Aqui onde estou está frio, húmido. Quando há pouco cheguei ao hotel estava uma noite agradável, uma névoa fresca, daquelas noites em que é agradável uma pessoa perder-se na noite, sair a passear pela beira do rio (aqui também há um rio) e deixar-se ir, sem saber por onde, deixar-se ir apenas.
Mas não fui. Para isso teria que ter quem depois me trouxesse de volta e me trouxesse abraçada porque a noite está fria para se andar sem um aconchego nos ombros, sem uma palavra quente nos ouvidos.
Vim, portanto, para o quarto e aqui estou. Estou a ouvir o noticiário da meia noite e meia. A mesma tourada de sempre. Neste momento ouço que apenas um interessado se confirma na privatização da TAP. Em qualquer parte do mundo decente, alguém que estivesse a negociar com apenas um interessado, desistiria da venda. Aqui não, vai-se em frente.
Ouço também que o Gaspar-não-acerta-uma, quando foi ter uma reunião com os deputados para lhes explicar a orgia fiscal, levou quadros que tinham os cálculos engatados. Olha! Qual o espanto? Já houve alguma vez em que ele tivesse acertado?
Mas não me apetece falar de nada disto. Tretas, amadorismos, parvoíces.
Só que não estou com grande cabeça para escrever sobre outras coisas. Poderia falar da Sylvia Kristel mas também não quero. Há uns anos li a sua autobiografia e fiquei com muita pena. Alguém que em tempos víamos como uma mulher tão sensual e tão cheia de uma luminosidade inocente e, afinal, teve uma vida tão sobressaltada, fez más escolhas, foi infeliz. E depois foi a doença. Fico com pena. Mas não quero agora falar de coisas que não têm remédio e que me dão pena.
Também não tenho aqui os meus livros nem as minhas fotografias. Por isso, vou aqui apenas colocar um vídeo com um grupo de que gosto bastante, o Quixotic Fusion, gente que dança com luzes.
Mas está mesmo a apetecer-me poesia. Fui à procura e encontrei esta que me apetece ouvir. A Trova do vento que passa, porque É preciso um País. É a voz do poeta diseur Manuel Alegre e a guitarra de Carlos Paredes.
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E nada mais que daqui a nada tenho que me estar a levantar para mais um dia intenso.
Tenham, Meus Caros, uma bela sexta feira!
3 comentários:
Amiga:
Tão tristemente actual, esta poesia.
Mas tenho esperança, que haja alguém a dizer NÂO!
Abraço
Mary
E que poesía!
Sabe?! Fiquei comovido. Eu que tenho passado os dias a perguntar "à distância" notícias do meu país.
Abraco
Por vezes a melancolia também é bela! É o caso deste texto manso e belo! Obrigada!
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