domingo, agosto 24, 2025

A graça dos inocentes

 

Não quero parecer tonta e insensível como o Montenegro, a banhos ou todo contente no Pontal enquanto o país arde e as populações gritam, entregues à sua sorte com o fogo a lamber-lhes e a devorar-lhes as terras. Mas, em minha defesa tenho o facto de que, ao contrário de Montenegro, eu não sou responsável por tomar medidas que previnam estas desgraças ou que, na presença delas, as ataquem. Ele é. E parece que anda às aranhas, sem saber o que fazer. Depois de tanto ter pregado contra António Costa e ter prometido resolver tudo e mais alguma coisa em três tempos, agora não apenas está tudo pior como não conseguimos ter confiança nos artolas que nos aparecem da parte do Governo. Maria Lúcia Amarela pode ser uma boa pessoa, uma boa professora e ter algumas coisas razoáveis no cv mas, caraças, não salta a olho nu que jamais poderia ser pessoa capaz para este ministério? Que experiência tem a senhora para lidar com catástrofes, que experiência tem em coordenar equipas distintas, para lidar com problemas complexos, no terreno? Não sei mas presumo que zero. Estamos entregues a isto. 

Por isso, enquanto as televisões mostram Pedrógão de novo debaixo de fogo e outros céus rubros das labaredas e do fumo ardente, eu aqui estou a pensar nos meus amores e amorzinhos, tão queridos, tão alegres, todos boas pessoas. Cá estiveram e, como sempre, é aquela animação e aquele bom apetite que dá gosto. Os caranguejos gostam de alimentar os outros. Eu sou assim, o meu filho é assim, o meu pai era assim. 

Entre parêntesis, confesso uma coisa de que não me orgulho, uma coisa que talvez indicie que a minha cabeça começa a desandar... Fiz uma tarte de galinha, uma tarde grande, familiar. Deu-me algum trabalho, claro. Quando pronta, não a retirei do forno para se manter quentinha. Depois preparei o resto, o meu filho veio para a cozinha e assumiu o comando, cozinhou escalopes e febras, preparou bifanas, e pitas, tudo saborosíssimo, juntei a isso, na mesa, o cheese naan, chamuças, etc, e é sempre aquele reboliço de se ajeitarem na mesa, de se servirem, de conversarem e rirem. E depois veio a fruta e o bolo e tudo certo, cantoria, fotografias. De repente lembrei-me: a empada! Ainda morninha, no forno... caraças... 

No fim, quando saíram, lá a dividimos entre famílias, sempre a provam em casa, mas, bolas, como fui esquecer-me de uma coisa destas? Que absurdo... Enfim. Cabeça de alho cada vez mais chocho...

Mas, enfim, todos os males fossem esses. O que importa é que a convivência é sempre leve, bem disposta. E eu fico feliz por eles, por serem amigos, por gostarem uns dos outros, e por gostarem de estar cá em casa.

Ainda não contei mas no outro dia, estávamos in heaven, pergunta o mais novo, e já nem me lembro bem das exatas palavras mas foi qualquer coisa do género: 'Para quem fica isto quando vocês já não puderem tomar conta?' e depois, mais palavra menos palavra, disse que podia ficar para ele. Achei um piadão. Disse-lhe que já era o terceiro a candidatar-se. O mano dele depois dissertou dizendo que se calhar daqui por uns vinte anos eu e o avô já não poderíamos tomar conta, que ele poderia ocupar-se disso. São inteligentes, percebem que uma coisa assim tem que ter quem se ocupe dela, dá muito trabalho, e, de facto, eu e o avô já não vamos para novos, chegará a altura em que não daremos conta do recado. Fico contente por sentir neles este amor a este bocado de terra, enche-me de felicidade, talvez continue a ser um lugar no coração deles e de vindouros que nem conhecerei mas que, de alguma forma, ainda transportarão algum do meu sangue, um lugar de paz que os animais também procuram, em que nasce tudo em todo o lado, em que o ar transporta a liberdade dos grandes espaços. 

Felizmente não somos eternos e, quando chegar a minha vez de sair da passadeira rolante que é a vida, já cá não estarei no day after para lamentar isto ou aquilo. Mas, apesar disso, alegra-me pensar que talvez entre eles se organizem para continuarem a usufruir de um espaço tão rural, tão selvagem mas, ao mesmo tempo, tão acolhedor.

E estava eu aqui a ver as fotografias de hoje, a pensar nisto, a pensar nos meus cinco pimentinhas, agora já tão grandes e sempre tão queridos, resolvi espreitar o youtube.

E pimbas, apareceu-me este vídeo que aqui partilho. Uma delícia, uma fofura, a graça da descoberta, a graça da inocência.

O elefante bebé Chaba pela primeira vez numa banheira


Desejo-vos um feliz dia de domingo!

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