domingo, junho 15, 2025

Reservado

 

Neste meu período sabático em que me ocupo desocupando-me e em que aprendo a fazer livremente o que me apetece sem me sentir mal por não produzir nada, voltei a ver Netflix. Já não via há séculos pois o tempo não me chegava para nada, muito menos o tinha para ver filmes ou séries a meio do dia ou à noite.

O meu marido, em contrapartida, não tem parança. Lava muros e pavimentos à pressão, pinta muros, pintou uma mesa, corta a relva, apara sebes. Quem o viu e quem o vê. Gosta do que faz. Claro que acho que faz tudo à pressa, parece que trabalha por empreitada e que tem que despachar uma para ir agarrar outra. Mas parece que não consegue ser de outra maneira pelo que não vale a pena eu dizer o que quer que seja.

No outro dia, ouvíamos um chinfrim dos diabos vindo de um jardim vizinho. Eram os jardineiros. Disse ao meu marido: uma das boas decisões que tomámos foi livrarmo-nos deles. Ia responder mas atalhei: já sei que sobra para ti mas é um sossego e o jardim está muito melhor. As nossas máquinas são a bateria, quase silenciosas. Eles usam máquinas a gasolina que fazem uma barulheira que não se aguenta. Quando vinham cá, o melhor era pirarmo-nos. Ainda me lembro de quando estava em teletrabalho, a ter reuniões pegadas umas às outras, sem poder livrar-me, enquanto, no exterior, os jardineiros aparavam relva, cortavam sebes, sopravam folha, um festival de barulheira, e, no interior, o cão ladrava alto e bom som, atirava-se aos vidros, numa fúria descontrolada. Não havia sítio na casa onde eu pudesse estar em paz enquanto eles andassem a jardinar a toda a volta da casa.

Mas, estava eu dizendo, voltei a ver Netflix. No outro dia tinha visto as 4 Estações, uma série engraçada, depois vi La Dolce Villa, um filme fofo, e, ao acabar, resolvi dar uma espreitadela. Chamou-me a atenção a série Reservado (Secrets we keep) por ser dinamarquesa. Gosto bastante de séries e filmes escandinavos. São outra coisa. Não desfazendo -- até porque há coisas boas em todo o lado -- mas, mais que americanices, espanholadas, francesices, italianadas, etc, é com as cenas escandinavas que mais me identifico. 

E gostei muito. Não descansei enquanto não vi tudo. É um bocado inquietante, por vezes bastante, mas tudo dentro do limite do totalmente verosímil, tudo a fazer-nos pensar, tudo a obrigar-nos a olhar para as coisas sob uma perspectiva que não era a inicial. E tocante. Vamos acompanhando as lealdades que, por vezes, obrigam a deslealdade para com a verdade, a confiança e a facilidade com que se quebra, a protecção dos que se amam que, por vezes, implica a desprotecção de outros, geralmente dos mais frágeis, a cumplicidade que tenta proteger a intimidade mas que, por vezes, implica esconder um crime. Mas também ficamos na dúvida: quem praticou o crime é, na verdade, o responsável pelo crime ou é, ele próprio, uma vítima?

Mas tudo se passa sem barulho, sem ruído a poluir os diálogos ou os pensamentos, sem perseguições, sem pressa. Temos tempo para observar as expressões dos personagens, para pensar, para reagir.

Ou seja, a quem subscreva a Netflix, recomendo.

RESERVADO (Reservatet) 
| Trailer Legendado PT | Minissérie | Marie Bach Hansen | Excel Busano

Ao procurar respostas para o desaparecimento da au pair de uma vizinha, Cecilie desvenda segredos que abalam o mundo aparentemente perfeito do seu subúrbio abastado.

Elenco: Marie Bach Hansen, Excel Busano, Danica Curcic, Sara Fanta Traore, Simon Sears, Lars Ranthe, Lukas Zuperka, Frode Emil Bilde Rønsholt, Donna Levkovski, Henrik Prip



Desejo-vos um belo dia de domingo

3 comentários:

Davi Machado disse...

Vi esta série mês passado, o fim desagradou de tão real. Agora fui ver algo mais leve: O clube da meia noite.

Um Jeito Manso disse...

Olá Davi,
Sou muito totó... Então não é que acreditei em si e fui, toda lampeira, ver a tal coisa mais leve...? Credo... Que horror... Saí do clube da meia noite a correr... Medooooooo...............

Davi Machado disse...

Perdoa, não foi a intensão. S2