sexta-feira, dezembro 01, 2023

O galo português que foi passear até à Holanda e que resgatei nos idos de 2012 ontem resolveu acordar-me debaixo do maior sururu

[E, por falar em fenómenos, que Gavriil Scherbenko, o pianista e compositor que ainda usa fraldas, nos mostre ao que vem]

 

Pelos conhecidos motivos sobre os quais já não falo (ainda hoje o meu filho me disse que os meus posts andam um bocado depressivos e a minha filha me perguntou se eu não deveria procurar apoio psicológico...), volta e meia durmo mal. Custa-me a adormecer ou, então, acordo de madrugada e só volto a adormecer já o dia clareou. 

Por isso, nessas noites, peço a todos os santinhos que ninguém se lembre de me acordar logo cedo para tentar repor algumas energias.

Pois, pois. É a tal Lei de Murphy. Lei mais tinhosa não há. Quando dá para correr mal, são umas atrás de outras. Uma inclemência danada.

Só para verem como é, eu conto.

Na outra noite, estava eu a ver a manhã a chegar, toca o alarme. Uma sirene que nos ensurdece. 

(O meu marido segue o conselho do técnico de segurança que cá veio instalar o equipamento: de noite deixa o alarme parcial.)

Depois do susto inicial, o meu marido levantou-se e foi ver o que se passava. Avisei-o para não ir despido para, na central, não o verem naquele estado. Não quis saber. De qualquer forma, acho que na central só veem o que as câmaras captam no momento em que o alarme é accionado e não depois. Enfim, tomara...

(Por exemplo, no outro dia, no campo, o meu marido andava não sei bem por onde. Saí de casa para ir caminhar lá por baixo e accionei o alarme. Passado um bocado, ele, que não sabia que eu não estava em casa, ao entrar, fez aquilo disparar. Eu, a andar lá no meio das árvores, recebo uma chamada da central a perguntar-me se eu estava em casa, se sabia que tinha sido detectada uma intrusão e que as imagens mostravam um senhor alto, magro e calvo. Nem sei como não soltei uma gargalhada.) 

Bom, mas ontem lá foi ele ver o que se passava. Entretanto, recebi uma mensagem a dizer que o alarme tinha sido activado no sótão. Descansámos. Chamámos sótão na parametrização do sistema mas não é no sótão, é no 'espaço multi-usos' do piso de cima. E agora é aí que o cãobeludo tem resolvido dormir. Acho que, para ele, é um bom posto de comando. No verão, dorme encostado ao vidro da janela grande. No inverno, geralmente deita-se num assento que há entre dois pilares. Provavelmente, em vez de sair de fininho como habitualmente deve fazer, deve ter dado um salto em frente do sensor. E agora já não uiva. Nas primeiras vezes que o alarme disparou, punha-se de cabeça ao alto a uivar como se fosse um lobo, uma coisa muito louca.

Voltámos para a cama.

Passado um bocado, como viu que já não conseguia dormir, o meu marido levantou-se, tomou o pequeno-almoço e foi passear o urso.

Eu fiquei a tentar adormecer. E consegui. Mas foi por poucos minutos. 

Passado um bocado, um grande estrondo, não no piso de cima nem muito longe do quarto. Não consegui identificar mas foi um barulhão. E, acto contínuo, a sirene do alarme. 

Fiquei transida. Sozinha em casa... Liguei ao meu marido, aflita de todo. Disse-me que estava longe de casa mas que vinha já, que eu fosse de imediato para a rua.

Entretanto, chegou a mensagem a dizer que tinha sido no corredor dos quartos. Ainda mais assustada fiquei. A sirene tocava, tocava.

Enfiei um top de alças e umas calças e, descalça, cheia de medo fui para o jardim. Abri o portão para o caso de ter que fugir mas fiquei do lado de dentro. Ao sair, espreitei o dito corredor. Nada no chão. Não vi nada, ou seja, não era nada que tivesse caído. Ainda mais preocupada fiquei. 

Da central ligaram ao meu marido e disseram que não se tinha visto nada.

Devia ser para aí umas oito da manhã, um frio e uma humidade do caraças e eu ali, meia descascada, com os pés molhados, a gelar.

Quando o meu marido chegou, o dog fez uma festa por me ver ali. Saltou ao alto, rodopiou no ar, via-se que pensava que era uma recepção surpresa que eu tinha preparado para ele. 

Sujou-me o top todo, claro Vinha com as patas enlameadas e foi como essas mesmas patas que me cumprimentou.

O meu marido puxou por ele e avançou para dentro de casa: o verdadeiro binómio cinotécnico em acção. 

Estranhamente, o cão estava tranquilo, como se nada de anormal se passasse. Eu atrás, donzela assustada. com receio que dessem de caras com um perigoso fantasma.

Não se via nada de estranho.

Até que vi, no chão da cozinha, o galo holandês de ascendência portuguesa (que comprei, por mero acaso, num antiquário em Amsterdão). 

O dito é o de cima

Tinha-se despencado lá de cima, deve ter embatido no microondas, depois na bancada e, finalmente, no chão. Pode pensar-se que um galo não é tão barulhento assim. Mas este é. Este é de madeira maciça, um peso invulgar, um verdadeiro galo capão. 

O curioso é que a cozinha não fica no alinhamento do corredor dos quartos. Nem pouco mais ou menos. Deve ter sido o impacto que causou tal trepidação que fez accionar o alarme. Imaginem.

Menos mal.

Portanto, desvendado o mistério, ainda pensei que podia voltar para a cama. Mas já não valia a pena. Estava acordada demais. Fui para a banheira e tomei um banho bem quentinho para me aquecer as entranhas pois ainda devo ter estado uns vinte minutos ali a enregelar no jardim. 

E sobre o resto do dia logo conto numa outra vez.

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E a vossa atenção, por favor, para um pianista compositor com ano e meio, Gavriil Scherbenko


Um dia bom para todos, está bem?

Saúde. Alegria. Paz.

2 comentários:

ccastanho disse...

Cara UJM

Os Vasconcelos andam por aí, cuidado com eles.

https://www.youtube.com/watch?v=b06NS-9QZ-k

Uma boa Restauração UJM

ccastanho disse...

Caríssima.

Hoje estou para aqui virado. Eu gosto.

https://www.youtube.com/watch?v=4bRbbT9ZFhE

https://www.youtube.com/watch?v=rgMWyJxIIJo