quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Perto da mãe-terra, numa ilha in heaven, vivendo a vida que vou construindo

 


Bem. Hoje de volta ao local de trabalho, ou melhor, de teletrabalho. Infelizmente nem sol, nem temperatura agradável, nem um minuto para poder passear no jardim. Regredi aos dias de cinza. Os escassos minutos livres serviram para fazer sopa, ao início da manhã, antes de pegar no batente, e, antes da última reunião da tarde, uma versão simplificada e light de cozido à portuguesa. Aliás, pus ao lume, deixei que fervesse para baixar o lume, e fui. 

Dia compacto, daqueles em que uma leve dorzinha de cabeça começa a desenhar-se, devagarinho, e, aos poucos vai começando a ameaçar achegar-se.

Acresce que, depois de uma reunião em que infrutiferamente tentei desatar um nó górdio, justamente essa tal última, quando me arrastei até à sala com vontade de fechar os olhos e descansar, recebi um telefonema de um dos participantes para comentar o que se tinha passado e para me contar algumas coisas, coisas deveras complicadas, coisas que, segundo essa pessoa, apenas me contava a mim pois receava contar a outros por medo do que pudesse acontecer-lhe caso se soubesse que tinha partido de si a informação. Minutos antes tinha-me dito: Aquilo ali é muito complicado, tudo se vende, tudo se compra, tudo. Ali tudo se trafica. Estava cansada e a precisar de descansar a cabeça depois de tanta reunião e de tantos assuntos a resolver mas, confesso, ao ouvir o que me estava a ser dito, pensei que não sei nada da vida pois há tantas e tantas vertentes ocultas que por muito que se viva há sempre muito que desconhecemos. Mundos ocultos que sobrevivem graças a esta teia de silêncios que, anonimamente, se vão urdindo em volta. Por conivência ou receio, esse submundo sobrevive protegido num casulo invisível e inconfesso.

E depois é isto, dilemas (ou melhor: questões) em que me vejo envolvida: quando a gente não sabe, não sabe, vive na ignorância; e nada há de melhor para que se viva despreocupadamente do que viver na ignorância. Agora, quando se sabe, como se pode continuar a viver fingindo que não se sabe?

E é assim que estou agora: ainda sem saber como digerir a informação, sem saber o que fazer. 

Claro que, pelo meio, justamente quando fiz a breve e acelerada caminhada da hora de almoço, consegui a proeza de deixar que a minha ideia de pinturas e arranjos da casa de campo assomasse, feliz, à minha mente. Lembrei-me de outra coisa: há montes de lenha espalhados por vários bancos. Não consumimos lenha ao ritmo a que ela é produzida. E, agora, pelo menos três ou quadros bancos de pedra e também o abrigo estão inutilizados para o uso para o qual foram concebidos. Então pensei na solução que, nesta casa, o anterior proprietário encontrou para o mesmo problema: num canto da horta, fez uma espécie de telheiro, com uma armação coberta dos lados com uma espécie de estore de ripinhas de madeira por cima de outros de oleado, e, por cima, com uma cobertura metálica que imita telha. Fica muito discreto, muito bem integrado, e a lenha fica ali bem guardada. Sugeri ao meu marido que fizéssemos lá o mesmo. Disse: 'É o que eu temia. Agora não vais parar.' Mas a verdade é que ainda nem comecei e, para dizer a verdade, nem sei se vou começar. Sem poder circular, não sei como se pode levar a cabo uma empreitada destas.

Um tronco já ressequido
só poderá reviver
dando lenha a outra vida.

Seja como for, é bom ter uma coisa em que pensar. E os meus pensamentos melhores têm a ver com fazer coisas, com projectá-las, imaginá-las. Fecho os olhos e é como se as visse. Na verdade, acho que nem preciso de fechá-los. Simplesmente, ausento-me para lá, para onde os meus pensamentos me levam.

Sentir-me bem em casa, viver junto da natureza, ter um espaço agradável para receber aqueles que o meu coração ama é das coisas boas da minha vida, talvez das mais importantes.

E é isto: como sempre, muito pouco a dizer. Junto a esta prosa frouxa umas fotografias feitas na terça-feira in heaven para ver se mantenho a alma lavada enquanto ouço um sonzinho bom. E nada mais. Até porque aqui, na realidade, também não posso falar de tudo o que me preocupa, não é? Um dia destes, ainda arranjo um diário a sério, daqueles em que a gente pode falar de tudo o que nos apoquenta ou exalta ou comove ou assusta.

Até lá, entretenho-me com estas conversinhas e com uns vídeos que me transportam para outros paraísos, bem longe das minhas cercanias. Santa Helena. Uma ilha onde parece que toda a gente é feliz. 

(À falta de melhor alternativa, a partir do título dos vídeos deu-me para compor o título deste post).


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Close To The Earth

'I grew up like a wild boy. And that's a lovely way to live.' - Stedson Stroud.

Stedson is a conservationist and botanist on St Helena Island, and has helped to bring a number of endangered endemic plants on the island, back from the brink of extinction.


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Life Is What You Make It

Life is what you make it. You get the rough with the smooth.  I don't let things get me down.' - Marcus Fowler

We all complain sometimes.  But there are so many people in the world for whom life is a daily struggle.  It's important to remember how lucky we are.



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Paradise Island

St Helena is one of the most remote islands in the world. The locals of St Helena refer to themselves as 'Saints', and Gary Stevens is one them.

Gary used to think that there were greener pastures elsewhere, but he has realised that he lives in paradise.  He shares a beautiful message about appreciating what you do have in your life.

"Always look to the bright side of things, and never let little things get you down. Just think of what lumps of gold you've got in your hands that you can't see."- Gary Stevens



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Desejo-vos um dia feliz.

Saúde. Cuidado. Ânimo. Alegria.

6 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Cozido, tão bom, hoje será cá em casa. Agora no Continente vendem packs com as carnes e enchidos a preço muito bom e de boa qualidade.

E a chuvinha está de volta, que o inverno seja inverno, já que temos andado a avariar isto tudo, mas ao que parece a pandemia tem servido de detox atmosférico.

Um rico dia.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Ando tão afastada do mundo que agora já nem quase vou ao supermercado. Quando vou, talvez de quinze em quinze dias ou mais, abasteço rapidamente carnes e peixes e kefir e produtos de limpeza num pequeno supermercado não muito longe daqui e os frescos, fruta e legumes, vêm trazer aqui a casa, de uma pequena mercearia onde encomendo por telefone.

Por isso, já não entro num Continente há nem sei quanto tempo....

E aqui, ao fim da tarde, desatou a chover a bom chover. E esfriou. Custa-me tanto estar fechada em casa, a ver o cinzento e o frio de fora a vir para dentro... O inverno faz falta, sim, e ainda bem que está a ser inverno. Mas preciso tanto de sol e de luz.

Mas eles hão-de vir.

Abraço. E espero que o seu cozido tivesse estado de detrás da orelha, apetitoso.

Dias felizes, Francisco.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Invariavelmente uma vez por semana temos de ir às compras, nós aqui vamos ao Continente/Modelo e ao E.Leclerc, neste último é onde compramos o comer dos animais.

Aqui não faz assim frio frio, mas claro nada tem a ver com os dias de sol que tivemos. O vento tem estado ao sabor de ouvir o mar, tão bom.

Fechado acabo por não estar totalmente pois para além das compras necessárias, também dou consultas numa clínica de Psicologia nas Caldas e por vezes vou ler na Missa (sem assembleia e transmitida online), por isso sempre apanho um ar sãomartinheiro.

Está maravilhoso, vou papar hoje o resto.

Happy days!

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Engraçado como uma pessoa que estuda a mente e, provavelmente, os seus limites, conseguindo encontrar explicações para os comportamentos e pensamentos, consegue conciliar essa análise com um fenómeno tão inexplicável como a fé.

Sempre sinto alguma perplexidade perante a fé de pessoas ligadas à ciência, à análise, à investigação. Dá ideia que desligam o seu lado racional para deixarem que a mente vagueie por territórios onde as explicações são desnecessárias.

Penso que é perplexidade que nunca vou resolver.

Dia feliz, Francisco. Que os sons do mar continuem a chegar-lhe!

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Para mim a Fé é algo que se tornou tão inerente que posso racionalizar o mais possível que é algo que pulula e vive no meu interior. Costumo dizer que mesmo que quisesse não conseguiria ser ateu.

Hoje chuva copiosa abafa um tanto o som do mar, mas esta noite quando me deitei ouvia perfeitamente.

Bom fim-de-semana, riqueza.

Um Jeito Manso disse...

Francisco,

Ser homem de Fé e com tamanho amor ao mar, à terra, aos animais (e às pessoas, claro), é ser certamente uma pessoa muito inteira e propensa à felicidade.

Um dia bom, Francisco.