Havia a viúva Porcina. Era um excesso. Na maquilhagem, nas vestimentas, na linguagem, nos sentimentos. Irreflectida, de rastilho curto, sempre com o dedo no gatilho, sedutora, implacável, imoderada, dada a traições (mas traições sobretudo for the fun of it), verbo fácil, reacção a quente, aparentemente espontânea mas, na verdade, uma calculista. Regina Duarte que nos deu tantos personagens extraordinários (e agora, assim de repente, estou a lembrar-me de Malu mulher), frequentemente contidos, aparece em Porcina como uma extraordinária caricatura de tudo o que é gente extrovertida e deslumbrada.
Muitos outros personagens igualmente espalhafatosos as novelas e o cinema nos têm dado e nem estou certa de que a viúva Porcina seja a melhor escolhida para aqui figurar.
Mas eu, nisto, prefiro o imediatismo pois as minhas imagens podem nem fazer grande sentido ou podem ser boas para um psicanalista dissecar (e, nos testes de personalidade, é frequente mostrarem-nos umas manchas e pedirem-nos, que, sem grandes pensamentos, digamos o que estamos a er ali) mas, na verdade, o facto é que não tenho grande paciência (e tempo!) para me pôr para aqui a puxar pela cabeça até encontrar o 'boneco' perfeito.
Portanto, seja a viúva Porcina. Não vem ao caso a história do Roque Santeiro e toda a tragicomédia que se vivia em Asa Branca. A única coisa em que penso, neste momento é mesmo nos excessos da histriónica Porcina.
E evoco Porcina ao pensar em Marcelo. Se eu fosse uma crente bem comportada, acrescentaria, Deus me perdoe: Deus me perdoe mas é, justamente, na excessiva viúva que penso quando vejo o quadro de Natal com o Marcelo como pastor, quando o ouço a opinar sobre tudo e sobre nada, quando o ouço com remoques despropositados a propósito do que Antonio Costa disse noutro contexto ou inventando frescuras a propósito da eleição de Centeno para presidente do Eurogrupo, quando o ouço a desvalorizar o trabalho e os sucessos do Governo, quando o ouço a sugerir que se reconstrua tudo o que ardeu num abrir e fechar de olhos como se não houvesse projectos a fazer e a aprovar, orçamentos a fazer e a aprovar, prazos de entrega de materiais e de mobilização de gente da construção civil, como se tudo se resumisse a beijinhos, selfies e fazer casinhas com pecinhas Lego. Marcelo está a ser vítima da sua hiperactividade (ou défice de atenção ou síndroma de burnout ou narcisismo ou deslumbramento por ter conseguido chegar onde sempre desejou estar -- ou qualquer outra coisa do género). Normal é que não é. Porta-se como um vulgar frequentador das redes sociais em que, mal ouve qualquer coisa, e pode ser uma frase fora de contexto ou qualquer banalidade do dia a dia, e aí está ele a exigir que se mate e se esfole, criticando sem cuidar de ponderar se foi bem aquilo que se passou ou se é benéfico para a vida política do país ter-se um presidente que parece um boneco com uma mola. Ao mínimo estímulo, aí está ele a saltar. Sempre com microfones e câmaras atrás, ampliando o que, já de si, é excessivo, Marcelo está a correr sérios riscos de perder a quota de popularidade que almejou no início do mandato.
Num primeiro momento, os mais carentes, os solitários, os que perderam alguém ou a casa ou o emprego, os que se sentem relegados para plano secundário seja do que for e toda o tipo de pessoa que precisa de um qualquer estímulo suplementar para se sentirem compensados, poderá sentir o conforto de um abraço ou de receber a visita e uma palavra amiga de alguém importante, alguém que bem conhecem da televisão e que se faz acompanhar de batedores, polícias, repórteres.. Pode essa pessoa, na prática, pouco mais fazer do que isso mas quem não gostará de ter para relatar a amigos, vizinhos e familiares distantes que o Presidente Marcelo lá esteve em casa, destapou a panela que estaa ao lume, perguntou pela acina, deu conselhos sobre o melhor chá e, com sorte, terá tudo isso sido filmado.
Mas num segundo, terceiro ou quarto momento logo perceberao que o Marcelo hoje é incêndios, amanhã é a água na barragem, depois a vacina, depois uma boca ao Governo, a seguir a Raríssimas, depois os sem-abrigos, depois o Infarmed, se necessário for recebe o sindicato dos enfermeiros, dos professores, dos médicos. E que, portanto, aquela causa não é a causa, é apenas uma de mil 'causas'. E perceberão também que enquanto ele anda a fazer quilómetros de carro ou a bater perna por aí, o Governo, não embadeirando em arco, vai, qual formiga, fazendo o seu trabalho, percorrendo o caminho das pedras, arranjando estradas, construindo casas, obtendo subsídios, trabalhando para relançar a economia.
Marcelo, a continuar neste absurdo frenesim em que, a todo o momento, deixa transparecer que tem medo de perder palco sendo cada vez mais deveras injusto e inconveniente no que diz, vai perceber que está a um passo de ser ridicularizado, de passar a ser visto como uma caricatura daquilo que tanto ambicionou.
E daí até aparecer alguém a sugerir que ajudemos o Marcelo a acbar o mandato com dignidade vai um pequeno passo.
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E queiram descer um pouco caso queiram saber qual a minha recomendação de leitura sobre 2017, o ano esquizóide
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PS: Numa tentativa de forçar a minha natureza mudei, outra vez, o aspecto do blog a ver se se lê melhor nos tablets e telemóveis. Mas, bolas, não consigo deixá-lo todo branquelas e vá de juntar cores. Agora, quando vi o aspecto, pareceu-me uma autência Porcina em forma de blog. E muda-me o tamanho e as cores de alguns parágrafos, num despropósito total. Mas, a esta hora, já não dá para me pôr com mais experimentalismos. Sorry, outra vez.
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