sexta-feira, agosto 23, 2013

Call me Chelsea, disse Bradley, aka Breanna Manning. O heróico soldado americano que forneceu à Wikileaks milhares de documentos secretos, tendo sido condenado a 35 anos de prisão, diz agora que vai satisfazer o sonho de uma vida: fazer um tratamento hormonal e virar mulher. Isto na mesma altura em que o valentão de Prison Break, o actor Wentworth Miller, assumiu que é gay. Isto é uma coisa...! Os paradigmas a caírem todos, uns atrás dos outros. E cá em Portugal não há nenhum a sair do armário?


No post abaixo falo de outras tantas novidades nesta minha amada Lisboa: um autocarro que navega no Tejo a fingir que é um barco, um veleiro deslizando atrás de uma cerca a fazer de conta que é um brinquedo, a montra da loja da Vista Alegre decorada com paletes de madeira para se fazer passar por louça para o povo. Só visto. Já nada é o que parece ser, é o que vos digo. (De passagem digo-vos onde podem comprar peças da Vista Alegre a bons preços.)

Mas isso é a seguir. Agora, aqui, a conversa é outra: o que é, continua a não ser o que parece mas o contexto é outro. 

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Música, por favor



Oh, Billy Brown had lived an ordinary life
Two kids, a dog and the precautionary wife
While it was all going accordingly to plan
Then Billy Brown fell in love with another man

He met his lover almost every single day
Making excuses through his dodgy holiday
Unto religion that he said he newly found
They didn't know that his faith was earthly bound


(Parte da letra da canção Billy Brown do Mika)


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Bradley Manning, Wentworth Miller: duas revelações surpreendentes quase em simultâneo. 


Nada a ver, cada um é como é. A questão é que, com isto, a gente confirma que grande parte das vezes as coisas não são o que parecem. 

Temos que admitir que nisto da sexualidade não é preciso os homens serem umas bichas histéricas, tal como as mulheres não têm que parecer umas sapatonas, para que sejam, de facto, homossexuais.

Quando faço as minhas longas caminhadas na praia, para não andarmos no meio da multidão, costumamos andar em direcção aos locais com pouca gente, onde a praia é mais selvagem.

Aí vamos passando da zona da multidão, para a zona em que as pessoas estão mais espaçadas, depois para a zona dos casais hetero nudistas, depois para a dos casais homo nudistas, depois para a do engate gay nas dunas até que nos começamos a aproximar de outra praia e a coisa segue o percurso inverso. Nessa zona intermédia a gente pode constatar que, se há os gays abichanados, autênticas malucas uns, autênticas prostitutas outros (vêm das dunas para se porem de cócoras à beira de água, a lavar o rabo no maior dos à-vontades, uma coisa que me faz um bocado de impressão, acho vagamente deprimente), há os que são discretos, homens machos, de aspecto tão viril como o mais hétero dos meus leitores. E, no entanto, é vê-los in love uns com os outros.

Claro que, no dia a dia, longe do recato de praias quase desertas, há aqueles que, sendo homossexuais, o disfarçam. Um amigo meu conhece muito bem e jura a pés juntos - e sabe porque sabe - que um conhecido machão da nossa praça, um dos actores mais requisitados para galã nas telenovelas, é gay todos os dias. E, no entanto, ninguém o tomará por tal e até aparece nas capas de revistas sempre com namoradinhas. A ser verdade, e admito que o seja, vá lá saber-se porque não se assume. Se há coisa que custa a entender é porque é que uma pessoa opta por viver uma vida de mentira em vez de aceitar as consequências. Até porque, de facto, quais são as consequências? Censura? Ora... Quando alguém assume com orgulho a sua condição, toda a gente respeita.

Claro que ser homossexual não é a mesma coisa que querer ser de outro sexo mas, ainda assim, fiquei surpreendida nos dois casos.



Denunciou abusos, entregou documentos incómodos, não receou as consequências:
eis o valente soldado Manning



Vejamos o que disse Bradley, isto é, Chelsea (anteriormente, usava o nickname Breanna), que surpreendeu tudo e todos quando o advogado leu uma declaração sua. Passo a transcrever do Expresso:

No comunicado, intitulado "a próxima etapa da minha vida",  Manning começa por agradecer todo o apoio recebido nos últimos três anos, depois de ter fornecido milhares de documentos top secret à Wikileaks em fevereiro de 2010, traição pela qual foi julgado e considerado culpado.



A surpresa ficou reservada para o segundo parágrafo da missiva. "Enquanto faço a transição para esta nova fase da minha vida, quero que todos conheçam o meu verdadeiro eu. Eu sou Chelsea Manning. Eu sou uma mulher", diz o soldado de 25 anos.


"Dada a maneira como me sinto, que sempre senti desde a infância, quero começar uma terapia de hormonas o mais cedo possível. Espero que me apoiem nesta transição. Peço também que, a partir de hoje, se refiram a mim pelo meu novo nome e usem o pronome feminino (excepto em correio oficial para o estabelecimento prisional). Estou ansioso por receber cartas de apoiantes e ter a oportunidade de escrever de volta", explicou, assinando a carta como "Chelsea E. Manning".


Leio isto e fico perplexa. Mas depois penso: perplexa porquê? Porque um rapaz de 25 anos, numa situação destas, sob pressão, condenado a 35 anos de prisão, resolve viver a sua vida tal como a sua própria natureza o exige? Se é o que ele sente, então é natural que o faça e só temos que aceitar sem perplexidades.

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Por seu lado, o actor e guionista Wentworth Miller, um dos protagonistas da série norte-americana Prison Break, assumiu ser gay numa carta na qual se recusou a participar no Festival Internacional de Cinema de São Petersburgo, na Rússia, onde foi recentemente aprovada uma lei que é vista como atentatória à liberdade dos homossexuais. 




Wentworth Miller com uma das suas várias pretensas namoradas


Passo também a transcrever excertos do artigo do Expresso:

Primeiro saiu da prisão, depois saiu do armário. O ator norte-americano Wentworth Miller, mais conhecido como 'Michael Scofield', a personagem principal da série 'Prison Break', assumiu-se hoje como homossexual, em resposta a uma lei russa que está a criar polémica mundial por limitar os direitos dos gays.



O anúncio de Wentworth Miller surgiu em forma de carta, divulgada pela GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation, organização de defesa dos direitos dos homossexuais). 


"Agradeço o convite amável. Como alguém que já visitou a Rússia no passado e que tem história familiar relacionada com o país, ficaria muito feliz por aceitá-lo. Contudo, como homem gay, tenho de recusá-lo", escreveu o ator.

"Estou profundamente perturbado pela atitude e pelo tratamento que o Governo russo tem dado aos homens e mulheres homossexuais", explicou. "A situação não é aceitável de forma alguma e não posso, em consciência, participar num evento de celebração organizado por um país onde pessoas como eu vêem limitado o seu direito básico de viver e amar livremente".


Depois de andar anos a aparecer nos media com supostas namoradas, eis que o jovem bonitão, de aspecto viril, discreto, sóbrio, nos vem também surpreender. E fê-lo com coragem e dignidade. 

Pode ser que sirva de exemplo para os homens portugueses que, sendo também homossexuais, não ganham coragem para sair do armário, preferindo viver uma vida de faz de conta. Opções.


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Relembro o post a seguir a este com outros desafios às convenções (o Hippo, um veleiro, a loja Vista Alegre armada em loja de pobrezinhos.... - estou a brincar!) e com uma dica amiga para boas compras a melhores preços.

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E por hoje, por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira. 

Nota: 

Vou ter outro fim de semana dos antigos, com confusão e animação qb chez moi. Por isso, não estou certa de que consiga ter tempo ou cabeça para escrever aqui alguma coisa. Tentarei, vocês sabem que sim, mas não posso prometer nada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Alguém sabe se é verdade que ele estaria namorando um rapaz brasileiro? Guilherme Veríssimo é o nome dele e do RS. Vi comentários a respeito em alguns sites mas a princípio são apenas rumores.

Anónimo disse...


Faz bem não ir à Rússia que eles são malucos. Aliás ir à Russia hoje em dia é meio caminho para a morte.

Anónimo disse...

Queria ser homem numa situação dessa kkkkkk