terça-feira, setembro 24, 2013

António Ramos Rosa - os poetas não morrem. Por ele, festejo aqui 'a luminosa corola dos sorrisos' e 'a lentidão clara do sossegado desejo de não ser nada'.










                                                              Agrípia, foi a partir de ti que eu renasci
                                                              na luminosa corola de um sorriso
                                                              e os meus navios cinzentos e perdidos
                                                              seguiram a bondade do teu rumo.
                                                              Esta casa não seria a minha casa
                                                              se não fosse a tua branca arquitectura
                                                              e o teu hálito límpido que me guarda
                                                              nas suas tranquilas coordenadas.
                                                              Por ti o horizonte está em casa
                                                              e nele eu vivo contigo a ondulada
                                                              permanência da alma iluminada.




(...)

a lentidão clara
do sossegado desejo
de não ser nada


*

Gosto de festejar a vida e gosto de trazer aqui os poetas sempre que me apetece a transparência das palavras puras.

Por isso, trago hoje aqui o poema Agrípia de António Ramos Rosa, casado com Agripina Costa Marques, poetisa a quem ele dedicou tantos poemas. Para António Ramos Rosa, Poeta Maior, habitante frequente de Um Jeito Manso e do Ginjal e Lisboa, sempre haverá lugar nestas minhas e vossas casas. Que aqui chegue, curvado, etéreo, luminoso, e nos deixe as suas palavras pausadas.


É certo que já alcançou o seu desejo de lentidão clara e que avança agora, voando, a caminho do sossegado desejo de não ser nada. Mas nós, os que por aqui ficamos por mais algum tempo, iremos continuando a desfazer os nós dos nomes e aceitando a oferta nua da sua abolição, vendo as aves de sombra, sentindo o tempo a fluir sem ecos.

*

As imagens são fotografias de Steve McCurry do post Two of Us. A música é Nelson Freire interpretando Gluck / Sgambatti Melodia de Orfeo e Eurydice.


Para além do poema Agrípia, o pequeno excerto bem como as expressões em itálico são também de António Ramos Rosa e fazem parte do poema Passa uma Ave de Sombra e podem ser lidos na sua Antologia Poética (selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes).


*

Apenas para espairecerem ou para esparveirarem, ou, então, para acentuar o contraste entre um Poeta Escritor e um Valtinho, permito-me referir que, se descerem um pouco mais, poderão perceber, com provas documentais, o que é um livro muito plástico e uma utopia de purificar a experiência difícil. Admito: reincidi na desumanização. É já a seguir.

*

Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma terça feira muito simpática 
(agora que já estamos no Outono, tempo de gentilezas e suavidades)

4 comentários:

jrd disse...

(...)o poema é um sistema de nervos e de músculo / que fluem entre pausas com o veludo do seu sangue(...)

Não! o Poeta não morreu.

O Puma disse...

Há folhas persistentes que resistem

apesar do Outono

Olinda Melo disse...


Olá, UJM

Levou-me em tempos, a meu pedido, um texto seu, numa altura em que queria festejar algo no Xaile de Seda. O texto baseava-se num poema de Ramos Rosa, que adorei. Mas é a única referência dele que ali tenho...Falha minha!

'Por ti o horizonte está em casa'

Haverá declaração de amor mais completa?

Obrigada por este post.

Bj

Olinda

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,
Bonita e sentida homenagem a António Ramos Rosa. Os verdadeiros poetas não morrem!
Obrigada por esta homenagem.
Um beijinho