terça-feira, dezembro 19, 2017

Um presente de um Leitor. Um presente físico, material.




Por vezes penso que isto de a gente escrever sem saber quem nos lê e apenas tendo notícia através de estatísticas é uma coisa meio limitada. Contudo, depois, vêm os mails e a gente vê que há gente de verdade aí desse lado -- e sei das suas vidas, das suas hesitações ou ansiedades. Mas, ainda assim, é virtual, ou seja, o contacto é virtual.

A uma, no entanto, por afinidades ou não sei bem porquê, tive vontade de ir mesmo conhecer. E, de certa forma, não tive qualquer problema em que ela me conhecesse. As palavras que atravessam o espaço deixam perceber, por vezes, que há como que invisíveis laços que, de uma maneira incompreensível, parecem unir-nos. Gostei de conhecê-la.


E há outro caso. Um caso que me encanta. Um Leitor, por esta altura, tem a delicadeza e generosidade de se deslocar até um local secreto e lá deixar o livro que anualmente publica com poemas seus.

Ontem à noite, quando vi o correio, lá tinha mail seu a dizer-me que tinha deixado o livro no lugar do costume. Àquela hora já era impossível lá ir e hoje o meu dia estava por demais complicado. E eu com medo que alguém descobrisse o esconderijo e ficasse com o meu presente. Mas vivo rodeada de cavalheiros gentis e logo aquele que vive comigo conseguiu arranjar maneira de lá ir. Depois enviou-me uma sms a dizer que oo resgate tinha sido bem sucedido. Alegria.

Agora à noite já o tirei do invólucro plástico e já aqui o tenho comigo, tendo estado até agora a lê-lo. É um livro com uma bela capa, boa paginação, muito agradável à vista e ao toque. Não é virtual: é um presente de verdade e eu estou muito agradecida. E contém as suas palavras que se juntam de forma harmoniosa, como que atraídas para aquela toada incompreeensível que dá forma aos poemas.

Procuraste as palavras com esmero,
escolheste-as a preceito
com o teu requintado bom gosto
como se fosse u móvel
para pôr na entrada.
Palavras cuidadas, sonantes, originais,
por vezes mesmo solenes,
para que o texto te saísse
limpo, perfeito,
gramaticalmente imaculado
conseguiste mesmo 
um certo toque literário.
Não escreveste um poema, uma crónica,
uma notícia, um romance, um conto,
nem sequer um relatório
ou um artigo de jornal.
Escreveste-te.


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Transcrito, o poema O texto de Joaquim Castilho in 'Outros Poemas'
Lembrei-me do que me dizia, Joaquim, que eu era mozartiana e, por isso, para si: Hiro Kurosaki no violino e Linda Nicholson no pianoforte interpretam a Sonata para Violino em E Minor K304 - Mov. 2/2

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Muito obrigada, Joaquim. Saiba que fico muito feliz por receber esta sua prova de afecto.
E saúde e felicidade para si e para a sua família, nomeadamente para a sua querida Rita a quem o livro é dedicado

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