domingo, setembro 22, 2013

Valter Hugo Mãe lança o seu novo livro, 'A desumanização', e o José Mário Silva no caderno Actual do Expresso estende-lhe uma carpete vermelha. Mas eu, e desculpem-me as leitoras devotas do dito Valter, o que vejo é um homem nu - mas admito que é capaz de ser influência da fotografia em que ele se mostra em pelota. É que eu nisto sou como o Gonorreias - 'há que elevar os padrõezinhos' . [Texto revisto e aumentado]


No post abaixo falo de pessoas que não apenas são talentosas como generosas e, para o ilustrar, mostro mais um maravilhoso filme de Cine Povero.

Mas isso é a seguir. Agora, aqui, a conversa é outra.

*

Já vos confessei muitas vezes: se calhar não sou normal. Gosto de coisas que ainda não estão na moda e, quando estão, já eu estou noutra. Ou gosto de coisas porque sim e de que nunca ninguém ouviu falar. E parece que tenho aversão ao que 'está a dar', às vezes nem sei bem explicar (outras sei, ó se sei).

Vem isto hoje a propósito do Valter Hugo Mãe

Ganhou o prémio Saramago, vende muitos livros, tem um ar vagamente singular, enternece algumas senhoras, tem boa imprensa. 

Mas que eu hei-de eu fazer se não consigo ler nada escrito por ele? 

Lá está: folheio, folheio, e tudo aquilo me parecem banalidades, coisa a armar, parece que não acrescenta coisa nenhuma ao ruído editorial que por aí abunda.

E depois há aquela sua exposição, aquele seu culto da auto-imagem - e isto enquanto se diz tímido e se arma em campónio. Não dá. Não faz o meu género.

Faz-se fotografar de todas as maneiras possíveis e imaginárias - a olhar o além, armado em bom, deitado no meio da rua e até completamente nu (reconheço: é melhor nu do que vestido; mas eu nem nu lhe acho graça, o que é que eu hei-de fazer?). 




Admito, contudo, que eu é que seja a excepção, já que quase toda a gente lhe ache muita graça. Eu não tenho paciência. Mas que tem boa imprensa, lá isso tem.


Vai sair ou saíu, nem sei, um novo livro, 'A Desumanização', e o Expresso dá-lhe honras de capa do Actual e quatro páginas inteiras no interior. As fotografias pelas quais ele se pela e as palavras banais de José Mário Silva sobre as palavras banais de Valter Hugo Mãe confirmam porque é que eu não consigo deixar-me seduzir, mas nem um bocadinho, por ele. 



E é quando vejo coisas destas, destaques incompreensíveis como este, que me aborreço com o Expresso. Claro que há que ir atrás do que vende mas, ó caraças, é preciso exagerar desta maneira?

Como é que se justifica que uma escrita como a do Valter Hugo Mãe justifique um tal desfiar de palavreado como aquele com que o José Mário Silva enche 4 páginas inteiras?


Já no outro dia a Revista Ler lhe deu idêntico destaque: páginas e páginas de fotografias com palavras a acompanhar. A Islândia deve ser um país bonito pelo que qualquer um que lhe aponte a câmara deve obter imagens bonitas. 


As que eu vi, na Ler, não me parecem nada de especial, umas com saturação de cores, outras de tipo postal ilustrado. Mas, enfim, é o valter hugo mãe e a revista Ler (por onde anda o mesmo José Mário Silva e outros amigos do mundo editorial) alinha pela mesma bitola: dar holofotes ao jet set da edição lusitana.

Mas, voltando agora ao Expresso e ao big artigo do José Mário Silva sobre o Valtinho: porque é que não vão os dois encher chouriços para outro lado? 

E porque é que o segundo não se fica por dar milho aos pombos (já que gosta tanto de se fazer fotografar no meio deles)?

(As admiradoras dele que me desculpem mas é o que eu penso. E já sabem: eu sei que não sou lá muito normal. Por isso, esta minha relutância em aderir à moda Valter Hugo Mãe é bem capaz de ser defeito meu)

*

Voltei aqui porque fiquei a pensar que na literatura, como na política, como em tudo na vida, a gente vai aceitando o que é menos bom, tolerarando os que gostam de se armar em originais mas não o são, vamos baixando os padroezinhos e, quando damos por ela, estamos cercados de passos coelhos, pinokias, marco antónios, searas, valtinhos e coisas assim.

Temos que subir os nossos padrões de exigência, não aceitar o enaltecimento do que é banal ou menos bom - nisto eu estou como o Gonorreias.




O homem com demasiadas características - Gato Fedorento

*


Permitam que vos recorde: se descerem um pouco mais, poderão ver, por contraste, aquilo que considero ter qualidade: mais um filme de Cine Povero, a voz de Fernando Alves, a poesia de Tonino Guerra, a música de Jordi Savall.

*

E tenham, meus Caros Leitores, um belíssimo domingo!

10 comentários:

Anónimo disse...

se alguém o(a) chamar de mentiroso(a), diga, desculpe sou um(a) omisso(a) factual.Realmente este é um país de poetas

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

Também eu não acho muita piada ao valter hugo mãe que já não insiste em ser minúsculo.Algumas originalidades, sobretudo nos títulos
dos livros mas muita palha no interior. Todavia vou comprar o novo livro dele porque fala da Islândia (fotos curiosas na LER)sonho de viagem que espero ainda poder realizar!
Confesso que me sinto velho e ultrapassado . Também não consigo gostar do Gonçalo M. Tavares o novo hiper-premiado aquém e além mar e super produtivo novo príncipe das nossas letras! Admito que o problema poderá ser meu!!!

Um bom dia para Si e um abraço

Anónimo disse...

No caso da filosofia , os gregos inventaram tudo, agora só aparece variantes dos temas por eles abordados.Nem todos podem inventar a pólvora, só podem arranjar maneira de a fazer explodir melhor.Essa procura por algo novo leva séries como twin peaks, ficheiros secretos e outras séries para o fantástico, e isso sim, tira-me a vontade de ver ou ler.

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara UJM
Partilho inteiramente da sua opinião e da que expressa Castilho quanto a Tavares.
São dois autores que tenho muita dificuldade em ler. Também é verdade que não insisto...

Um Jeito Manso disse...

Aqui num pulinho, tenho que ir sair, só para dizer ao Joaquim Castilho que fez bem em referir a Revista Ler. Eu tinha visto mas tinha-me esquecido (tal a relevância que lhe dei...).

Por isso, voltei ao texto para acrescentar isso. E, de caminho, aproveitei para inserir uma rábula do gato Fedorento que me parece vir mesmo a calhar.


Um abraço a todos e bom domingo!

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,
Concordo consigo, são exageros desmedidos!
Quando há necessidade de se fazer fotografar nu e em situações extravagantes para ganhar notoriedade, qualquer coisa não está a bater certo! Quando se é bom não há necessidade de artifícios desta natureza.
Um beijinho

Anónimo disse...

Não sei quem é o artista do Jeito Manso, mas concordo com o horror se não do Mãe (que sim , é muito mau), com o horror das passadeiras vermelhas dos jornais. Pois não haverá entre editoras de livros e jornais uma contínua troca de favores?

Anónimo disse...

Bota gelo e pomada que isso passa :D

lolololol

Anónimo disse...

Diz que não costuma gostar do que a maioria das pessoas gosta...
Quer dizer que seo Valter fosse pouco lido já lhe daria uma hipótese? Mas que raio de critério é esse? Goata de se armar em diferente ou é só inveja?

Francisco disse...

Tanta concertação e concentração de vulgaridade é inusitado. Quem gatafunhou este texto gosta de se colocar em bicos de pés para se evidenciar dos demais. Contudo em tudo que escreveu só consegue revelar mediocridade e sobretudo rancor. Seria interessante saber, porquê este falso desdém por Valter Hugo Mãe. Além de muito estúpido, o texto é mal educado.