Música, por favor
Port of Amstredam,
não por Jacques Brel (pois a incorporação nos blogues é interdita)
mas pelos The Dresden Dolls
*
Pela parte que me toca, confirmo. O convívio com arte, seja pintura, escultura, literatura, música, fotografia, etc, deixa-me com aquela boa disposição esperançosa, empolgada e feliz tão própria de quando estamos apaixonados.
Talvez seja, pois, também porque o sítio onde estive é tão pródigo em arte e a disponibiliza de forma tão franca que as pessoas tenham todas um ar tão feliz.
Há muitas galerias de arte, abertas, convidativas, há lojas de design que são, elas próprias, autênticas galerias, há museus fantásticos e, sobretudo, há em todo o lado um ambiente informal e descontraído que convida ao convívio e ao deleite. O leque de visitantes percorre todas as idades, desde as inúmeras crianças às muitas pessoas de idade e esta diversidade traduz-se em que se sente, nestes locais, o pulsar da vida. É frequente ver crianças pequenas sentadas a fazer desenhos olhando para um quadro ao lado de pessoas de muita idade, contemplando longamente a mesma obra.
Como agora só lá estive quatro dias, não consegui fazer todo o périplo que tinha em mente mas fica para outra vez. E o que vi é stock que dá para muito tempo de boas recordações.
Começo pelo design. Muita vezes temos que nos aproximar das peças para perceber o que são ou para que servem e, geralmente, quando o percebemos, ficamos fascinados. Que imaginação! Por vezes o design tem funções utilitárias, outras é meramente lúdico. Seja como for, em Amsterdão, o design é omnipresente e isso é bem o símbolo da criatividade exuberante que por aqui impera. Mas que não se pense que é uma exuberância espalhafatosa. Não, nada disso. Pelo contrário tem tudo um cariz prático, bem disposto. Outras vezes ressalta, sobretudo, a beleza e a vitalidade.
Falo-vos agora da Droog. Mostro esta em particular porque é muito completa e muito agradável (mas há muitas deste género). Para terem uma noção das peças e dos preços (eventualmente para encomendarem algumas), o site é este. Tem objectos vários desde pequenos utensílios para uso pessoal ou doméstico, peças de mobiliário, peças de jardim, vestuário.
Mostro-vos apenas algumas das peças, as que achei que vos poderiam dar ideias que vocês próprios possam pôr em prática.
Banheira que tem acoplada uma braseira. À volta da braseira estão os tubos por onde passa a água que circula dentro da banheira para manter a água sempre quente |
No último piso, tem uma deliciosa, muito acolhedora sala de chá.
Talvez porque o pé direito da sala é muito grande, apesar das pessoas falarem animadamente, quase não se ouve barulho.
Mesmo muito agradável este espaço, vocês haviam de ver.
As pessoas bebem um chá, um sumo, uma fatia de bolo caseiro, ou nada, apenas conversam - e parece que estão em casa |
Talvez porque o pé direito da sala é muito grande, apesar das pessoas falarem animadamente, quase não se ouve barulho.
Candeeiro artesanal e espelho colorido Jarra branca com flores brancas E duas amigas conversando tranquilamente |
Eu optei por me sentar aqui, um sofá largo, confortável, aconchegante e macio |
Mesmo muito agradável este espaço, vocês haviam de ver.
Depois as galerias. Há-as por todo o lado.
Abertas no sentido de que convidam a que se entre, variadas, de todas as dimensões e características, as galerias são uma tentação.
Abertas no sentido de que convidam a que se entre, variadas, de todas as dimensões e características, as galerias são uma tentação.
Há algumas que dá ideia que estão disponíveis para que, quem o queira, lá possa ir pintar e expor livremente (como a que se vê acima) e, claro, há outras mais clássicas, isto é, de aspecto mais normal.
E há as pequenas galerias no mercado de arte na rua.
E há as pequenas galerias no mercado de arte na rua.
Mulheres, bailarinas, animais - Esculturinhas em papier mâché ou em barro pintado, pintura, cerâmica, etc |
Écharpes ou lenços de seda estampada ou pintada - tudo maravilhoso Se não fosse tão cara, teria trazido a écharpe do gato mas custava cento e tal euros |
Mas vou agora mostrar-vos uma que me agradou sobremaneira. Se vivesse por perto acho que nunca de lá saía e estaria em permanente estado de tentação.
Que coisas tão ao meu gosto e a preços tão acessíveis.
Pequenos objectos, pequenas esculturas, pintura - aqui há de tudo, mas quase todas peças de um colorido que me encantou |
Que coisas tão ao meu gosto e a preços tão acessíveis.
Galeria vista de dentro, de um piso inferior Como vêem, as pessoas entram, mexem - a dona está no piso de cima, disponível mas discreta |
Encaixo aqui neste texto também uma referência aos antiquários e, sobretudo, às lojinhas de bric-a-brac, de velharias, e alfarrabistas.
Também que tentação, senhores, que tentação. E que belos preços!
Um dos inúmeros alfarrabistas de Amsterdam, que livros, que maravilhosos objectos antigos ligados à escrita |
Também que tentação, senhores, que tentação. E que belos preços!
Numa pequena rua, residencial, das muitas e muitas do centro, junto aos canais, encontrei uma que me encantou. Se pudesse tinha vindo carregada de coisas. Mas houve uma pequena peça a que não resisti. Como já vos contei gosto muito de galos (pelo colorido, pelo garbo). Pinto-os em tela e tenho muitas peças que os representam. Por isso, quando vi numa cesta no chão, junto com muitas outra pequenas peças, um pequeno quadro redondo de madeira, pesado como chumbo, com um galo pintado na própria madeira, peguei logo nele. Seis euros. Resolvi trazê-lo.
Quando estava a pagar, falando em inglês, claro (porque não pesco uma da língua autóctone), um senhor fisicamente muito parecido com o Jeremy Irons e que percebi que deveria ser o dono da loja disse-me num inglês carregado de sotaque dutch, invulgarmente muito pouco british (os holandeses falam todos um inglês perfeito), you are very happy for buying this piece. This is an happy piece. This is a portuguese piece.
Espantei-me, really? Que sim, que era uma antiga peça portuguesa. Disse-lhe, então, que eu era portuguesa. Ficou de olhos muito abertos a olhar para mim, acho que não acreditou. Eu insisti. Desatou-se, então, a rir, muito espantado ele também.
Ele há coisas….
Ele há coisas….
É esta peça que fotografei agora para vos mostrar. Se calhar amanhã, se me lembrar, fotografo-o de dia porque agora de noite ficou com um reflexo que também distorceu um pouco as cores.
Mostro-vos tudo isto pois pode ser que alguma destas coisas vos motive para fazerem algo igual ou parecido, e estou a pensar especialmente nos que gostam de se ocupar com este género de trabalhos manuais.
Quanto a escultura de rua, há também bastante, completamente integrada na paisagem, mas, porque isto já vai exageradamente longo, mostro-vos apenas esta que acho uma delícia, bem perto da Red Light Zone.
Já escrevi que me fartei e ainda nem comecei com os museus... Por isso, não me levem a mal mas vou deixá-los para amanhã; e hoje abro aqui um parêntesis para falar de um dos lados mais conhecidos de Amsterdão, o da droga e do sexo.
Quando lá estive há uma meia dúzia de anos, fez-me impressão ver tanta gente drogada estendida à porta das casas, no meio da rua. Fumavam e via-se que eram grandes as trips.
As coffee shops são conhecidas e lá estão (sobretudo naquela zona central, junto ao Red Light District) e, em grande parte delas, mesmo cá fora o cheiro a erva é intenso. Como é sabido, na Holanda o consumo é legal. Mas já não é permitida a venda a estrangeiros nem se vê já nada daquelas cenas na rua. Havia um turismo à volta disto e eram essencialmente os estrangeiros, que iam lá consumir até cair para o lado, que enchiam aquela zona. Isso agora já não se vê.
As coffee shops são conhecidas e lá estão (sobretudo naquela zona central, junto ao Red Light District) e, em grande parte delas, mesmo cá fora o cheiro a erva é intenso. Como é sabido, na Holanda o consumo é legal. Mas já não é permitida a venda a estrangeiros nem se vê já nada daquelas cenas na rua. Havia um turismo à volta disto e eram essencialmente os estrangeiros, que iam lá consumir até cair para o lado, que enchiam aquela zona. Isso agora já não se vê.
Quanto à prostituição, ela continua a ser uma actividade legal, praticada às claras, regulamentada, vigiada.
Para quem não sabe, há uma zona da cidade, justamente a da Luz Encarnada, muito conhecida e um grande foco de atracção turística. Nessa zona (porta sim, porta sim), as portas são largas e de vidro, ou as janelas são até ao chão, autênticas montras, e, aí sim, há cortinas. Em cada uma dessas divisões está uma prostituta em roupa interior, fio dental e under bra, à janela, encostada ao vidro, meneando-se, batendo na janela, ou sentada em poses eróticas, atraindo a atenção dos passantes. Quando está livre, no exterior, por cima da janela, a luz encarnada está acesa. Quando entra um cliente (e entram na maior das descontrações, à vista de toda a gente) a cortina é corrida e a luz apaga-se. Lá dentro está uma cama, um bidé, um lavatório, papel, gel de banho, um espelho, alguns pormenores decorativos. Lá dentro a luz é velada, geralmente também em tons vermelhos. As mulheres podem ser muito jovens, com corpos esculturais, bonitas, longos cabelos, ou podem ter um ar mais intelectual, com um penteado mais discreto e com óculos, ou podem ser mulheres já mais velhas, algumas muito gordas. Estão sempre sorridentes, com ar folgazão. Muitas usam lingerie fluorescente o que chama bastante a atenção naquele ambiente pouco iluminado. Estou a descrever o quadro durante a noite mas de dia é a mesma coisa. A diferença é que, de dia, há menos mulheres a trabalhar e as luzes no interior logicamente estão apagadas. Apenas a luz encarnada cá fora apaga ou acende consoante a ocupação. As ruas estão pejadas de gente, desde clientes a meros passeantes. Não há turista que não se desloque àquela zona.
Adereços eróticos, divertidos, para todos os gostos |
Para quem não sabe, há uma zona da cidade, justamente a da Luz Encarnada, muito conhecida e um grande foco de atracção turística. Nessa zona (porta sim, porta sim), as portas são largas e de vidro, ou as janelas são até ao chão, autênticas montras, e, aí sim, há cortinas. Em cada uma dessas divisões está uma prostituta em roupa interior, fio dental e under bra, à janela, encostada ao vidro, meneando-se, batendo na janela, ou sentada em poses eróticas, atraindo a atenção dos passantes. Quando está livre, no exterior, por cima da janela, a luz encarnada está acesa. Quando entra um cliente (e entram na maior das descontrações, à vista de toda a gente) a cortina é corrida e a luz apaga-se. Lá dentro está uma cama, um bidé, um lavatório, papel, gel de banho, um espelho, alguns pormenores decorativos. Lá dentro a luz é velada, geralmente também em tons vermelhos. As mulheres podem ser muito jovens, com corpos esculturais, bonitas, longos cabelos, ou podem ter um ar mais intelectual, com um penteado mais discreto e com óculos, ou podem ser mulheres já mais velhas, algumas muito gordas. Estão sempre sorridentes, com ar folgazão. Muitas usam lingerie fluorescente o que chama bastante a atenção naquele ambiente pouco iluminado. Estou a descrever o quadro durante a noite mas de dia é a mesma coisa. A diferença é que, de dia, há menos mulheres a trabalhar e as luzes no interior logicamente estão apagadas. Apenas a luz encarnada cá fora apaga ou acende consoante a ocupação. As ruas estão pejadas de gente, desde clientes a meros passeantes. Não há turista que não se desloque àquela zona.
Devo dizer que não fico chocada com isto. Claro que encaro a prostituição sempre como uma situação de último recurso e penso que poucas mulheres a praticarão de ânimo leve mas, admitindo que prostituição sempre houve e sempre haverá, acho que mais vale que seja assim, em ambiente vigiado, protegido, regulamentado, sujeito a normas de higiene e saúde pública onde não correrão tantos riscos como as que o praticam na rua, na beira da estrada.
Não vos mostro imagens porque elas não permitem fotografias e eu compreendo e respeito. Mas mostro uma imagem geral do local, desfocada. Como tirei as fotografias sem flash, enquanto andava, ficaram assim, abstractas. Neste prédio, como em tantos outros, a cada janela corresponde o compartimento individual e, em cada compartimento, uma prostituta.
Red Light District by night (caso queiram ver imagens mais representativas, basta clicarem aqui, são imagens disponíveis na net) |
E, curiosamente, na rua principal que ladeia um dos canais, há belos cisnes brancos que deslizam com langor e vagar ou que adormecem, alheios ao bulício nocturno.
A ver se, então, amanhã me dedico aos museus, aos maravilhosos museus. Rembrandt, Vermeer, Van Gogh, Mondrian e muitos outros – e é verdade: saí de lá sentindo-me completamente apaixonada!
É amanhã! E depois dirão se depois de verem o que vos tenho estado a mostrar também não se sentem em estado de paixão...!
É amanhã! E depois dirão se depois de verem o que vos tenho estado a mostrar também não se sentem em estado de paixão...!
**
E é isto. Tenham meus Caros, um excelente fim de semana.
10 comentários:
Lê-la é como regressar ao passado nessa cidade-mundo que é Amesterdão.
Um relato notável de um fim de semana fantástico
Fico à espera de mais.
Abraço
A UJM sabe tanto sobre tanta coisa que até me apetece cantar-lhe:
You're just too good to be true
Can't take my eyes off your blog
Tralalalala...
Foi mesmo um prazer segui-la through Amsterdam!
Gostei particularmente do cogumelo, da sala de chá, da écharpe do gato (ou tigre?), do tiny man de casaco verde a ler (no alfarrabista), do galito português e da escultura de rua.
Cá fico à espera dos museus e dos canais!
Claro que a taradinha dos filmes (moi) tem sempre que citar um deles. Desta vez, a propósito do Vermeer, recomendo "A Rapariga com Brinco de Pérola", com o Colin Firth e a Scarlett Johansson, e com fotografia belíssima do nosso Eduardo Serra, que obteve com este filme uma nomeação em 2004.
E agora resta-me desejar-lhe um otimo fds
Antonieta
Olá,
Tenho seguido os seus relatos extraordinários da visita que fez a Amesterdão. Conheço alguns países da Europa mas a Holanda ainda não, estive perto, mas não deu na altura. Mas, face aos seus "relatos de viagem" já me sinto em "estado de paixão" e confesso que já estou com vontade de marcar uma passagem até lá.
Amante da arte também como sou, gostei de todas as peças: o puff forrado com rosetas de crochet, não terá uma veiazinha da nossa Joana Vasconcelos?... O cogumelo é muito engenhoso... O galo português regressou ao seu Portugal...deve-se ter sentido muito feliz por lhe terem dado importância! Bem haja pela sua partilha.
Muito obrigada pela bela viagem virtual que nos está a proporcionar.
Um beijinho
Amiga:
O puff deu-me ideias. Adorei a banheira. Os bonecos encantaram-me. As écharpes são de perder a cabeça.
Achei um prato lindo.
Gostei da música, mas não era o Brel, nem em francês. Mesmo assim, a interpretação é boa.
Abraço
Mary
Olá jrd,
Gosto de relatar as impressões que me ficam dos sítios. Tenho sempre um certo receio de que a coisa fique fastidiosa mas, por outro lado, admito que possa ter algum interesse para quem não conhece (ou para quem tenha vontade de recordar).
Amesterdão é mesmo uma cidade-mundo, como muito bem diz, é isso mesmo. Deve ser muito bom viver lá.
Muito obrigada pelo incentivo.
Um abraço, jrd.
Olá Antonieta,
Não sei assim tanto. O que se passa é que gosto de partilhar tudo o que sei.
Acho que é bem capaz de ser um tigre mesmo. Não sei como é que achei que era um gato... Se visse a macieza daquela seda. E tinha outros lenços lindos. Ainda estou aqui a torcer-me por não ter trazido nenhuma daquelas peças.
Quanto ao cogumelo e às flores de rede ando a ver se convenço o meu marido a fazer aqui para o meu jardim. Mas não sei se vou ser bem sucedida...
Quanto ao filme, desta vez conheço e gostei muito. Dá bem a ideia do que eram os ambientes vividos por Vermeer.
Obrigada, Antonieta, e um bom fim de semana também para si.
Olá Maria Eduardo,
Tem razão, aquele puff forrado a crochet faz lembrar a Joana Vasconcelos. E é uma coisa fácil de se fazer em casa, já viu?
Na biblioteca também vi uma enorme tapeçaria que me fez lembrar os trabalhos dela. Era uma sucessão de cores feitas com os canos de meias de várias cores. É difícil explicar.
Estou toda encantada com aquele galo. Fui desencantar um galo português na Holanda...
Muito obrigada pelas suas palavras.
Se tiver oportunidade acho que é uma cidade que deve ser conhecida.
Um beijinho, Maria Eduardo.
Olá Mary,
Sabe lá a quantidade de vídeos do Brel que eu experimentei a tentar inclui-lo aqui. Mas todos eram interditos para incorporação nos blogues. Tive que deitar a mão àquele que viu . Cada vez acontece mais isto, vão interditando cada vez mais.
As écharpes, Mary, eram mesmo, mesmo de perder a cabeça. Mas eram tão caras. Mas não me saem da cabeça. O que vale é que Amesterdão não me fica em caminho senão, um dia destes, ainda passava por lá para ceder à tentação...
Quanto ao puff também ando com ideias e tenho para aqui fotografias de muito mais peças que me andam a dar imensas ideias. Só não coloco mais aqui para não me tornar maçadora.
Um abraço, Mary, e um belo domingo!
Quando passei o post para um primeiro olhar às imagens, o galo fez-me lembrar os pratos alentejanos. Afinal não era um prato alentejano, mas era um galo português! Não ficou emocionada quando o dono da loja lhe disse que era português?
Um beijinho
(vou continuar a ler os post que me faltam)
Boa noite, UJM
Tenho andado desaparecida, mas aos fins de semana procuro actualizar as minhas visitas.
Gostei muito dos posts sobre Amsterdam, com informações preciosas, tanta coisa linda, com os seus costumes, a sua maneira de ver a vida e o mundo.
Um bom fim de semana.
Beijinhos.
Olinda
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