Ontem de manhã, ainda estava na cama e já o meu marido me dizia que já tínhamos vizinhos novos na casa lá de baixo, do fim da rua. Tinha ouvido e visto os cães e tinha visto, de longe, o dono da casa. Há uma pequena parte em que a vedação deles confina com a nossa e através da qual se vê parte da propriedade.
O meu marido disse que eram três impressionantes pastores alemães. Fui ver.
Claro que o nosso ficou doido. Habituado a andar por ali sem concorrência já que os vizinhos anteriores não tinham cães, ter agora três bestas a ladrar para o lado de cá é coisa com que não contava e que não consegue admitir.
Passou o tempo todo a correr de um lado para o outro, a saltar, a ladrar. Quando os cães se retiraram (suponho que foram retirados pois vi que passaram carros para lá e provavelmente o dono prendeu-os) o nosso recuou, saiu dali e veio colocar-se num local mais estratégico, digamos que a meio caminho entre casa e aquela zona da vedação contígua. Virado para o lugar onde eles antes tinham estado, a ladrar de vez em quando, quase como que a lembrá-los de que estava ali, em guarda. Quando passávamos por ele, olhava para nós, orgulhoso. Um soldado de sentinela.
O meu marido já disse que vai ter que subir a rede num certo ponto não vão aqueles lobos gigantes saltar par o lado de cá. A verdade é que me deu um bocado de medo andar por ali sozinha. Um dos cães nem sei o que parece, gigante, peludo, um vozeirão. Deve ser um pastor alemão gigante mas com mais pelo do que é habitual. Os outros dois são grandes mas não inusitadamente grandes.
Às tantas, depois, o meu marido chamou-me. Já eu estava dentro de casa. Quando cheguei já o motivo do chamamento se tinha ido embora: o vizinho da outra ponta da rua tinha passado com o seu rebanho e tinha agora um cão pastor que, segundo o meu marido, é um cão muito bonito, peludo, maior que o nosso. Claro que o nosso ficou desestabilizado durante uma meia hora ou mais. Já o rebanho e o outro cão tinham passado há séculos e ainda ele andava num frenesim, furioso, a correr e a saltar ao longo do muro. O meu marido disse que o nosso vizinho também está muito diferente, está sem óculos e com barba. Diz que quase não o reconheceu. E eu não consigo imaginá-lo assim.
Entretanto, claro que há cogumelos de toda a espécie e feitio. Encanto-me. Encanto-me como se visse pela primeira vez, como se não conseguisse perceber o milagre.
Em algumas rochas cobertas de musgo há agora um mar de ínfimos cogumelos, uma coisa extraordinária. Só andando com muita atenção se consegue ver: não sei como é que a natureza produz tamanha disparidade, tudo tão delicado, tão perfeito. As cores, a elegância do desenho. O que existe no subsolo que os faz nascer como eles são? Uns brancos, outros castanhos, outros amarelos, uns grandes, outros minúsculos, uns lisos, outros em renda, outros aos folhos.
Apetecia-me não ter nada mais que fazer senão andar na contemplação, nas fotografias. Adoro, adoro.
Mas tenho muito que fazer. A nível profissional é o de sempre, nem vale a pena falar nisso. É o que é.
Mas depois há a época. Hoje já comprei algumas coisas, quase tudo na base da utilidade e dos livros, mas ainda tenho muita coisa para comprar. Depois terei que separar, organizar. Estou muito atrasada, este ano. Calhou a minha mãe ter estado a modos que adoentada, requerendo cuidados, obrigando-me a deslocações mais amiúde. As circunstâncias às vezes aparecem na maior inoportunidade.
Não me rendeu o que queria, hoje. É que, quando fui num bocadinho, ia-me dando uma coisa. Meia hora foi gasta a tentar um lugar para o carro. Já me impaciento demais com estas absurdas perdas de tempo. Depois, lá dentro, uma multidão. Fico doente. Para começar, um calor do caneco. Devia ter deixado o casaco no carro mas estava tão desesperada que nem pensei nisso. O calor tira-me a vontade de tudo. Ver que as caixas estão com filas e filas tira-me ainda mais. Depois, as roupas este ano estão horríveis, desengraçadas, pesadas, largueironas. Queria escolher algumas mas a moda este ano veio às arrecuas. Malhas grossas, mal jeitosas.
Nos livros nem é bom a gente falar. À vista e em destaque apenas o que não vale uma casca de caracol. É preciso garimpar. Mas como...? No meio de uma multidão, cheia de calor, sem tempo...?
Terei que voltar mas não sei quando conseguirei nem sei qual a melhor hora.
E ainda não comprei comida nenhuma e, sabido é, quando a maltinha se junta toda é como cozinhar num quartel. Nem sei o que fazer. Estou com ideias malucas mas é arriscado fazer uma coisa que nunca fiz, e logo para tanta gente.
Estou com algum receio de não encontrar o que precisar... isto quando souber o que é que preciso. Hoje pensei que me apetecia fazer uma canja, uma boa canja com ovo e tudo. O meu marido arreliou-se, diz que eu não complique, que não me ponha a inventar, que não me ponha a arranjar maneira de sujar muita louça, que me cinja ao essencial. A minha filha falou em galo capão no forno. Para tanta gente teriam que ser pelo menos dois. E não cabem dois galos no forno. Complicado, isto.
Vida de cão é mais simples. Não complicam. Não inventam, não se metem em embrulhadas de compras e multidões.
15 comentários:
Bem bonita a "fera"......
A.Vieira
UJM,
Então, o ninho que nos mostrou, já tem crias de rola, ou não?!
Após duas semanas de postura, nascem os filhotes da rola.
Um bom dia
Li com interesse o seu post. Também fico assim maravilhada com a natureza. Ainda bem que não sou só eu que acha a moda este ano horrível. Feia, mal feita de má qualidade. Não consigo comprar nada. Também não preciso e não vou comprar por comprar. Lindo o peludinho. Abraço
Tenho um pastor alemão pela primeira vez, desde há um ano, mais ou menos,e ele salta tudo e mais alguma coisa. O meu marido irrita-se, já pôs portões aqui e ali, mas ele salta que nem um cavalo. Até para o telhado já foi ,atrás de um gato!!! Acredita?!
Nunca tivemos um cão assim, mesmo corpulento. De resto, é meigo até com as crianças e um mimalhâo que só visto!
É tão bom ter uma quintinha, viver no meio da natureza, como eu a compreendo...
Tudo de bom para vocês, inclusive para o ursinho.
Maria
Também tive dois pastores alemães em minha casa, e um na casa dos meus pais, ainda em solteiro. Por acaso, o da casa dos pais, mordeu no meu irmão mais novo, e era ele que mais vezes lhe dava comida e o passeava. É verdade que lhe passou com a mão pelo pêlo quando ele comia, e foi fatal como o destino!, nunca se deve tocar num cão destes quando estão a comer.
A primeira, era uma cadela que me ofereceram "pura" e morreu com "esgana" aos quatro meses e tal. O segundo, era um amigão que eu tinha. Todos os dias invariavelmente às 7horas da tarde, começava a ladrar e raspar as patas na porta do quintal a sinalizar o meu atraso, o que deixava a minha mulher pelos cabelos com a algazarra dele. Com este cão, aconteceu uma coisa engraçada. Diariamente, durante o passeio sem coleira, costumava passar por um acampamento de ciganos nas imediações da localidade onde vivia, e por vezes entretinha-me a falar com alguns, e eles "ciganos" quase sempre se afastavam do pastor alemão e eu achei estranho, e perguntei o porquê? Disseram-me que era igual a uma cadela da fronteira Portugal-Espanha. Pois... era filha, ao que me consta segundo a pessoa que me a ofereceu.
Depois, enquanto caçador, tive um pointer; outro cruzado de pointer-perdigueiro nacional; e o ultimo (o cão que qualquer caçador gostava de ter, era perfeito a caçar, era único) um Pachon Navarro espanhol, que era mais ou menos o nosso Perdigueiro nacional. Com este cão, por vezes apanhava caça sem eu dar um tiro. Era invulgar este animal, companheiro de jornadas de caça. Tenho saudades, e muitas destes animais.
Este ano o almoço de Natal está por conta da filha. Estou curiosa, mas confiante. Nem a sobremesa quer que leve.
Tambem já ninguem come doces como antes. Estamos todos a lutar contra os excessos. E estragar soa a crime.
AH pois, a ementa da noite de Natal...uns consideram que o bacalhau com todos é que é. Os mais novos, mais sofisticados, querem com pure de grão e bimis salteados, outros sugerem bacalhau espiritual. Dificil contentar todos.
Quando ainda cá estavam pais e sogros havia sempre a canjinha. Hoje as pequeninas adoram a sopa de canja, como lhe chamam. Faço-a à minha maneira um bom frango do campo cozido com uma cebola grande e dois ovos. Depois de cozido e, coado o caldo, limpo-o de peles e ossos, desfio e trituro a cebola e as gemas cozidas. As claras corto em meias luas. Normalmente junto-lhe massinhas de cuscos ou letras. O arroz abre sempre e fica mole. Fica um caldo amarelinho. Os mais velhos gostam de um raminho de hortelã. É sempre muito apreciada.
Entusiasmei-me. Certamente tem a sua maneira de a fazer, mas como toda a gente gosta tanto desta...
Um beijinho e vá vivendo por nós esse paraíso. A cidade nesta época está cansativa.
Olá Alexandre Vieira,
É um fofo quando está aninhado ou a fazer olhinhos doces. O pior é quando é teimoso como um burro, quando tem um pico de energia (quando não a gasta de dia) ou quando faz maluquices. Agora anda de roda da erva alta, não sei se gosta do sabor ou se gosta de sentir a humidade. Então, volta e meia fica com vómitos, vómitos. Depois vomita uma espécie de espuma branca com uma erva longa como um esparguete que nitidamente ficou com uma ponta na laringe e outra no estômago. Enfim.
Mas hoje tive cá um dos meus netos. Havia de ver a alegria do cachorro.... E obedece ao menino que é um mimo, como se o menino fosse tão dono dele quanto o dono. Depois o menino, que estava a jogar playstation, disse para ele se sentar ao lado dele. E ele subiu para o sofá, deitou a cabeça no colo do menino. Uma coisa ternurenta.
Um dia feliz, A. Vieira.
Olá Ccastanho,
Não sei o que aconteceu. O ninho está vazio. Não vi nem ovinhos, nem passarinhos. Dá ideia que rola não se sentiu confiante com o ninho ali, tão baixo. Nunca lá vi nenhuma rola no ninho. Hoje, quando vi o seu comentário, fui lá conferir. Tem muitas folhas. Quase que está cheio de folhinhas.
Quanto à sua experiência com cães nota-se aquilo que penso: um cão marca-nos sempre. Têm sempre a sua personalidade e têm inteligência na forma como se adaptam ao meio em que vivem.
Nós, antes de eu me apaixonar por este peludo maluco, estivemos par arranjar um pointer que era lindo. O meu marido falou com o criador e explicou que queríamos um cão de família que também fosse um cão de guarda. O senhor riu-se e disse para esquecer o pointer. Na altura fiquei com pena pois tinha-o achado elegante, muito bonito.
Obrigada pelo seu testemunho.
E tenha um belo dia. Um abraço.
Olá Maria do Carmo,
Gosto de dar umas blusinhas às meninas da família, às meninas grandes e às pequeninas. Este ano, tudo com mangas a começar no cotovelo, mangas largueironas, outras quase com mangas com cabeção e o corpo da blusa curo e largo. E lãs grossas, com ar de irem ficar com borbotos, cores sensaboronas. Andei de loja em loja. Tudo a mesma desgraça. De vez em quando a moda patina.
Deu-me vontade de voltar aos meus tricots de antigamente...
Obrigada, Maria do Carmo.
Um dia feliz. Abraço.
Olá Maria,
Já me fartei de rir. Que cão engraçado, o seu. Deve ser também uma certa dor de cabeça...
Este nosso era um escapista. Deixávamo-lo num lugar, convencidos que dali não saía e, passado um bocado, estava ao pé de nós. Agora desistimos, anda por onde quer. Só quando vem cá alguém que ele ainda não conhece é que o pomos num espaço do jardim que o meu marido isolou com gradeamento. Nessas alturas fica triste, infeliz da vida.
Os cães são seres especiais, lá isso são. Marcam a nossa vida. Estou em crer que os meus netos, mais tarde, quando se lembrarem destes dias felizes de convívio em família, recordarão as peripécias deste cabeludo que tem tanto de obstinado quanto de meigo.
Um abraço, Maria. Um dia feliz.
Olá querida Pôr do Sol,
Gosto imenso de canja e a que eu faço é parecida com a sua. A diferença, insignificante, está em que junto uma cenoura, para, quando desfaço a cebola e a gema, ficar com um tom mais alaranjado. E pico a clara. Se calhar sem a cenoura fica amarelinha, mais bonita.
Para o jantar da véspera faço bacalhau cozido com todos e, para os meninos, bacalhau à Gomes de Sá. Não vai ser em minha casa mas na da minha filha. Cozinho lá. Ela terá tarte de aves e leitão.
O meu marido ontem sugeriu para almoço do dia de Natal a açorda alentejana de galinha. Hoje a minha filha também se lembrou disso. Talvez. Mas estou com vontade de também arriscar numa invenção. Não digo já pois só saberei quando a fizer. Se for adiante e ficar bom, depois conto.
Quanto a doces, não faço. Ou compro ou espero que os outros façam. E é verdade, já toda a gente evita coisas muito doces. Mas tenho saudades de arroz doce, por exemplo. Gosto tanto e quase nunca como...
Um dia feliz e um abração, Sol Nascente.
Esses rendilhados devem fazer parte dos inúmeros fractais, presentes que a natureza nos oferece...
Beijos e saudades.
Sônia
UJM, viva.
O pointer só é agressivo com as peças de caça, quer na descoberta do local e depois na busca para trazer ao dono. Como cão de guarda, não, é um bonacheirão e vai com toda a gente.
Mas diz muito bem UJM. O pointer é na verdade um cão soberbo na sua linhagem, aquela cabeça, é uma obra de arte canina. É sem duvida, uma pérola de cão. A cor que mais gosto é o amarelo e branco, e depois, o preto total é lindo naquele corpo atlético e escultural.
Cumprimentos e um abraço.
Sónia! Olá! Que bom vê-la!
Saudades, sim. Que contente fiquei ao vê-la por aqui.
Então andou por aí a partir-se toda? Como foi isso? Li que houve quedas, acidentes. Coisa grave? Já tudo ultrapassado depois de cirurgias e fisioterapias? Espero bem que sim.
Continua linda e elegante? Conte coisas.
Beijinhos e abraços, Sonia.
Ccastanho,
Era isso, amigo das crianças mas também amigo de todos, todo virado para o instinto da caça e nada para o de guarda. Como, na altura, tínhamos ideia de ter um cão que guardasse a casa, tirámos daí o sentido. Mas fiquei com pena. Era um elegância. E li sobre ele e vi que é um cão inteligente, ágil, vivo.
Às vezes o meu marido diz que o nosso felpudo gostaria de ter um cão com que brincar e eu, mentalmente, penso logo no pointer. Mas digo logo que não. Um cão é, na verdade, uma prisão. Claro que é um amigo, uma companhia, um membro da família. Mas se um já dá trabalho, imagina dois...
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