Gosto de livros, de filmes e de vídeos sobre jardins e jardineiros. Sobretudo, gosto de jardins.
Tenho vivido bons momentos ao longo de toda a minha vida.
Não guardo traumas (ou, pelo menos, não dou por eles). Sempre relativizei o que me desagradava. Na escola devo ter passado por situações menos boas pois toda a gente se lembra de ter passado e eu não devo ser diferente dos outros. Mas não me lembro. Situações boas de que me lembre são aos montes. Provavelmente desde miúda que reajo como sempre me ter lembrado de ter reagido: não ligar a mínima ao que me desagrada.
Por exemplo, lembro-me de, quando cheguei ao 1º ano do que se chamava Ciclo Preparatório, hoje 5º ano, não conhecia ninguém na minha turma. Na altura, as turmas eram inteiramente femininas. Várias das minhas colegas tinham andado juntas na escola primária e, portanto, já eram amigas. Eu aterrei num mundo desconhecido. Isso para mim foi apenas uma alegria, um mundo novo a descobrir. Era tudo novo. Com dez anos acabados de fazer ia de autocarro ou a pé sozinha para a escola e da escola para casa. Os meus pais trabalhavam e, por isso, eu estava por minha conta. Achava isso natural. Talvez estranhando não verem a minha mãe, perguntavam-me por ela e eu dizia que ela estava na escola, a dar aulas, era professora. Lembro-me de um dia uma colega me ter dito, com ar abespinhado, que eu julgava que era melhor que as outras e, quando eu me mostrei admirada e perguntei porque dizia ela isso, me ter respondido que eu dizia que a minha mãe era professora. Lembro-me bem do meu espanto e de ter dito: 'Mas ela é professora!'. E lembro-me de ter pensado: 'É mesmo burra, se calhar queria que eu dissesse que a minha mãe estava em casa como as outras'. Não me aborreci. Relativizei, achei apenas que ela era burra. E ao longo de todos os anos em que com ela convivi mantive a mesma opinião: só diz burrices.
Por isso, se alguém me chateou (e só me lembro dessa vez), borrifei.
A minha mãe por vezes arreliava-se por eu ser assim. Disse-me várias vezes que me achava excessivamente racional. Na realidade, era muito o oposto dela. Embora para o exterior ela mostrasse alguma resistência à opinião alheia, a verdade é que se incomodava muito com isso. E guardava mágoas e ressentimentos. Eu zero. Não queria saber disso para nada. Ela às vezes dizia-me: 'disseram isso de ti e não queres saber..?'. E eu respondia que não, não queria saber. Zero, zero. Por isso, quando ela às vezes mostrava opiniões negativas sobre alguém, eu nunca sabia porquê. Se alguma vez tinha sabido, já tinha esquecido. Ela ficava passada comigo. Achava-me excessivamente desprendida.
Mas dos momentos bons não me esqueço. E não os desvalorizo.
Podem ser situações aparentemente insignificantes mas, para mim, muito relevantes. Por exemplo, e já falei disso muitas vezes, dos momentos bons foram os que vivi, ainda que fugazmente, nos viveiros em que ia comprar pequenas árvores para tornar o nosso terreno pedregoso naquilo que é hoje. Já não me lembro como se chama a terra, se é Chamusca, se é Azambuja. Saía de casa muito cedo, metia-me a caminho para lá estar muito cedo (não me recordo bem mas tenho ideia que aquilo abria às oito). Depois escolhia as arvorezinhas, levava o carro cheio e regressava para Lisboa.
As jardineiras, simpaticíssimas, de galochas, andavam pelo meio de todo aquele mundo, um mundo perfumado, húmido, a terra negra, fértil, e elas conheciam todas as espécies pelo nome correcto, sabiam como cresciam, como se faziam, escolhíamo-las em conjunto, eu pedia a opinião delas, elas juntavam-se para andar comigo. Acredito que achassem curioso que ali chegasse aquela mulher vinda de Lisboa, vestida daquela maneira, de saltos altos, toda produzida, e por ali andasse conversando com elas, escutando-as com tanta atenção. Cheguei a dizer-lhes que as invejava, que não me importava de trabalhar ali. A forma como faziam transplantes de vasinhos para vasos maiores, a forma como tratavam as plantinhas como bebés, como animaizinhos que precisassem de cuidados, enternecia-me.
No liceu detestei botânica. Hoje penso que a forma como se ensina destrói a curiosidade e o gosto dos miúdos.
Mas também é certo que o meu gosto por árvores, por flores, por trepadeiras, é um gosto mais espiritual que funcional. Não me sinto atraída por fazer uma horta. Mas gosto de andar junto às plantas, contemplá-las, venerá-las. É um gosto poético, um gosto imaterial, quase abstracto.
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Não obstante, gosto de ver vídeos como este que aqui partilho em que se abordam temas bem pragmáticos, muito terrenos. Muito pertinentes.
Portugal is Turning into a Desert – Can This Farming Method Save It?
Portugal is slowly turning into a desert. But is the real issue a lack of water—or poor water management? Lars and Denise are using a powerful technique to restore the land and prevent desertification. This technique can be applied anywhere in the world—not just in Portugal or dry regions. By using this method, you’ll gain a deeper understanding of farming and how to work with nature instead of against it.
In this short documentary, Lars—who has spent years working with nature—explains the basics of his approach, inspired by syntropic farming. Want to learn more? Together with Lars and Denise, I (Sara) have created step-by-step videos to teach this method.
00:00 - 00:37 Intro
00:37 - 02:17 Results
02:17 - 05:56 How to regenerate the land? Permaculture vs. syntropic farming
05:56 - 08:06 How long does it take to regenerate? No dig vs. dig
08:06 - 12:20 Water management
12:20 - 13:03 Step-by-step tutorials
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Dias felizes
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