quinta-feira, outubro 18, 2012

Não quero ser cozido em lume brando, diz Passos Coelho. Paulo Portas mantém o silêncio, agora deu nisto. De que é que Cavaco Silva está à espera, alguém me diz? Que as pensões de reforma acabem já daqui por um ano ou dois, em vez dos 7 (sete!) de que agora de fala? Não achará ele que a situação de alarme social já justifica a sua intervenção?


Não consigo perceber como podem pessoas que considero inteligentes ser tão crédulas. Quando as ouço dizer que o pior que nos poderia acontecer seria haver uma crise política fico perplexa. 

Mas isto que estamos a viver não é uma crise?! Uma crise terrível?! (ia dizer uma crise do caraças mas arrepiei caminho para manter a elegância do discurso).

Um País entregue a um grupelho de incompetentes, impreparados, gente esquisita, inculta, gente que se rodeia de assessores da mesma raça...  isto não é, em si, um autêntico drama?

Será normal a situação que atravessamos com o Primeiro Ministro a dizer que não quer ser cozido em lume brando? E ainda o divórcio não aconteceu e já ele anda a fazer ameaças que, se houver novo resgate, a culpa é do outro? E, repare-se, o outro não é um qualquer, o outro é um Ministro de Estado, o líder do parceiro de coligação. 

E ainda andamos nós amedrontados com as ameaças fiscais que ouvimos da boca de um esgazeado e só damos com notícias destas na comunicação social? Que espírito de confiança esta gente nos pode inspirar, senhores?!

Então isto não é crise? Com a relação neste ponto, é esta gente capaz de governar em conjunto? Claro que não.

E o Portas? Em silêncio. Talvez num convento, em meditação. Talvez a ensaiar nova rábula (se me perguntarem se gostei, não, não gostei, se me perguntarem se fui eu que quis, não, não quis). Mas é lá isto atitude de um Ministro de Estado? Ou quer ou não quer. Se não quer, salta fora. Se não quer saltar fora, então fique dentro e aguente.

Como é óbvio, com tanto tacticismo, Portas não apenas está a destruir o CDS como está  a dar cabo da sua própria carreira porque, depois disto, quem é que vai voltar a olhar com ele com tolerância? Mais uns dias desta fita e Paulo Portas é carta fora do baralho.

Mas imaginemos que, tal como aqueles casais que não dormem juntos, que fazem apenas uma vida de faz-de-conta, aqueles dois conseguiam manter-se no Governo. Suponhamos ainda que Passos Coelho fazia uma remodelação. Será essa uma solução?

Claro que não. Nestas coisas não pode haver relações de faz de conta. A situação política, económica e e social é tão grave que requer que, à frente dos destinos do País, esteja um grupo de gente coesa, firme, solidária entre si. 

E pode um governo remodelado ser melhor do que o anterior quando o principal problema reside na nula qualidade do líder, ou seja, do primeiro-ministro? Impossível.

A situação do País é da responsabilidade de Passos Coelho. Não apenas é impreparado, incompetente, como apresenta graves lacunas em áreas em que devia ser forte e, além do mais, tem também evidenciado um carácter que levanta muitas dúvidas. A forma como, na Assembleia da República, se riu de Paulo Portas deixa-me muito apreensiva. Há ali um despudor que incomoda, uma maldade velhaca. Paulo Portas estava a ser confrontado com as suas própria palavras, estava a ser humilhado em público, e Passos Coelho e Relvas a rirem-se de uma forma tão feia.

E se eu estou sempre a bater nesta tecla não é (apenas) por uma embirração minha porque, se eles não fizessem mal ao País, eu estar-me-ia nas tintas para eles. Não gosto deles, é um facto, mas como não tenciono casar-me com nenhum deles, nem casar a minha filha com nenhum deles, nem estabelecer amizade com nenhum deles, bem poderiam estar onde estão que me seria indiferente. 

Mas o drama é a razia que aqueles sujeitos estão a fazer. Roubam-nos e roubam-nos à grande e à francesa, roubam-nos muito mas, mais grave, roubam-nos para nada, apenas para agradar aos mercados, pois, de resto, a estupidez é tanta que tudo o que fazem só agrava mais os problemas. É que, oh senhores, aqueles sujeitos têm um tipo de estupidez destrutiva. Destroem empresas, destroem empregos, destroem vidas, destroem esperanças e, claro, com tanta destruição, destroem também o futuro.

Já aqui o tenho referido: um dos mais graves problemas do país é a sua demografia. Quase toda a política pública deveria assentar numa matriz de linhas orientadoras que apontassem no sentido da inversão da tendência demográfica actual.

Um país sobrevive se houver regeneração. Ora não está a haver ao ritmo que deveria. As pessoas vivem (felizmente) até muito mais tarde mas nascem cada vez menos pessoas - e isso desequilibra tudo, isso é dramático.

O que alimenta os pagamentos das pensões são os novos descontos. Ou seja, o direito a receber constituiu-se com os descontos efectuados mas o dinheiro que cada um recebe não é, claro, fisicamente o mesmo que, anos atrás, se descontou. O dinheiro não está fechado num cofre à espera que o seu dono atinja a idade de o receber. Não. À medida que entram os descontos, sai logo para fazer face aos pagamentos. E isto deve estar sempre equilibrado e equilibrado de uma fora sustentada. Ora, quando há cada vez menos pessoas jovens a entrar no mercado de trabalho, cada vez mais desempregados (que em vez de contribuírem com os seus descontos, estão é a receber contribuições), cada vez mais gente a sair do país, então aí a situação começa a ser alarmante. E isto é também um círculo vicioso que anda em paralelo com o círculo vicioso da recessão pois, quanto mais as coisas se agudizem, menos casais se aventuram a ter filhos, e quanto menos jovens, menos dinheiro novo entra no sistema e mais os idosos estão desprotegidos e dependentes e, nesta situação, menos as pessoas procriam e .... (é infernal). 

Já uma vez expliquei que o risco maior dos círculos viciosos (que são o oposto dos círculos virtuosos) é que, quando a coisa se agrava, mais consequências nefastas provoca, as quais, por sua vez, causam outras igualmente más e, às tantas, começa a haver uma tal frequência de 'coisas' más, que a aceleração conduz a uma espiral e, quando se entra em espiral, é difícil parar ou controlar os efeitos. 

Uma política inteligente que tenha em vista todas as componentes da coisa pública, considerará que a subida do desemprego é em si um mal tão mau que deve ser evitado a todo o custo (ao contrário do que acontece na actual política de Passos Coelho e Gaspar que centraram a acção no combate ao défice, secundarizando, por completo, a desgraça do desemprego). Um país com uma demografia esgotada, com muitos velhos e poucos novos, com uma economia diminuta e desprotegida, com os cidadão expostos a um saque fiscal, sem excedentes monetários, é um país condenado. Daí à perda de soberania é um ápice. E digo isto fazendo de conta que não percebo que o que, de facto, nos resta de soberania é muito pouco. Quando estamos à mercê de uns funcionários de bancos (BCE e FMI) ou de uns burocratas não eleitos (os técnicos da UE) que por aí entram de pasta na mão e a quem prestamos vassalagem como escravos, quando temos as grandes empresas nas mãos de estados estrangeiros, quando seguimos servilmente as políticas fundamentalistas de uma gorda alemã, poder-se-á ainda dizer que somos donos da nossa soberania?

E como é que ainda se está a aturar criaturas como o deputado Amorim, o avençado Borges e outros que tais, que não têm a mínima noção de quais as vertentes em jogo quando se governa um País, ou a pretender que estes mesmos incompetentes que estão a conduzir o País a um buraco sem saída continuem por lá a governar? Como?!

Deveriam ser corridos, corridos de vez, corridos para muito longe daqui. 

Quando deixar de haver dinheiro para pagar pensões aos reformados, subsídio de desemprego aos pobres que caírem nessa desgraça (e quem é que pode julgar-se imune a isso?), como é que é? 

É algum destes incompetentes que vai aparecer a resolver o problema? 

Claro que não, a essa hora já estão a trabalhar nalguma empresa angolana, brasileira, chinesa ou colombiana.

Por isso, a urgência número um é correr com estes. E, acto contínuo, aparecer um governo em funções, com gente capaz aceite pelos partidos - e era a tratar disto muito a sério que Cavaco Silva já devia estar há muito tempo e vez de andar a escrever posts no facebook.

E, ao mesmo tempo, dever-se-ia estar a tentar captar a atenção de países onde há gente séria à frente para nos defender, para contrariar as directrizes hegemónicas da Alemanha. Não era isso que o Ministro dos Negócios Estrangeiros devia andar a fazer em vez de estar fechado a fazer birras? Justiça seja feita a António José Seguro que, ao menos, isso tem andado ele a fazer. Hollande pode não ser um génio ou não ter uma imagem extraordinária mas as suas palavras foram ontem de grande importância, ao dizer que está na hora de aliviar o garrote da austeridade e ao salientar que a culpa desta situação não é dos portugueses. (Aqui entre nós que ninguém nos ouve: sabemos que em parte até é mas, meus caros, a fatia de leão do buraco não é mesmo da nossa responsabilidade, pelo menos não é da grande maioria de nós).

E, depois, o novo Governo tem que apostar todas as fichas no crescimento, no desenvolvimento, na restituição da esperança e da confiança, tem que atrair investimento estrangeiro, tem que atrair emigrantes (para virem fazer descontos para a nossa Segurança Social), tem que estimular a natalidade. 

Só com uma política assim, pela positiva, com crescimento, conseguiremos pagar dívidas, controlar o défice,  garantir a soberania, assegurar uma vida digna aos portugueses.

*

PS: Só uma coisita mais de que agora me lembrei. Acho sempre uma graça enorme às palavras que as pessoas escrevem no google e a partir das quais vêm parar ao Um Jeito Manso. Para quem não sabe, o autor do blogue tem estatísticas que dizem o número de visitas, o país, as mensagens mais vistas e, também, as ditas palavras.

Muitas vezes fico surpreendida como é que, escrevendo aquilo, vêm cá dar; mas vêm e são muito bem vindas.

Hoje, tal como geralmente, tinha algumas engraçadas. Ora vejam:

'Passos Coelho não tem vergonha'

'Quem é a mulher de Vítor Gaspar?'  (aliás, esta é recorrente; até eu já estou curiosa)

'Imposto às lágrimas'

'Teresa Caeiro hot'

'Passos e Relvas riem à porco' (aliás, nos últimos dias têm aparecido muitas variantes desta)

...
*

Já passa das 2 da manhã e amanhã vou ter um dia em cheio, fora, reunião todo o dia que se prolonga por sexta feira (aliás, não sei se de noite conseguirei aqui voltar, vou tentar mas não prometo). Por isso, hoje não há nem imagens, nem música, nem gracinha nenhuma. Nem, sequer, revisão. Tenho que me ir deitar que daqui a nadinha tenho que estar a pé.

*

Ainda antes de me despedir, gostaria de vos convidar a darem uma esticadinha ali até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje passeio pela beira do rio enquanto procuro (e encontro!) anjos, e vou na companhia de um belo poema de António Ramos Rosa. A música é ainda de Franz Biber.

**

E tenham, meus Caros Leitores, uma quinta feira muito feliz. Tentem, pelo menos, divertir-se, está bem?

5 comentários:

Anónimo disse...

Cara UJM,
Tem toda a razão, vivemos um período de farsa na história do país, protagonizado por péssimos actores,uns loucos, uns oportunistas, e incluo aqui décadas de governação. Mas o pior de tudo é que dado o estado a que o país chegou, a essa governação, foram chamados um bando de rapazolas, incompetentes e sem capacidade sequer para dirigir uma micro-empresa, muito menos um país em tal estado de aflição. Depois, não possuem nem ética nem moral, como já provou o alienado que está nas Finanças, que se rodeou de consultores e "avençados", cria agências para a gestão da Tesouraria e Dívida Pública, nomeando presidentes e vogais que vieram da Morgan Stanley ou do BPI, e se recusa a divulgar o quanto essa gente está a "custar" ao país e à própria Dívida que, sendo assim, ainda ficará mais agravada, mas não manifestando qualquer pudor por sacrificar, atirando para a miséria pessoas que ganham 600€ mensais. E são milhões em salários e avenças que estão a delapidar com gente cuja única ideia que têm ou dão, é a extorsão violenta de todo um povo. Estes rapazolas,não têm, igualmente, qualquer ideia para o futuro do país que deixarão destruído depois da sua passagem. Mas que lhes interessa? Por essa altura, estarão eles, algures, fartos e cheios à custa do infortúnio que provocaram. Como outros, antes destes.
Ontem, por acaso, o tema que ocupou o jantar aqui em casa, foi exactamente o tema da "demografia", que tão bem analisou. É demasiado preocupante e parece que ninguém o está a ter em conta e a avaliar as consequências.
Também não entendo Paulo Portas. A crise é total, e deveria bater com a porta a este OE como lhe pedem os militantes do CDS. Basta ir ao FB à página do partido.
Quanto ao Presidente desta triste república, nada a esperar de bom que dali saia porque de Cavaco apenas sai malefício. Além de ser um homem demasiado comprometido nos seus interesses pessoais, "familiares" e outros, para agir a favor da pátria. A conjugação dos poderes é dramática para Portugal. Sobre um homem que no mais alto cargo da nação, aceita hastear a bandeira nacional, de pernas para o ar, sem interromper a cerimónia, está tudo dito. Sobre um homem que se fecha num pátio para celebrar a república de que é presidente, também. Sobre um homem que prossegue um discurso, anódino, enquanto uma cidadã clama e grita a sua indignação e é expulsa ao empurrão, aí , é de verme. Tudo isto, representa um infortúnio para a solução que necessitamos urgentemente.
E finalmente, este alarme todo sobre a crise na coligação, é uma coisa que deixa o PSD apavorado, pois não quer estragar o arranjinho que já tinham feito nas privatizações que aí vêm. Estava a correr-lhes tão bem, vinha aí tanto dinheiro para tanto bolso... Tanta negociata. E depois da venda total, do esbulho vergonhoso, da pobreza e da miséria devidamente instaladas, até podiam dizer, de lá onde estivessem: "Que se lixe Portugal". Cambada de gente odiosa que merece o repúdio e o desprezo de todos nós. E antes que nos chegue, o desespero.
As melhoras, minha Cara.
TBM

jrd disse...

Deu gosto ler. Um texto implacável, como só poderia ser, para a gentalha a que se refere.
Um abraco

Um Jeito Manso disse...

TBM, grande mulher!

Sempre que vou começar a escrever a resposta só me ocorre dizer isto: grande mulher!

Dá gosto ler o que escreve. É leitura de um só fôlego, é lucidez, é raiva, é desilusão, é força.

E é isso tudo que diz, TBM. A qualidade vai caindo e nós vamos aceitando, de Cavaco em Cavaco, de Jotas em Jotas, de ignorantes em ignorantes, o povo português vai aceitando que tudo o que é bicho careta entre nas listas que vão a eleições. E vamos vendo deputados, ministros, secretários de estado que são de uma indigência intelectual, ética, cultural, que é de dar dó. Mas fomos aceitando tudo.

Até que chegámos até aqui, a este ponto miserável.

Não sei como vamos sair disto. É que nem um PR em quem se possa confiar a gente tem.

Estou agora no hotel onde estou a ouvir o Lobo Xavier na Quadratura do Círculo e fico perplexa com o que ele diz do Governo, diz pessimamente, tem a pior opinião possível do Passos Coelho, do Gaspar. Como pode o Paulo Portas estar a fazer o que está, só meias tintas, todo ele inconsequente? Eu também acho que a maioria do CDS está furiosa com este governo mas, a verdade, é que o CDS faz parte deste governo de ignorantes.

É que as consequências de tanta incompetência são graves, muitas serão, até, irreversíveis.

Nota: Já estou praticamente curada da constipação. Obrigada.

Um abraço, grande mulher de armas, TBM!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Muito obrigada.

E sabe que quando estou a escrever estou sempre com o travão às quatro rodas? Dou por mim e só me dá vontade de me exprimir como uma mulher do norte... mas, como não sou, lá volto atrás e apago algumas palavras, lá arredondo as esquinas. Enfim, esta gente tira-me do sério, é o que é...

Muito obrigada, jrd, e um abraço!

Anónimo disse...

Ao Pedro, eu cozia-o em lume bem alto. Ou então fazia-lhe como um peito de pato que costumo por vezes, entre amigos, cozinhar no forno (envio-lhe a receita depois), bem assadinho, de ambos os lados e em vez de o regar com Cognac, como faço com a ave, regava-o em algo mais explosivo para ter a certeza que ficava bem assado, ou cozido, ou o que fôr!
Passos não tem vergonha? E ele sabe o que é isso? Um pouco como a “palavra-de-honra” de tempos idos.
A mulher de Gaspar tem as seguintes iniciais: O (de Omessa!), E (de Economia) e, não me perguntem porquê, em vez de Apelido tem um número, o 13 (talvez para dar azar – e vai dar, podem crer!).
Teresa Caeiro Hot...dog?
“Passos e Relvas riem à porco” – não ofendamos os porcos. E então o porco preto menos ainda!
“Imposto às lágrimas”- já secaram, tal como os bolsos dos contribuintes.
Boa noite! E bom fim de semana!
P.Rufino