sábado, agosto 27, 2022

O que guardamos na carteira (e outras coisas de mulheres)

-- E Kate Moss e o seu Cosmoss --

 


Uma vez um amigo perguntou-me se eu tinha uma coisa qualquer, provavelmente chicletes. Sei que lhe disse que sim e, como não estava perto da minha carteira mas ele sim, disse-lhe que procurasse ele lá dentro. Ele, bem mandado, ia fazê-lo. Mas eis senão quando um outro, o Chico, exclamou: 'Não vás, pá. Nunca se mexe na carteira de uma mulher. É um perigo. Quando a gente lá mete a mão nunca se sabe o que lá vai encontrar'. Fartei-me de rir e pensei que, de facto, ainda bem que ele não tinha metido a mão. Poderia ter encontrado uma saqueta com um penso higiénico, por exemplo. Ou sabe-se lá que mais.

Agora já não uso carteiras tão pejadas. Carregava pesos excessivos e o pior é que, quando queria encontrar alguma coisa, era um castigo. Tinha que vir muita coisa cá para fora até que aparecesse o que queria. Agora uso geralmente uma carteirita pequena, quase redonda, em pele cor de pérola. Tenho atravessado o ano corrente sempre com ela. Ainda hoje a minha fila me disse que a bolsita já viu melhores dias e que já se arranjava outra melhor. Mas não. Agora estou assim. As coisas, se servem e me agradam, vão até ao limite. Já lá vai o tempo em que tinha uma carteira de cada cor para fazer pendant com a restante toilette. Frugalizei-me e sinto-me bem assim.

Esta que agora uso tem uma alça comprida que dá para usar à tiracolo e tem um tamanho que dá para lá meter a bolsa dos documentos que tem um sub-bolso para o dinheiro, dá para as chaves, para o telemóvel, para o pente, para um baton, para papéis variados e de origem e função desconhecidas e outros pequenos objectos não identificados. Dimensão perfeita. 

Dantes tinha um baton em framboesa, outro em rosa-praia, outro em carmim, outro só gloss para um brilhozinho rápido quando os lábios o pediam e eu tinha como satisfazer o pedido. Agora tenho só um na cor rosa framboesa light. Uso nos lábios ou como um blush, quando me apetece dar um subtil toque de rouge ao semblante.

É como a bolsa dos documentos. Passei anos a tentar a carteira ideal para documentos e dinheiros. Usava-as grandes. Ficavam gordas, obesas, mal fechavam, tantos os cartões, o dinheiro, as fotografias e sabe-se lá mais o quê. Depois passei para umas mais pequenas. Também com compartimentos para tudo e mais alguma coisa. Acabavam feitas ovo a deitar por fora. Até que numa lojinha chinesa descobri a bolsinha ideal: pequenina, de um material que parece pele mas é coisa sintética, sem trolorós. Uma bolsinha simples, sem divisórias ou pretensões, apenas um fechinho de zipar em cima. Os cartões todos juntos. De lado, um bolsinho também com fechinho onde guardo uma nota e umas moedas. Simples e eficaz. Perfeita. Dantes eram de pele, de boa qualidade, caras. Esta, que é a melhor que já tive, se custou 10€ foi muito. 

Hoje eu e a minha filha e os meninos fomos almoçar fora com a minha mãe. Às tantas, a minha filha viu que a avó tem fotografias na carteira dos documentos e do dinheiro: várias fotografias minhas, formato passe, de quando andava no liceu e uma na faculdade, fotografias dos meus primos, fotografias dos netos, fotografias do meu pai. Fiquei como sempre fico quando constato que há pessoas que conseguem conservar as coisas durante toda a vida sem nunca lhes perderem o rasto. Em tempos também tive fotografias mas tantas vezes mudei de carteira que faço lá ideia do paradeiro do que lá estava dentro. Perco o rasto às coisas e já me convenci que isso é genético, ingerível e incorrigível.

A minha mãe também conserva uma agenda com números de telefone. Está numa mesinha ao pé do telefone fixo. Se alguma vez tentei ter uma agenda assim já não sei dela. Não tenho. Nada se conserva nos sítios destinados. Se algum dos miúdos vê uma agenda onde quer que seja, logo pega nela para fazer desenhos, para brincar às empresas, para o que calhar. Depois muda-a de sítio. E depois eu esqueço-me dela. Se ficar sem o telemóvel ,perco a minha ligação com o mundo. Os únicos números que sei de cor são o do meu próprio telemóvel e o número do fixo da casa minha mãe, porque é o mesmo desde sempre, desde que eu lá morava.

Enfim, é o que é. Não vale a pena querer ser quem não sou. Creio que a minha mãe ainda alimenta alguma secreta esperança de me conseguir educar mas é uma ilusão. 

Engraçado é ver a Kate Moss a mostrar o conteúdo da sua carteira. Também sai de lá tudo e mais alguma coisa. Uma graça.

What does Kate Moss, our September 2022 cover star, keep in her bag? | Vogue France

Kate Moss is our cover girl for our September 2022 issue! In this edition, her out-of-this-world beauty is captured by Carlijn Jacobs in an exclusive fashion shoot. If, like us, you have always wondered what Kate Moss keeps in her bag, you are in luck as the supermodel, who will soon launch her own beauty brand, took part in our, "In the Bag" series, to share the secrets hidden inside her handbag!


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As fotografias que usei são obviamente de Kate Moss 
(que está prestes a lançar a sua própria linha de produtos de beleza, Cosmoss)

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Desejo-vos um bom sábado
Saúde. Bom humor. Paz.

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