terça-feira, agosto 13, 2013

Depois de ter visto mais uma brilhante entrevista de Adriano Moreira na SIC Notícias (Mário Crespo à parte), o meu mea culpa.


Uma vez mais, cheguei tarde a casa e, por isso, estava a dar o telejornal das 21 quando nos sentámos a jantar. Aliás já não era o noticiário, já devia ter acabado, mas sim uma entrevista a Adriano Moreira, na SIC N, conduzida com reverência por Mário Crespo, criatura com quem não consigo empatizar tantos os deslizes para a parvoíce que já teve.


Mas também nós, de novo, nos deixámos ficar a ouvir, com deleite e em perfeita sintonia, as sábias e justas palavras de Adriano Moreira. São palavras temperadas pela experiência, pelos conhecimentos, pelo bom senso, pelo humanismo que transparece do seu semblante e das suas opiniões.

Quanto do mau que é hoje Portugal se deve ao afastamento dos órgãos de poder e decisão de gente assim, gente digna, gente séria, sabedora, humilde, generosa?



Um cipreste (Cupressus sempervirens), ao pôr do sol, in heaven,
com uma longínqua lua branca em fundo:

Para muitos o símbolo da morte,
para mim  e para outros o cipreste é o símbolo da beleza da vida,
da procura por algo que nos transcende e que não nos cansamos de procurar,
seja isso o conhecimento que não conseguimos abarcar, ou a compreensão que não conseguimos atingir,
ou a felicidade tranquila e sem mácula, ou o que for.

O cipreste começa por ser nada, é lento a crescer nos primeiros anos, mas depois lança-se ao alto, um porte erecto e digno, uma resistência e uma bravura que não se imagina numa árvore tão fina, tão alta.
Mas assim são as coisas que nascem para ser resistentes e que estão confiantes da sua qualidade e na sua genuinidade intrínseca.

Se Adriano Moreira fosse uma árvore seria um cipreste, sempre verde, sempre jovem, perene, nobre


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Música, por favor



Tempo que breve passaste (António da Silva Leite) 

in '18th-century Portuguese Love Songs', interpretação dos músicos L'Avventura London


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Transcrevo da Wikipedia alguns excertos da biografia deste homem elegante no porte, nos gestos, nas palavras.



Adriano José Alves Moreira ComC • GCC • MOSD • GCSE • GOIH (Macedo de Cavaleiros, Grijó de Vale Benfeito, 6 de Setembro de 1922) é um estadista, político, deputado, advogado, jurisconsulto, internacionalista, politólogo, sociólogo e professor. Destacou-se pelo seu percurso académico e pela sua acção na qualidade de Ministro do Ultramar durante o Estado Novo, ao abolir o Estatuto do Indigenato e ao assinar a portaria que reabriu o Campo do Tarrafal. 

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Aluno brilhante, licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1944, possuindo o doutoramento na mesma área, pela Universidade Complutense de Madrid.

Concorreu a professor na Escola Superior Colonial (actual ISCSP) aonde viria a ascender a Director. Adriano Moreira contribuiu largamente para a reforma do ISCSP e através deste para o início do estudo de ciências como a Sociologia, a Ciência Política, as Relações Internacionais e ciências associadas a estas, como a Estratégia e a Geopolítica — dando, assim, continuação ao projecto da Sociedade de Geografia de Lisboa, para a construção de uma instituição formadora dos quadros administrativos coloniais e de um projecto embrionário de escola de pensamento internacional.


Advogado, começou por ser simpatizante da Oposição Democrática na sua juventude, assinando inclusivamente uma lista do MUD, em 1945. Em 1948, foi advogado da família do general José Marques Godinho, falecido na prisão, no processo interposto contra o ministro da Guerra, Fernando Santos Costa, por homicídio voluntário, o que lhe valeu ser então preso, juntamente com a família daquele. No entanto, com o tempo, aproximar-se-ia do regime, mesmo mantendo relações de amizade com históricos oposicionistas, como Teófilo Carvalho dos Santos. Independente, foi chamado por António de Oliveira Salazar para ser subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1959, ascendendo depois a ministro do Ultramar, em 1961. Procurou estabelecer uma política reformista, abolindo finalmente o Estatuto do Indigenato, que impedia a quase totalidade das populações ultramarinas de adquirir a nacionalidade portuguesa e de usufruir do direito à educação. A atitude mais polémica de então foi a assinatura da portaria que reabriu o Campo do Tarrafal, em Cabo Verde, desta vez destinado aos presos dos movimentos de libertação das colónias. Salazar manifestou-lhe posteriormente que não podia concordar com várias das suas políticas, afirmando-lhe que mudaria de ministro se não as alterasse. Segundo conta o próprio Adriano Moreira, este então comunicou-lhe que "Vossa Excelência acaba de mudar de ministro". Manteve-se afastado da política activa durante a fase final do Estado Novo.

Regressaria à política activa no actual regime, aderindo ao CDS, e sendo seu deputado à Assembleia da República. Foi seu presidente de 1985 a 1988 e, interinamente, de 1991 a 1992.

Desempenha ou destacou-se nas funções de Professor - geralmente na área de Relações Internacionais - no Instituto Superior Naval de Guerra, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade Aberta, na Universidade Católica Portuguesa e é Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa.
É ainda Professor Honorário da Universidade de Santa Maria.

Casou-se em Sintra, São Martinho, a 30 de Agosto de 1968 com Isabel Mónica Maia de Lima Mayer (Lisboa, Mercês, 2 de Agosto de 1945) e tiveram seis filhos e filhas. 



Adriano Moreira há cerca de 1 ano, quando fez 90 anos, aqui rodeado pelos netos,
numa festa organizada pela mulher e filhos e por amigos

Notas minhas:

  • Como é sobejamente sabido, Isabel Moreira, a deputada independente da bancada do PS, é uma das suas filhas. 
  • As siglas em letra mais pequena, lá em cima a seguir ao seu nome, referem-se a algumas das muitas condecorações e distinções que tem recebido ao longo da sua vida.

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Nesta altura da vida de Portugal - em que parece que, em todos os lugares de poder, desde a Presidência da República, à Presidência do Conselho de Ministros, passando pelo Governo e por grande parte dos Deputados, impera a mediocridade, o salve-se quem puder, a indigência intelectual e moral, a impreparação, a incompetência e ignorância mais gritantes - ouve-se um homem como Adriano Moreira como se fosse uma bênção, um sopro de oxigénio, um sinal de esperança, nem sei bem dizer.


E, pensando-o, não posso deixar de me interrogar com toda a minha sinceridade: não terei também sido eu, na também minha inconsciência e ignorância que, na altura em que ele ocupava lugares políticos, não lhe dei valor, catalogando-o como um homem conservador, de direita, de alguma forma contribuindo para o seu afastamento?





Não fui eu, estúpida, mil vezes estúpida - eu e quase todos nós, impacientes, querendo o novo, a promessa de outros amanhãs,  quase todos nós estúpidos, mil vezes estúpidos - que fomos afastando toda a gente de valor que, tão abnegadamente, em tempos, tentou servir o País?

Não fomos nós, ignorantes, tolos, inocentes, cegos, que fomos deixando que sobrasse o amadorismo, a incultura, a ignorância mais primária, os expedientes, a sabujice? Não fui eu, crédula, ingénua, que facilitei a ascenção dos porcos da quinta aos lugares que agora ocupam?

Temo que sim. E só espero que não seja tarde demais. E só espero que o coração de Adriano Moreira tenha perdoado o afastamento a que foi sujeito. E que ele e outros como ele ainda estejam dispostos a ajudar-nos tal como ele faz quando, com a sua idade e serena lucidez, se dispõe a ir à televisão denunciar a estupidez que tomou conta da governação de Portugal.



Adriano Moreira,
um homem com uma coluna direita, com uma voz livre, a quem a honra assenta muito bem

***


Muito gostaria de vos ter comigo também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje, por lá, rente ao rio, uma voz cheia de silêncio desce da nuvem para que há muito subiu para me acompanhar num lamento onde os sonhos parece tererm deixado um triste vazio: Irene Lisboa. A seguir o pianista arménio Tigran Hamasyan interpreta 'What the waves brought' e a suavidade da música que se desprende dos seus dedos é um bálsamo. Apareçam...


***

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.

3 comentários:

Anónimo disse...

Comungo destes seus apreços: ciprestes e Adriado Moreira (AM), um “cipreste da política”, pela sua verticalidade.
Aqui há umas 4 semanas, comprámos (mais) um para colocar no nosso jardim, mas noutro local, pois quer o vento, que por vezes é forte, quer o ar do mar, já nos levaram os outros 3 que aqui tínhamos. Temos esperança que desta vez consiga crescer bem.
Voltado a AM, já não há quase não há políticos como ele. Olhe-se para os Partido e aquela A.R! E assim, sem os valores que ele representa, o país vai, passo a passo, cada vez mais rapidamente, degradando-se moral, social e politicamente.
P.Rufino
PS: não suporto aquele Crespo. Dissimulado, o oposto de Adriano Moreira!

Anónimo disse...

Permita-me só mais uma observação, este último capítulo, digamos, do seu post, "Nesta altura da vida de Portugal...", até "denunciar a estupidez que tomou conta da governação de Portugal" é magnífico.
Na verdade!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Oh, P. Rufino, muito obrigada!

Até fui reler para ver se concordava consigo...

E não sei, não... Soa-me a pouco... Por muito que diga, acho sempre que digo pouco.

Mas agradeço-lhe, claro.

E agora vou-me atirar outra vez a eles, estou aqui numa empreitada, esta gente tira-me do sério. Eu venho com ideia de escrever sobre coisas estivais e leves como espuma e só ouço cavaladas, não consigo ficar calada.

Até já!