domingo, agosto 28, 2022

Um animal que usa desodorizante e lava os tomatinhos. Uns cavalos que se rebolam a rir.

E, peço desculpa pelo despropósito, mas não é que a Suzana Vieira já fez 80 anos...? Dá para acreditar?

 

Lá mais abaixo, depois da curva da estrada, há uns currais. Ao fim da tarde, o dono deve limpá-los pois, se o vento está daquele lado, chega até aqui cheiro a gado, a estrume. Assim aconteceu hoje. Ao descer os degraus para a sala de baixo, que tinha a janela a bascular para arejar a casa, senti o cheiro e disse: 'Cheira a animal,,,'. Nesse instante cruzou-se comigo, a correr, o menino mais velho que tinha interrompido o visionamento do jogo de futebol para ir levar qualquer coisa à mãe. Ao ouvir o que eu tinha dito, disse-me: 'Pus desodorizante...!' e seguiu a correr. Fiquei a rir sozinha durante não sei quanto tempo.

Ao contar à minha filha, ela lembrou-se da célebre história dos tomatinhos. Já a contei aqui mas talvez os que me leem hoje não sejam os mesmos que leram esse sucedido.

Era a passagem de ano e eu estava na cozinha a preparar a comida para o manjar nocturno. A minha filha tinha vindo mais cedo, estava a ajudar-me. Entretanto, era hora dos miúdos tomarem banho. O mais crescido tomou banho sozinho, deveria ter uns seis anos. Foi para o quarto, que antes era o quarto do tio, limpar-se e vestir-se enquanto, na casa de banho, a mãe dava assistência ao banho do mais novo. 

Então, quando fui preparar a salada, gritei para a minha fila: 'Olha lá, lavaste os tomatinhos?', referindo-me aos tomates cherry. Nisto, antes que ela tivesse tempo de responder, diz o puto lá do quarto: 'Claro que lavei...'.

O que nos rimos. Ainda hoje me rio.

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Tirando isso, o que tenho a dizer é que há bocado vi o mais novo rindo, rindo, quase chorando a rir. Veio mostrar-me. Estava a ver um vídeo com um cavalo que parecia cantar e rir ao mesmo tempo. O que ele se ria com o cavalo.

Andei à procura para vos mostrar e não encontrei. Mas encontrei este que também tem uns cavalos que riem à maneira

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E, ao abrir o youtube, aparece-me esta notícia surpreendente: a simpática, divertida e fogosa Suzana Vieira já fez 80 anos. Não dá para acreditar. E não digo isto apenas pela aceleração do tempo que num ápice leva uma pessoa dos quarenta para os oitenta, digo porque olho para ela e não vejo ali uma mulher de oitenta anos. Pelo menos como eu dantes achava que eram as mulheres aos 80 anos. Parece que o tempo não passa por ela. Continua bonita, alegre, com gosto na vida, com esperança de voltar a encontrar o amor. E que bem que o cabelo lhe fica assim. E que bem que os adereços em azul ou verde turquesa ficam com roupa branca.

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Há bocado o menino de onze anos dizia que gostava que eu tivesse bisnetos e dizia-me que se calhar não falta assim tanto, que talvez o irmão tenha filhos daqui por dez anos e que dez anos não é assim tanto. Tranquilizei-o e disse-lhe que pode ser que eu viva muito mais que isso, talvez vinte ou trinta ou até quarenta anos, sabe-se lá... Vi que estava a fazer contas de cabeça. Dei-lhe um beijinho. 

Ontem também disse que gostava que a bisavó conseguisse ser trisavó. A minha mãe exclamou que era bom mas que o irmão não precisava de se apressar, que ainda é muito novo para se pensar nisso.

De uma maneira ou de outra todos os meninos, de vez em quando, dão mostras de se preocupar com a finitude da vida que irá levando alguns dos que hoje se sentam à nossa mesa. Tenta falar-se disto com naturalidade. 

Para mim uma das mais extraordinárias nesta matéria passou-se também com o mais crescido.

Numa das vezes que o meu pai esteve mal e foi hospitalizado, geralmente nos últimos anos com pneumonias, os médicos pensaram que estava já nos finalmentes e informaram que, se queríamos ir despedir-nos, tinha que ser logo. Ele estava nos cuidados intensivos e só podia lá estar uma pessoa de cada vez. Larguei tudo e fui a abrir para o hospital e a minha filha também quis lá ir pra se despedir do avô. Não sei porquê, levou os miúdos. Quando ela entrou, eu fiquei cá fora com eles e com a minha mãe. O ambiente entre nós estava pesado, julgávamos que era a última vez que o víamos, e que estava por pouco. Felizmente, como tantas vezes aconteceu, dias depois estava a ter alta. A resistência daquele corpo era incrível. Mas, nessa altura, ele já estava acamado. Além disso, o barulho lá em casa fazia-lhe muita impressão pelo que, quando lá íamos ao magote, se encostava a porta do quarto. Ele já não ouvia nem via nem gostava que o vissem assim pelo que não levávamos os meninos para o pé dele. Os meninos andavam pela casa ou pelo jardim, lanchavam, brincavam uns com os outros e nós tentámos que a confusão não perturbasse o meu pai.

Pois bem. Qual não é o meu espanto quando, um belo dia, talvez um ano ou mais depois daquele dia, esse menino mais velho se sai com esta: 'Ó Tá, é verdade, tenho-me esquecido de perguntar: naquela vez o avô chegou a sobreviver...?' Fartei-me de rir. 'Ó seu maluco, seu despassarado... Claro que sim, está vivo, está lá em casa... Não estás farto de lá ir depois disso? E não reparas que dizem sempre para não se fazer barulho...?'. Pensou um pouco, 'Ah, sim...' Mas ah sim como podia ser ah não. Foi como se naquela tarde a que assistiu à nossa aflição, ele, tão pequenino ainda, tivesse feito o luto. E virado a página.

E eu acho graça a isto. Enquanto cá estamos é de aproveitar e rir porque, quando virarmos a esquina, já não estaremos cá para nos arrependermos e para gozar os bons momentinhos que não gozámos enquanto podíamos. E rapidamente perderemos a importância que tivemos para tantos dos que nos rodeavam. E isto seja aos 20, aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70, aos 80, aos 90, aos 100 e por aí vai. Cada bocadinho de vida é para ser vivido o melhor que pudermos e soubermos. O resto é conversa.

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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Alegria. Paz.

1 comentário:

António Ladrilhador disse...

"Cada bocadinho de vida é para ser vivido o melhor que pudermos e soubermos. O resto é conversa"
Um belo estímulo para o arranque de um dia complicado!
Obrigado.