Posso ter dado a ideia de que esta minha actual vidinha é um absoluto mar de rosas. Se dei, foi involuntário. É que, como em tudo na vida real (e reforço a 'vida real' porque na vida virtual tudo é possível, até a vida ser um imaculado mar de perfeições), não há bela sem senão.
E o senão é simples: quando ambos trabalhávamos, almoçávamos sempre em restaurantes. O jantar era muitas vezes leve, com alguma frequência comprado. Agora a coisa fia mais fino.
Se calhar, se vivêssemos no centro da cidade, facilmente descíamos até à rua e, mesmo a pé, íamos até à próxima tasca ou poderíamos escolher um dia um restaurante, outro dia um de outro tipo. Morando afastados da urbe e, de vez em quando, imersos no campo mais campo que se possa imaginar, a oferta não está ao virar da esquina. Temos que nos meter no carro e ir. Depois há que estacionar. E depois, chegados ao restaurante, há que ter paciência para esperar. Ora, estamos comodistas. Não temos pachorra para o trânsito, para andar às voltas para descobrir lugar para o carro, para ficar à espera de ser atendidos. Muito menos temos pachorra para comida banal ou pior do que a que faço em casa.
Conclusão: salvo uma ou outra excepção, dia após dia temos que andar a puxar pela cabeça para saber o que se faz para o almoço, o que se faz para o jantar. Como queremos fazer uma alimentação saudável, tudo o que são frituras, refogados puxados, coisas gordas ou com molhos calóricos, estão fora dos cardápios diários. Ora, às vezes falta-me a imaginação.
Esta quarta-feira, para o almoço tinha feito um arroz de chambão com legumes. Para o jantar não sabia o que fazer. Queremos sempre coisas leves ao jantar mas estava sem pica nenhuma, incapaz de ter ideias. Como tinha que ir ao supermercado, pensei que podia comprar lá um frango assado, depois fazia um arroz e uma salada e estava feito. O meu marido achou bem.
Lá fomos.
O meu marido ficou cá fora para aproveitar para dar a volta higiénica com o cão-fofo.
Lá dentro, fui pondo no carrinho o que precisava: cebolas, cenouras, tomates, alface, pão, kéfir, iogurte grego natural, requeijão, chocolate preto. Trouxe também atum e salmão congelados. E mistura chinesa congelada. Resolvi também trazer, para experimentar os gelados de pistácio revestidos a chocolate pois o pessoal mostrou abertura para experimentar e, ao fim de semana, no verão, contam sempre que haja gelados no congelador. Depois, vi lá uma tshirt branca de um tecido que me pareceu interessante e a um preço baixo. Pareceu-me que estaria talvez grande demais mas, sendo branca, mais vale larguinha que justa. Trouxe. E vi um biquíni que me daria jeito pois, para aqui apanhar sol, só tenho um. E o preço também me pareceu bom. Trouxe.
Ao chegar à caixa, uma fila dos diabos, um tempo do caraças à espera.
Quando cheguei ao carro... upssss... tinha-me esquecido do frango assado... E, com aquelas filas, impossível lá voltar.
O meu marido ficou desconcertado: 'E agora? Praticamente era esse o motivo da vinda ao supermercado... Pões-te a ver tretas e esqueces-te do fundamental.'. Respondi: 'Trouxe bife de atum... Posso fazer... ou salmão...'
Pela cara, vi que não estava muito para aí virado. Felizmente, tive uma ideia: como ele ia aproveitar a 'viagem' para ir a uma estação de serviço, pensei que talvez lá vendessem frango assado.
E tive sorte. Mas só havia uma metade. Receei que fosse um despojo. Perguntei: 'É recente?' O rapaz olhou para mim muito admirado. Ocorreu-me que estava na dúvida se eu me estava a referir a ele próprio. Esclareci: 'Pergunto se o frango é recente...'. Mesmo assim não devo ter esclarecido bem, ou, então, não estava seguro do que responder. Disse-me com o que me pareceu fraca convicção: 'É...'
Chegados a casa, ao arrumar as compras, com um certo desconforto constatei que a embalagem do biquini afinal correspondia apenas ao soutien. Pelos vistos, vendem as peças separadas. Senti-me frustrada. É que, quando lá regressar, já não devo encontrar a parte de baixo à venda.
Mas, vejamos as coisas pelo lado positivo: com a mistura chinesa fiz um belo arrozinho e o frango afinal ainda estava quentinho e era bem saboroso.
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E, com esta conversa fiada, pela qual me penitencio, poupo-me a falar sobre os resultados dos votos dos emigrantes e sobre a confirmação de que o Chega é o 2º partido do meu País. Espero que façam a caridade de me compreender.
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