sexta-feira, outubro 18, 2024

Ai Pedro Nuno Santos...

 

Passo por cima da sacanagem suprema da PGR (com ou sem o respaldo do Marcelo) ao empurrar António Costa do Governo, passo por cima da campanha vergonhosa que Marcelo fez contra o PS e que culminou nas dissoluções da Assembleia da República -- e dirijo-me directamente à escolha do sucessor de Costa.

Se tivesse aparecido, por exemplo, uma Mariana Vieira da Silva, não teria dúvidas em achar que seria uma excelente líder para o PS. Assim, entre Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, se eu fosse militante do PS, teria votado no segundo. Parece-me mais ponderado e melhor posicionado para dar resposta aos anseios da classe média, seja à instalada seja a que pretende lá chegar.

Na altura das eleições, pareceu-me que Pedro Nuno Santos (PNS) não estava a perceber que o PS não tem que tentar agradar ao eleitorado do PCP e do BE tanto mais que este eleitorado está cada vez mais reduzido. A população que decide eleições e que deveria ser o alvo das propostas do PS posiciona-se em quadrantes que PNS parece ainda não ter compreendido bem. 

PNS parece também ainda não ter compreendido que, ao deixar a resposta aos anseios dos jovens e da população mais qualificada para outros partidos e ao estar essencialmente conotado com a camada etária mais sénior, está a traçar aquele percurso que leva, devagarinho, à irrelevância. 

E as eleições confirmaram isto que estou a dizer. E, ainda que à tangente, foi a AD que levou a melhor. Conseguiu-o com base em acusações pouco sérias e populistas e em promessas vãs e falsas mas já se percebeu que a malta, em especial os menos informados, gostam é de quem lhes promete o céu e mais um par de botas.

Claro que Montenegro, ao armar-se em campeão e ao achar que podia governar à vontadinha, também começou, logo na noite das eleições, a trilhar o caminho da próxima crise.

E Pedro Nuno Santos ao enunciar logo, a quente, uma série de determinações, começou a mostrar um problema de que padece (de forma, aparentemente, incurável): uma tentação irreprimível de dar tiros nos pés.

Seguiu-se o que se tem visto: o Governo a cavalgar os bons resultados deixados pelo PS mas, sempre que pode, desavergonhadamente a querer ficar com os louros, anunciando grandes medidas como suas quando praticamente estavam todas em curso ou em vias disso no governo de António Costa. E, noutros casos, dá o dito por não dito, não conseguindo resolver o que dizia que resolveria em 60 dias. E já nem falo nos saneamentos políticos, geralmente precedidos de ataques e humilhações, por vezes públicos, aos saneados.

E depois, quando têm ideias das quais fazem bandeira, percebe-se que são ideias obtusas, ineficazes e que conduzem a desequilíbrios nas contas (exemplo disso é a isenção do IMT para jovens que levou a uma subida do preço das casas ou a maior burrice de que há memória e que dá pelo nome de IRS jovem em que, como as notícias têm dado conta, dará borlas de dezenas de milhares de euros a futebolistas ou a todos os 'jovens' que têm bons ordenados).

Face a isso como tem agido PNS? 

Frequentemente tropeça nas próprias pernas, ensarilha-se em argumentos palavrosos, anuncia coisas desnecessárias, frequentemente tendo que voltar atrás. Por exemplo, em vez de esperar para ver o Orçamento e só depois se pronunciar, enfiou-se numa saia justa ao reduzir o seu critério de decisão a duas medidas, depois reformulou e já eram essas duas, mas atamancadas, mais três a reboque, e depois já nem se percebia bem o que queria.

Já se percebeu que o Governo da AD é fraco, em algumas pastas, escandalosamente fraco, assenta em pressupostos errados e disparatados e não vai levar a lado nenhum. Pelo contrário, atira dinheiro a rodos para cima de meio mundo, traça políticas que não alavancam estímulos à economia e que desequilibram as contas e, afinal, em vez de estimular o crescimento do PIB (coisa em que o Sarmento, com base em fezadas, apostava), agora aponta para um PIB anémico e estagnado. 

Face a isto, qual a posição do PS?

Custa-me dizer isto (e custa-me especialmente porque acho que ele é esforçado e, sobretudo, parece-me uma pessoa pura) mas o que vejo é que PNS mostrou não ter arcaboiço ou estaleca ou o que queiram para desmontar de forma cabal o que ali está e para se afirmar assertivamente perante o eleitorado, perante o País.

Se houvesse eleições agora -- com a capacidade de comunicação do Governo, uma boa capacidade, e a boa imprensa que tem (a mesma imprensa babosa e, por vezes, sabuja, que ajudou a deitar abaixo o PS e que levou o PSD ao colo) e com a inabilidade de PNS --, não seria claro que o resultado fosse estável e favorável ao desenvolvimento sustentável.

Um líder forte, de ideias bem estruturadas, provavelmente não se tinha enfiado no labirinto em que o PNS se meteu e, provavelmente, avançaria de peito feito para o que desse e viesse não deixando passar o OE. Mas não é o caso.

Assim, tomou a decisão que se encaixa neste panorama: depois de dançar o vira e o corridinho ao longo de não sei quanto tempo e, mesmo hoje, quando falou ao País, chegou ao fim da comunicação e, numa pirueta, anunciou que vai deixar passar o OE e deixar que o Montenegro passeie no parque por mais um ano e tal ou dois.

E eu, com o PNS como Secretário-Geral do PS, acho que a decisão não podia ser outra. Pelo menos, pode ser que haja tempo para uma de duas: para ver se amadurece e atina ou, alternativamente, para o PS pôr uma pessoa mais focada e mais estruturada no lugar dele.

3 comentários:

ccastanho disse...

UJM isto hoje está complicado. Postei no artigo anterior, o que era para este seu " Ai Pedro Nuno Santos..." Mas todos percebem a intenção.
Cumprimentos

Anónimo disse...

O Pedro Nuno Santos posto em Secretário-Geral do Partido Socialista foi, claramente, desde a primeira hora, um clamoroso erro de "casting". Concordo que o rapaz é bem intencionado, trabalhador e provavelmente apaixonado pelo que faz. Mas é, obviamente, um caso de irrecuperável imaturidade. Definiu-se, quando já tinha idade para ter juízo, ainda antes da tragédia que o alcandorou a candidato a primeiro-ministro. Lembram-se do caso dos banqueiros alemães, que o valente rapaz ia pôr a tremer quando lhes fizesse um manguito quanto ao pagamento da dívida? E, depois, já nos tempos do excelente António Costa, recordam-se de quando ele se aproveitou da ausência do chefe no estrangeiro para anunciar, por sua exclusiva (?) iniciativa, e com enorme estardalhaço público, a resolução do problema do aeroporto? É claro que Costa o meteu na ordem logo a seguir, mas a confirmação da imaturidade foi mais do que evidente. Por alguma razão António Costa se recusou sempre a ver nele um eventual sucessor. Tem vontade, acredito que seja honesto, mas concordo inteiramente consigo: carece de arcaboiço para os voos que ambiciona. Não percebeu, sequer, que a maioria do "eleitorado PS" está longe de se rever naquelas posições esquerdistas (tipo Bloco...) tão comuns a PNS e à sua fogosa Alexandra. Como é que é possível que um escorregadio manhoso como o Montenegro chegue a parecer um autêntico PM quando comparado com eles? Mas que grande asneirada da famosa máquina partidária do Largo do Rato e suas dependências regionais! E logo quando tinham à mão diversas alternativas credíveis, com José Luís Carneiro à cabeça (maduro, ponderado, convincente). É urgente que o Partido e seus simpatizantes se mobilizem para se emendar quanto antes este trágico erro de "casting". Cumprimentos.

MELODY JACOB disse...

Your reflections on the current political landscape and the leadership within the PS highlight some significant concerns about direction, communication, and strategic vision. It’s clear that the issues at hand are complex, especially considering the recent political upheavals and the shifts in public sentiment.

You raise an interesting point about the generational divide and the importance of understanding the electorate’s evolving preferences. As you mentioned, the PS should ideally focus on engaging with the middle class and younger voters, rather than aligning too closely with historically smaller parties like the PCP and BE. This is a crucial strategy for any party hoping to maintain relevance in a rapidly changing political environment.

The challenges you describe regarding Pedro Nuno Santos’s leadership style—his apparent indecision and tendency to make hasty announcements—underscore the need for a leader who can project confidence and clarity. A strong, decisive leader would likely be more effective at countering opposition narratives and capitalizing on the legacy of the previous administration.

It’s also worth noting your observations about the current government's economic strategies and the potential consequences of misguided policies. The importance of sound fiscal management cannot be overstated, especially in a time of economic uncertainty. Policies that fail to stimulate growth or that inadvertently lead to imbalances could indeed set the stage for future crises.

As for the PS, it sounds like there’s a critical juncture ahead. Whether PNS can evolve into a more effective leader or whether the party will need to consider new options is a question that may shape the future of Portuguese politics. Your analysis presents a clear call for both introspection and action within the party as it navigates these turbulent times.

Thank you for sharing such thoughtful insights! It’s always engaging to delve into the intricacies of political dynamics.