quinta-feira, agosto 16, 2018

Cromos da praia neste feriado de Agosto
[Com uma caldeiradinha à maneira, com peixinho de mar, a seguir]





Já o contei: para nós, quando vamos só os dois, estar na praia é sinónimo de caminhar na praia, à beira de água. Se ela estiver apelativa, o programa abrange mergulho e umas braçadas. Se está fria, não nos sacrificamos.

Chegamos, despimo-nos, colocamos protector e, com tudo enfiado numa little mochila, fazemo-nos ao caminho. Mas o esforço também não é excessivo: uma hora e tal. Tenho ideia que hoje foi uma hora e quarenta e cinco minutos.

E, por onde vou passando, para alguma arrelia do meu compagnon de route que gosta de andar com passada certa,  vou observando e fotografando. Claro que sou discreta e embora tenha a sensação de que, se tivesse lata e pedisse autorização para fotogafar de frente e ma dessem, saía de lá com material para toda uma exposição. Tantas e tão curiosas as figuras que descrever em palavras não daria delas a devida imagem. Não o tento sequer. E, como não fotografo de frente e, muitas vezes, nem de frente nem de lado nem de trás, venho com a sensação de que estou a frustrar a minha vontade. Mas, enfim, a vida não é tal e qual a quereríamos e, nem por isso, é menos boa.

Bem. Estavam vinte e tal graus, uma aragem fresquita que tornava muito agradável passear. A água é que estava gelada. Ainda tentei enfiar-me nela mas está quieto, não consegui.

Como andamos para além das zonas mais populadas, mal nos começamos a afastar, começam a apararecer os nudistas e aí, sim, aí é que eu faria uns belos bonecos.

Pode ser impressão minha mas há uma significativa maioria, de entre os homens que fazem nudismo, que é gorda; diria mesmo: muito gorda Posso conceber que andem por ali a desfilar a sua nudez para seu belo prazer e não para se exibirem e que, portanto, tanto se lhes dê que os achem feios ou bonitos. Agora que a mim me faz espécie tal indiferença, isso faz. Rabudos, rebolões, por ali andam no maior dos à-vontades. Acontece que há por ali muito o costume de andarem à lamejinha. Andam a rodar o calcanhar a ver se elas aparecem e depois baixam-se para as apanhar. Imagine-se pois a figura, de rabalhão gordalhufozão espetado, os penduricalhos a aparecer por entre as pernas. E depois, embora eu tente não encarar, não posso deixar de ver o que se me oferece ver. A muitos, anafadões como são, o que se vê mal parece um botanito gordo perdido por entre a farta enxúndia. Num dos casos até comentei: 'Com cada miséria...' mas o meu marido não quer que eu olhe e comente, receia que algum perceba e que eu ainda me meta em sarilhos. Mas caraças, não sou cega, não posso deixar de ver.

Depois da zona do nudismo hetero, dos casais, passamos para a secção gay. E aí é um fartote de exibicionismo, de macacada de toda a espécie. Não são as demonstrações de afecto, que isso é normal. É mesmo o desfile de físicos, alguns musculados, depilados no corpo e na cabeça mas com barba na cara, tatuagens, são as corridinhas, as acrobacias, as brincadeirinhas fofas na água. 

Pelo meio passam os e as caminhantes, os atletas que encontramos para lá e depois para cá, muitos com equipamentos de monitorização, os solitários, os que vão passear os caniches, os apanhadores profissionais de lamejinha, os namorados, os casais discretos (creio que nos encaixamos nesta categoria), os que se põem no meio do areal a torrar, os que se instalam confortavelmente em cadeira debaixo de guarda-sol a ler um livro. E coexistem os encalorados e os friorentos, os pacatos e os gabarolas, os que se protegem e os que mais não se poderiam expor. É muito curioso e, como disse, pena não poder ter aqui um exemplar de cada.


Até que chegamos, de novo, perto da zona mais frequentada, onde toda a gente anda vestida, onde há crianças e brincadeiras.


E, à despedida, ainda um olhar para o barquinho que passa, daqueles barquinhos dos pescadores, barquinhos que, certamente, mais logo, levarão as redes carregadas de peixes aos saltos até ao areal mostrando como a arte xávega ainda está bem viva por estas paragens. E aí, as gaivotas que, à altura das fotografias, estavam desaparecidas aparecerão às centenas, sobrevoando as redes, pousando na areia, tentando disputar os peixes que sempre se escapam por entre as malhas.


O meu marido disse, fazendo um ar indignado: O Marcelo terá alguma coisa contra a xávega? Ou contra a Caparica? Deveria explicar-se. Anda por todo o lado e, por algum motivo, aqui nunca veio. Alguém deveria questioná-lo. Não está bem. Em vez de ir directamente das fluviais para a Quinta do Lago e para o Gigi devia era ter vindo aqui misturar-se com o povo.

Concordei. Não está certo.

Mas pronto, a vida é assim mesmo, cheia de injustiças.

Dali ainda fomos so supermercado comprar peixe de mar que eu estava com uma vontade danada de caldeirada. E assim fiz: com tomate bem maduro, pimento encarnado, salsa, louro, uma pitada de orégãos, cebola com fartura, batata doce e o dito peixe (a raia até trazia um grande fígado -- e eu adoro fígado de peixe), tudo regado com azeite e uma pitada de sal (portanto: sem água), saíu dali uma bela e cheirosa caldeiradinha.

Sobrou um pouco, que vai servir para o jantar: o meu marido vai comê-la propriamente dita e eu escorri o caldo, que encheu uma tigela, e vou migar lá para dentro um ovo cozido e um pouco de peixe desfiado e mal posso esperar que acabe o jogo que está a dar na televisão para a ir papar.


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