segunda-feira, abril 28, 2014

Otelo Saraiva de Carvalho e Salgueiro Maia, dois dos bravos do pelotão, no dia 25 de Abril de 1974. Um filme...!








O Salgueiro Maia, quando lhe dei a missão, avisou-me de que os soldados só tinham uma semana de recruta, não sabiam dar tiros. Disse-lhe, não faz mal, a tua coluna vai ser a coluna isco, traz a maior quantidade de material de combate que puderes, Chaimites, M47, Panhares, MBR, os soldados de capacete, metralhadoras e espingardas automáticas, munições, tudo. Quem vai opor-se a uma coluna dessas? Ninguém sabe que os soldados não sabem disparar. Vais à 2ª Circular, fazes o Campo Grande, Pequeno, Avenida da República, Saldanha, Marquês, Restauradores, Rossio, e montas o arraial todo no Terreiro do Paço. Ficas à espera. Se por acaso estiver o ministro do Exército no gabinete, vais prendê-lo. E vão lá todos ter contigo, a GNR, a PSP, a PIDE, a Legião, e a Cavalaria 7 e Lanceiros 2, se não apanharmos os oficiais antes.

Arriscado. E corajoso, ser o isco.

O Movimento correu riscos muito grandes. eu não tinha bem a noção do inimigo, não tinha sido feito nenhum estudo de situação. A GNR tinha acabado de receber 25 viaturas-choque.

A que horas é que o Marcello soube que estava apanhado?

(...) O Silva Pais diz-lhe que (...) o melhor é ir para o comando da GNR no Carmo. Fiquei a saber onde estava o Marcello. Às 5h30, o Salgueiro Maia diz-me, via rádio, que precisa de um oficial superior lá. Porque o ministro do Exército está no gabinete, tudo isto em código. Óptimo, vai prendê-lo. E ele diz-me, não posso, porque o Regulamento Militar diz que um oficial-general só pode ser detido por uma patente mínima de major e eu sou capitão. Que raio, no meio de uma revolução vem-me com isto. Mandei-lhe o tenente-coronel Correia de Campos. 

O Jaime Neves estava no posto de comando com missões não cumpridas e pediu-me para ir também. Quando lá chegaram, o general Andrade e Silva já se tinha pirado pelo buraco que tinha mandado abrir pela Polícia Militar, que lhe fazia a segurança. Abriram o buraco com as lanças expostas no museu. Piraram-se numa viatura civil para a Calçada da Ajuda, Lanceiros 2.

Às 11 da manhã, o Salgueiro Maia pede-me outra missão porque o Terreiro do Paço estava cheio de gente que subia pelos carros de combate, perdia-se o controlo. Disse-lhe, Charlie 8 reorganiza a coluna e abandona a missão, sobe ao Carmo e cerca o comando-geral da GNR porque o coelho está na toca. O indicativo do Marcello era Coelho.  

Com o cerco montado, às 12h30 resolvo fazer um ultimato ao comandante da GNR, Ângelo Ferrari, que tinha sido meu professor na Academia Militar. Digo-lhe que falo do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. Ele chama-me camarada e eu digo que não me chame isso porque não somos camaradas. Estamos em trincheiras opostas. Dou-lhe 15 minutos para abrir o portão do Largo do Carmo e deixar sair o Marcello. Ele diz que o Marcello não está lá. 


Desliguei e contactei o Salgueiro Maia. Charlie 8, fiz um ultimato. Se não acontecer nada dentro de 15 minutos, preparas as metralhadoras e vais partir os vidros das janelas do 1º andar. 

E o Salgueiro Maia diz-me, isso é despesa, depois quem é que paga isso? Não te preocupes, alguém há-de pagar. 

Passado um quarto de hora, ele hesita ainda. 

E eu, quero ouvir essa rajada, quero ouvir os vidros a partir, vamos embora! 

Até que ouvi estralejar, os vidros a partirem. 

Hoje sei, através de um livro do major Nuno Andrade, oficial da GNR que estava lá, que aquilo foi decisivo para a rendição do Marcello. 

Antes já havia uma tensão monstra, com o megafone do Salgueiro Maia e o aparato. O Marcello telefona para casa do Spínola para se render. 

Os únicos tiros disparados por nós foram esses. 

Quando o Spínola me pergunta o que fazer com o Professor Marcello Caetano, disse-lhe para combinar com o Salgueiro Maia, tínhamos um Dakota no aeroporto para o levar, com o Tomás, para a Madeira.


(...)

No 25 de Abril, os militares procuraram ter um comportamento cavalheiresco. E tiveram. Para o povo, o 25 de Abril foi uma nova vida.


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Na altura, Salgueiro Maia tinha 29 anos e Otelo Saraiva de Carvalho 37.


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Salgueiro Maia fala sobre a rendição de Marcello Caetano





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Primus inter pares


                             
                                    não perguntes se estas
                                    são as vias
                                    da perfeição da alma,
                                    as concordâncias

                                    duma arte de viver;
                                    o tempo é excessivo nos vestígios: as
                                    antiguidades de roma, as histórias
                                    da morte no ocidente.

                                    súbito um perfume
                                    de remos no rio (audíveis?)
                                    e vento nas conchas resguardadas:
                                    guardam o coração e as suas

                                    certezas ferozes, a sombra
                                    resguardando a luz.
                                 
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O texto é parte da interessante entrevista concedida por Otelo Saraiva de Carvalho a Clara Ferreira Alves na Revista do Expresso deste sábado. Aliás, esta Revista é um número de antologia no que se refere ao 25 de Abril


O poema é 'nó cego, o regresso, XIII' de Vasco Graça Moura (Porto, 3 de Janeiro de 1942 — Lisboa, 27 de Abril 2014) in Poesia Reunida.


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Muito gostaria ainda de vos convidar a visitarem o meu Ginjal e Lisboa. Hoje tenho, uma vez mais, uma visita frequente daquele espaço: Vasco Graça Moura. Sendo ele o ser múltiplo que conhecemos, vem sob várias formas: em entrevista escrita, falada, em poesia dita, em fado.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.

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4 comentários:

Bob Marley disse...

terapia com animais - https://www.youtube.com/watch?v=4Sl_DGLxm1s

FIRME disse...

Embora,reconheça a vontade de alguns puxarem a brasa á sua (deles) sardinha,a entrevista do sr.major OTELO,por aqui relatada, é um lavar de cestos mui>>>>>>>>>>>to mal contada; A coluna do nosso capitas MAIA,ERA 1 ISCO??? OS alferes,furriéis eram un inaptos que mal tinham feito a recruta??? OS VELHINHOS cabos de guerra eram anginhos??? O COVIL DO REGIME sediado no PAÇO,ESTAVAM Á ESPERA DELES DE CRAVO AO PEITO...??? Desde o 16 de março...Aqueles eram putos de quem as mães ,pais,irmãs,namoradas.choravam ! NÃO!!! Eram putos fartos de ver o seu pai ir de tachinho,ajeitado pelas mães,ainda noite escura !Alguns,aprendemos umas merdas...Depois a história continua,se me tal for permitido!!!

FIRME disse...

Este meu comentário,não quer ferir nenhum dos Heróis,q. puseram a pele no assador alí no Paço! Apenas deposito com a sua permissão,outros pontos de vista,para memória descritiva,dos mais novos,o q. me parece este espaço estar á altura,coisa q. não vejo noutro espaço qualquer! Foi 1 previlégio descubrir,este seu blogue! Gostava,de ser 1 amigo!!! 1 Dia falarei da Des(colonização),na prespetiva dum dos que viu parir...13 ,meninos no seu quartel,brancos pretos e mulatos .mesmo assim fomos/somos traidores...acabo dizendo;ainda nos dói!

FIRME disse...

Não havendo por aqui contraditório,ao meu comentário anterior e só ponho aqui a minha opinião,devo dizer que demorámos muitas horas a trazer até luanda muitas famílias,graças ás nossas madrinhas de guerra (vulgo G-3)! As do movimento nazional feminino(???),já se tinham pirado nos aviões que pousavam em luanda,nesse tempo