ser inteligente sem exibir a inteligência. E etc.
E sabe? Almocei com o meu marido. A meio do almoço, lembrei-me: 'Olha lá, leste o blog?'. Resposta: 'Li. Porquê?'. E eu: 'Gostaste?'. Fez-se desentendido: 'Gostei de quê?'. E eu: 'Ora essa. De seres o cristo mas em bom?'. Riu e encolheu os ombros: 'És maluca'. E pronto. Está habituado aos meus arroubos e excessos, já não se impressiona.
Retribuo os votos de bom fds! Bora lá curtir.
Olá Abel Pacheco,
Essa é que é essa. Já aprendi um ditado ou um aforismo. Gostei.
E é mesmo verdade: não fui atrás. Apenas esperei que acontecesse. E tem graça a analogia pois sempre pensei: guardado está o bocado para quem o há-de comer.
Um bom fds, Abel.
Olá L.
Queria...? Mas não vai ter essa sorte, não... Não que eu seja ciumenta. Mas não quero é que fique a compará-lo com o Diogo Morgado (fez de Cristo, não foi?) e a desdenhar do meu Cristo, a achar que devo ser mas é vesga de todo...
Mas sou abençoada mesmo porque este meu cristo é santo todos os dias.
Bom fds, L.
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