Música, por favor
José Afonso - Os vampiros
Quanto mais se deve, mais crédito se tem; quanto menos credores se têm, com menos recursos se pode contar.
Quem não consegue crédito inevitavelmente entra em falência, mas quanto mais crédito se faz, mais dívidas se conseguem, e quanto mais dívidas, mais negócios, quanto mais negócios se fazem, mais dinheiro se ganha.
Contrair dívidas com quem não possui o suficiente implica incrementar a desordem, multiplicar a infelicidade. Por outro lado, dever dinheiro a quem o tem em demasia significa precisamente o contrário, compensar a miséria, e contribuir para restabelecer o equilíbrio social.
Como é sabido, a situação brilhante de um Estado está em directa relação com o montante da sua dívida (por exemplo, Inglaterra!).
É melhor dever cem mil euros* a uma só e mesma pessoa do que dever mil euros a mil pessoas ao mesmo tempo.
Entre os que têm dívidas, só aqueles que cometeram o erro de começar a pagá-las acabaram na prisão.
«... O que está no bolso dos outros estaria muito melhor no meu! ... Afasta-te para eu poder sentar-me no teu lugar!...» Em poucas palavras, este é o princípio básico de toda a moral.
Lamentavelmente, existe um preconceito fortemente enraizado, segundo o qual, mais tarde ou mais cedo, não há outro remédio a não ser pagar as dívidas. E isto é o que leva os consumidores à perdição. Pois, a partir do momento em que começam a pagar, desaparece o crédito. Por isso, comece por não pagar a ninguém. (...)
Existem (...) maneiras de pagar ou amortizar as suas dívidas. A saber:
. Através de pagamento. É sem dúvida o modo mais simples de as eliminar; se quiser este método, (estes conselhos) tornam-se inúteis.
. Convertendo uma ou várias dívidas numa ou várias diferentes. Este tipo de amortização, que tem muitas vantagens para o credor que raciocina, é comummente chamado enredo.
. Pelo adiamento voluntário que lhe consente o credor. Aqui gostaria de realçar que quase nunca se trata de um acto voluntário.
. Pela confusão que se gera quando as características do credor e do devedor se misturam na mesma pessoa. O tempo e a paciência são os únicos meios para saldar este tipo de dívidas.
. A prescrição é um dos meios legais mais eficazes para pagar aos credores para se livrar deles, sem lhes dar um só cêntimo. Ou seja, você deseja alojar-se, comer, cultivar-se, e além disso, por um impulso humanitário, dar trabalho a artistas e escritores que no momento se encontram desempregados, tudo isto, repito, sem um centavo. Pois bem, não se preocupe mais, o proprietário da casa, o dono do restaurante, o professor, o pintor, o poeta, todos eles, de certa forma terão pago eles próprios depois de um certo tempo, depois de terem esperado seis meses.
NB: Os excertos acima foram transcritos de 'A Arte de pagar as suas dívidas e de satisfazer os seus credores sem gastar um cêntimo' da autoria de Honoré de Balzac, publicado agora pela editora Nova Delphi (editora creio que madeirense), traduzido por João Viale Moutinho e publicado originalmente em França no ano de 1827.
* - Onde aqui se lê euros, no original lê-se francos.
Honoré de Balzac nasceu em Tous, França, em 1799 e viveu até 1850. Foi um dos mais prolíficos escritores franceses, escrevia que se fartava, de forma compulsiva, horas e horas a fio. Empreendedor falhado, gastador, acumulava dívidas e trabalhava depois como um 'mouro' para lhes poder face mas a acumulação de dívidas era um processo contínuo.
Escreveu dezenas de livros, de entre os quais os muitos volumes que constituem A Comédia Humana. Foi também ele que escreveu 'A mulher de trinta anos', sobre as mulheres que, naquela altura, eram umas balzaquianas (agora são-no lá para os 60). Não me alongo porque isto não pretende ser sequer um breve apontamento biográfico pelo que, quanto mais agora escrever, mais omissões me poderão ser apontadas.
... etc etc etc ...
NB: Os excertos acima foram transcritos de 'A Arte de pagar as suas dívidas e de satisfazer os seus credores sem gastar um cêntimo' da autoria de Honoré de Balzac, publicado agora pela editora Nova Delphi (editora creio que madeirense), traduzido por João Viale Moutinho e publicado originalmente em França no ano de 1827.
* - Onde aqui se lê euros, no original lê-se francos.
Honoré de Balzac nasceu em Tous, França, em 1799 e viveu até 1850. Foi um dos mais prolíficos escritores franceses, escrevia que se fartava, de forma compulsiva, horas e horas a fio. Empreendedor falhado, gastador, acumulava dívidas e trabalhava depois como um 'mouro' para lhes poder face mas a acumulação de dívidas era um processo contínuo.
Escreveu dezenas de livros, de entre os quais os muitos volumes que constituem A Comédia Humana. Foi também ele que escreveu 'A mulher de trinta anos', sobre as mulheres que, naquela altura, eram umas balzaquianas (agora são-no lá para os 60). Não me alongo porque isto não pretende ser sequer um breve apontamento biográfico pelo que, quanto mais agora escrever, mais omissões me poderão ser apontadas.
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Música por favor
Money Makes the World Go Round - The Patton Brothers
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Nota: O conteúdo deste post não reflecte o que penso sobre o assunto (sobretudo pela falta de ética que transpira do que é dito) embora grande parte das afirmações revele uma grande pragmatismo e reproduza quase na íntegra o que é a realidade associada a este fenómeno. De notar que considero que nem todas as dívidas são más e que é um absurdo pensar que um país pode ou deve viver sem dívidas.
Mais: Algumas das habilidades descritas não devem ser praticadas senão na presença de adultos e, mesmo assim, podem provocar lesões graves.
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Mudando de assunto: hoje lá para os lados do meu Ginjal e Lisboa, a love affair as minhas palavras voam, tranquilas, em torno de um certo pássaro negro e, sobretudo, em torno de um belo poema de Luís Filipe Castro Mendes. A Callas junta-se-nos, interpretando Rossini. Serão muito bem vindos por lá, venham.
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E tenham, Caríssimos, uma bela terça feira!!!
17 comentários:
interessante os principios ou doutrina contidos no texto do post: melhor dever para mais ter credito, bom não pagar as dividas, deixar prescrever, etc. Curioso e pensando em se poderia aproveitar as dicas para mim mesmo fui lendo. é de balzac, esse gigante da literatura que sabia escrever sobre dinheiro, agiotas, emprestimos, especuladores, banqueiros,politicos, corrupção, mas tambem sobre amizada, ternura, sobre as mulheres, etc. tudo isso que é parte da comedia humana. Por ser de balzac, e escrevia sobre o que sabia e se informava, é bom levá lo a serio e pensar nessas teorias da divida e do credito.
ler balzac é uma experiencia diferente, ler por ex um livro dele por ano, testemunho pessoal, li recentemente le cousin pons maravilhoso romance dedicado à velhice e à amizade, mas onde tambem entra a agiotagem, o engano, etc. li une affaire tenebreuse, romance politico do tempo de napoleão, e tenho na calha as ilusões perdidas, vamos a ver.
vou procurar esse panfleto de balzac traduzido por jvm, tenho curiosidade.
ps. Este bom autor madeirense, jvm, que foi professor universitario no porto, parece-me, organizou há tempos uma pequena antologia de poesias de varios poetas que escreveram sobre a madeira. Com frequencia se vê na fnac do funchal. Tambem faz alguns programas na tv local um pouco à maneira dos de j h saraiva.
a propósito, as tvs regionais dos açores e madeira deviam ser normalmente incluidas nos pacotes televisivos do continente que são vendidos, alem de terem qualidade, seria uma maneira de integrar.
Querida Jeitinho:
Tenho horror a dívidas, logo, não posso concordar com Balzac, que aprecio como escritor, mas cuja vida não foi exemplo, para ninguém.
Para mim, as dívidas são como bolas de neve, quanto mais rebolam, maiores se tornam. Há pessoas, que têm esse modo de viver. No tempo que atravessamos, muitos, que nem sequer gostam, vivem assim.
Beijinho
Mary
Concordo inteiramente com o que refere a título de nota de roda-pé, no final. Um tema pertinente este do endividamento.
No caso da Banca, pergunto-me se, por exemplo, quem pagou já, no empréstimo para aquisição da casa, o valor inicial, mais 2/3, se não poderia ver essa sua dívida liquidada? Enfim, ocorreu-me a ideia!
Quanto a dívidas, desde que se tenha bom senso, o que falta, infelizmente, a certas pessoas, nada tenho a obstar.
Já me custa aceitar que como contribuinte...tenha de contribuir para pagar o endividamento da Banca.
Mudando de assunto, hoje, caminhando pelo Chiado, um dos locais que aprecio em Lisboa, entrei, ás tantas, na Bertrand e andando por ali, vi dois livro, umas reimpressões de 2011, muito bem elaboradas, que me levaram a pensar neste Blogue e na sua autora: “Prosa (e Poesia), Eugénio de Andrade”. A preços, enfim, aceitáveis.
P.Rufino
Cara UJM:
Quantos truques e técnicas para não pagar as dívidas. Agora percebo como chegámos a este estado. É o mundo dos troika-tintas que de crédito em crédito obrigam, agora, todos a pagar a factura.
E como dizia mestre Gil Vicente pela boca de Belzebu: “Que ninguém busca consciência.
e todo o mundo dinheiro”.
E tenha uma boa noite
abraço da
Leanor formosa e segura
Caro Patrício Branco,
Também gosto de ler Balzac (embora há que tempos que não leio nada dele) - e, claro, o meu Caro Amigo já me deu aqui umas boas ideias. Os seus comentários são sempre uma mais valia para quem os lê e sinto-me sempre bastante agradecida.
Balzac é uma pessoa que conhece a natureza humana, um escritor torrencial, uma força da natureza.
Não sabia que havia programas regionais da Madeira e dos Açores. É um absurdo não estarem incluídos nos pacotes televisivos, tem toda a razão.
Obrigada pelas suas observações sempre tão pertinentes.
Mary, mulher que boas contas,
Balzac ironizava com a situação. O que ele descreve é a manha, são as 'artes' dos que se sabem valer de todas as situações encalacrando uns e outros e saindo-se sempre bem.
Por isso referi no título que isto é manual para comendadores pois, quantos dos figurões que conhecemos, vivendo que nem uns nababos, não passam senão de grandes caloteiros?
No meio disto e sempre assim foi, quem se trama são os pequenos devedores que ficam sem casa. Os grandes devedores ficam, sempre, na boa. Mas os grandes devedores têm a 'escola' toda, assessores jurídicos, 'almofadas' na Suiça, etc, etc, pelo que, esses, estão sempre 'safos'.
Um beijinho, Mary!
Caro P. Rufino,
Ter dívidas para sustentar investimentos rentáveis, contrair uma dívida para usufruir de um bem que se vai amortizando à pedida que se vai utilizando, tudo me parece muito bem desde que haja sustentabilidade. São as dívidas boas.
Agora pedir uns milhões a um, depois pedir milhões a outros para amortizar os primeiros, um terceiro para amortizar os dois primeiros, e às tantas há dívidas imensas 'penduradas' em tantos sítios que deixar cair um, é deitar todos os outros ao fundo, e no meio desta bola de neve (como a Maria diz) ainda viver à grande e à francesa - bem, isso é muito mau e foi isso que aconteceu a todos os que se aboletaram com créditos e mais créditos financeiros, deixando a Banca de pantanas.
Quanto à Bertrand, tenho vários livros de Eugénio de Andrade mas nunca são de mais. A ver se lá consigo passar até porque, sabe, adoro a Bertrand do Chiado, adoro andar de sala em sala, adoro o local.
Muito obrigada, P. Rufino!
Olá Leanor, formosa, segura e sempre com um poema no canto da boca,
A vil ganância é coisa arreigada, deve estar inscrita num qualquer recanto do nosso cérebro. Veja o que Gil Vicente já referia.
Não é para qualquer um (porque os amadores, os principiantes geralmente, acabam com ordenados penhorados, sem casas, etc) - mas os espertos encartados, os que atiram abaixo com os balanços dos bancos, esses sabem-a fazer direitinha e saem sempre por cima.
A ver se hoje me ocorre tema mais aprazível que me irritam estas coisas...
Obrigada, Leanor e uma boa noite também para si.
Cara UJM, Balzac é Balzac, como no seu país, Cognac é Cognac! Quanto às dívidas, todos as temos, pois nem sempre económicas mas de amor, dedicação, estima, etc. Quando li a saga de Eva e Miguel, recentemente finalizada, em belo aparato nupcial, achei um pouco balzaquiano e fiquei-lhe em dívida por não comentar na altura, ainda mais quando o términos foi no Dia Mundial do Beijo (coincidências!)
A música dos Vampiros, tem bom cabimento, pois não fosse o vampirismo dos bem colocados, as dívidas económicas seriam bem menores que as da nossa gratidão. Obrigado UJM, pela sua dádiva quotidiana neste belo blogue.
Caro DBO,
Que contente fico quando o sei por cá: é como ver amigo arredio de quem não se tem notícias durante largo tempo.
Pois, Balzac é Balzac e já era tempo de ele ser trazido aqui, a dizer de sua justiça. Veio falar de dívidas e não de mulheres balzaquianas mas, enfim, um dia o trarei aqui a dissertar sobre as virtudes de tal 'género' para não ficar com fama de mau pagador.
Mas, então, a Eva e o Miguel deram o big kiss do casório no Dia do Beijo? A sério? Não dei por isso mas, então, teve graça...!
E achou-a uma balzaquiana... Pois eu não tinha pensado nisso mas é capaz o meu Caro de ter razão...
Quanto aos vampiros, foi isso que pensei. Sugam o crédito, sugam o que podem sugar sem olhar a quê (se o pudessem pagar não viria mal ao mundo mas o grande problema é que não o fazem e depois pagamos nós, tal como andamos a pagar o BPN, tal como andam as empresas a fechar porque os bancos que financiaram os grandes devedores agora não têm crédito disponível para as empresas e para as famílias).
E não tem que agradecer DBO, eu é que tenho que vos agradecer as visitas e a generosidade das vossas palavras. Obrigada, pois.
http://www.rtp.pt/EPG/tv/epg-dia.php?canal=4&ac=d&sem=e
http://www.rtp.pt/multimediahtml/emissaotv/rtpmadeira
http://www.rtp.pt/acores/index.php
http://www.rtp.pt/EPG/tv/epg-dia.php?canal=4&ac=d&sem=e
http://www.rtp.pt/multimediahtml/emissaotv/rtpmadeira
http://www.rtp.pt/acores/index.php
http://www.rtp.pt/EPG/tv/epg-dia.php?canal=4&ac=d&sem=e
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Caro Patrício,
Há pouco (a correr) abri um link à pressa e parece que parte da programação é comum à RTP. A ver se mais logo vou espreitar a programação específica.
Muito obrigada!
"Pagar e morrer, a última coisa a fazer", mas como eu só tenho uma casinha, (PAGA !!!), com um jardinzinho muito bonito que uso para fazer terapia, sempre vou pagando (MEDO!!!).
abraço
Olá, Rosita Amarela,
Que bom vê-la por aqui! Espero que esteja tudo bem consigo.
Mas só pode estar bem... põe-se a apanhar uns belos banhos de sol e meditação no seu jardim, não...? Que sorte!
A Rosita pagou a sua casa - mas vá lá ver se o Comendador Berardo pagou as Quintas todas que tem...
Um abraço, Rosita e boas jardinagens.
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