quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Que se lixe a troika? Não sei (e explico porquê). Mas que queremos as nossas vidas de volta, isso eu sei. E, por isso, no dia 2 de Março lá estarei. O povo é quem mais ordena! e é bom que ninguém se esqueça disso.








Já quando foi a manifestação do 15 de Setembro hesitei: que se lixe a troika?! Fui mas não fui por isso, pela troika em si, fui por indignação geral contra esta estúpida austeridade em tempos de regressão económica, contra a subordinação dos interesses do desenvolvimento humano e social aos interesses difusos da especulação financeira, contra a incompetência, contra a ignorância e a larvar submissão deste governo perante funcionários administrativos.

Ou seja, não me manifestei para pedir a expulsão da troika mas, sim, para que o Pais dissesse ao FMI, ao BCE, à EU, ao Presidente da República, à Assembleia da República e ao Governo que não somos um rebanho de submissas ovelhas que possam ser usadas e abusadas por quem quer que seja. Para dizer que neste país há um povo que tem orgulho na sua autonomia e não se verga aos primeiros badamecos que atentem contra o seu orgulho e determinação.

É que é, para mim, muito claro que, no imediato, ainda precisamos do apoio da troika. Mas, alto lá!, não temos que nos pôr na humilhante posição de mendigo que, de mão esticada, tudo aceita. Não somos mendigos. E, todos juntos, de pé, de peito feito, temos força mais do que suficiente para nos afirmarmos como povo autónomo, capaz, livre.

Por isso, para ajudar a afirmar isso, lá estarei também este sábado. Por estes dias, as ruas são do povo e nossos são todos os anseios e todos os caminhos.


Em termos práticos o que é que eu penso que deveria ser e resultar desta manifestação?


De forma ligeira e, claro...!, sem pretensão a ser exaustiva, isto é o que, em traços largos, penso:


1. A manifestação deveria ser um mar de gente, gente de todas os extractos sociais, de todas as idades, de todas as profissões, desempregados, pensionistas, estudantes. Uma multidão francamente representativa de toda a população.


2. O governo deveria ter a inteligência e a dignidade suficientes para retirar conclusões desse facto.

Contudo, dado que já mostrou à saciedade que isso são conceitos que lhes são estranhos, presumo que vá limitar-se à vitimização do costume.

Face a isso, acho que o Presidente da República deveria ver-se forçado a agir. Deveria demitir este bando de incompetentes e formar novo governo, ou no quadro dos resultados das anteriores eleições mas sem incluir os actuais protagonistas (estou em crer que, perante isso, Passos Coelho se demitiria abrindo lugar a outra gente mais capaz), ou, se não conseguisse formar um governo capaz, deveria convocar eleições antecipadas. Qualquer coisa será preferível a deixar o país entregue a esta gente que é muito perigosa.


3. Um novo governo deveria negociar um outro programa de entendimento com a troika (que passaria forçosamente pela redução das taxas de juro e do tempo de amortização da dívida) e isso deveria ser uma das componentes do seu programa de governo, uma mas não a única!, um programa que deveria ter como pressupostos e objectivos os seguintes:

  • o mais importante de tudo são as pessoas; 
  • pessoas honestas não deverão ser obrigadas a empobrecer ou a emigrar; 
  • um país é viável se tiver pessoas felizes e motivadas; 
  • para tal as pessoas devem ser chamadas a participar no crescimento do seu país; 
  • um crescimento sustentado é o que assenta no conhecimento e na inovação; 
  • para isso é vital a dignificação do ensino; 
  • etc. 


E, assim sendo, o programa do futuro governo deveria ser:

   a) um programa que contemple as reformas estruturais necessárias (grande parte das que constavam do memorando inicial eram boas reformas) mas a serem executadas num prazo mais longo e com as pessoas (não contra as pessoas);

  b) um programa que contemple um conjunto de medidas de desenvolvimento, nomeadamente o lançamento de contratos programa de investimento para relançamento imediato mas sustentado da economia e que abranja todo o território (reabilitação urbana de pontes e viadutos,de  edifícios públicos, da malha urbana, etc; construção, equipamento e colocação em funcionamento de residências assistidas para a terceira idade ou para doentes em recuperação, centros de dia, creches, espaços para tempos livres; forte dinamização cultural como fonte de criação de emprego e atracção de turismo externo e interno; forte dinamização do turismo em geral; forte aposta na investigação ligada a sectores estratégicos – medicina, mar, novos materiais; reindustrialização em sectores viáveis, de preferência numa lógica de cluster, mesmo que não em sectores tradicionais; etc; etc, etc)

   c) um programa que contemple a captação de investimento incluindo investimento estrangeiro e fundos estruturais

   d) um programa que contemple a dinamização da análise do sistema político (dado que o actual, nos presentes moldes, notoriamente deixou de ser representativo)

   e) um programa que contemple o reajustamento do sistema fiscal por forma a torná-lo justo e equitativo

   f) um programa (prioritário!!!!!!) que contemple medidas de rápida inversão da tendência demográfica

   g)  ....


Parece simples demais? Não é: parece mas não é. É um conjunto de ideias honestas, exequíveis, articuladas e que, de certeza, desde que bem planeadas e coordenadas entre si, conduziriam a um futuro viável e digno para todos.

Daria muito trabalho? Ah, claro que daria mas, motivados, convencidos, determinados, seríamos capazes de levantar o País das trevas para onde o querem atirar.


Como agora estamos é que não. Recordo um pequeno poema de Carlos de Oliveira:

Terra
sem uma gota
de céu

Assim está Portugal agora.

E, por isso, no próximo sábado, dia 2 de Março, estarei na rua, tentando juntar a minha voz a todas as que, como eu, acharem que há limites para tudo e que, com este governo, esses limites há muito foram ultrapassados.

Portugal tem que ser dono do seu destino, tem que garantir que os portugueses têm uma palavra a dizer e que o futuro do País passa pelo futuro dos Portugueses.

Enquanto puder, lutarei para que o meu país seja uma terra abençoada pelos céus.





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Sobre o coelho enforcado é descer um pouco mais, por favor. Um coelho enforcado besuntado pelas 'espumas dos dias' é o que podemos esperar do fantástico PPC. Não é grande coisa, convenhamos.

*

As duas músicas, escusava de o dizer, são duas canções e interpretações de José Afonso (gosto dele desde sempre, não é de agora, aliás, cá em casa, gostamos os dois; o meu marido, que tem uma memória de elefante, deve saber todas as suas canções de cor; e lembro-me tão bem de ver o Zeca, furtivo, a espreitar à porta de uma certa sala).

*
E, se quiserem vir comigo até ao meu espaço zen, o Ginjal e Lisboa, eu ficaria muito contente. Hoje as minhas palavras metem as mãos por baixo das pernas gulosas de um touro arrogante e malvado, seguindo o guião de Carlos de Oliveira. A música é mais uma grande interpretação: desta vez Rostropovich junta-se a Martha Argerish e tocam uma música imprevista.

\\\\////

E tenham, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira!


7 comentários:

JOAQUIM CASTILHO disse...

0LÁ UJM

DIA 2 LÁ ESTAREI!

UM ABRAÇO

Silenciosamente ouvindo... disse...

Também lá estarei, apesar das minhas
limitações de saúde. Os jovens deveriam estar em massa. Mas precisamos como diz de todos.
Subscrevo totalmente o seu post.
Beijinhos
Irene Alves

Anónimo disse...

Também gosto bastante do Grande Zeca ("Eles comem tudo e não deixam nada", esta canção dele até vem a propósito, para os tempos de hoje!).
Oxalá que se junte tanta gente como no passado dia 15 de Setembro!
P.Rufino

Anónimo disse...

Por lapso e na pressa não referi o conjunto de boas soluções por si apresentadas, que subscrevo.
P.Rufino

jrd disse...

Seremos muitos. Seremos alguém!
Ainda que longe, nesse dia irei desmultiplicar-me na multidão.
Abraço

Anónimo disse...

Olá UJM,

Eu também vou.

Também fui em 15 de Setembro e fui com a família e com amigos.

Agora vou com a família, por mim, por ela e pelos amigos que não podem ir porque emigraram.
Amigos na casa dos 40/50, engolidos por despedimentos colectivos e afins.
Alguns vivendo com a ajuda financeira dos pais de 70/80 anos.

Amigos com vidas despedaçadas.
Alguns são números de estatisticas de desemprego outros nem isso.

Amigos e conhecidos que omitem as habilitações académicas para aumentarem a possibilidade de conseguir trabalho.

Amigos que deixaram filhos e vidas para trás e dormem agora em sofás de casa alheias, por essa Europa fora, tentando recuperar alguma dignidade, juntar os cacos de vidas que tiveram.

Acredito que dia 2 o povo mostrará, de forma inequívoca, que é quem mais ordena.

E também quero a minha vida de volta.

Olhe, vou até ao Ginjal! Preciso de ar puro para respirar fundo.

Um beijinho,
MJ

Tété disse...

Então vamos lá juntar mais uns quantos cá de casa.
Vou eu e o meu marido na esperança de que possamos fazer mais uma vez eco da revolta de nos continuarem a sacar o nosso dinheirinho das reformas.
Vai o meu filho que não querendo emigrar, continua a estudar, curso após curso, para tentar ver uma luz que lhe ajude a sustentar a família no país onde nasceu. Aulas que dava na Católica foram anuladas porque o curso de Engenharia Biomédica naquela universidade acabou. Pense-se ainda, para além dos professores, a recibo verde, claro, no que sentiu cada um dos alunos que investiu naquele futuro.
Vai o meu neto, porque o pai quer que ele se comece já a aperceber de que o povo se sabe e se pode manifestar quando vê os seus direitos em risco.
Enfim, vamos todos encontrar-nos com a certeza de que se muito não conseguirmos, pelo menos fazemo-nos ouvir e nada calará a revolta de um povo contra uma austeridade de um governo incompetente mas que não deixa de olhar para o seu umbigo,continua a roubar aos que trabalham e continua a tapar os buracos daqueles que os fizeram e vivem à grande rindo-se dos palermas que nós somos.
Pode ser que nos encontremos.
Beijinhos