sexta-feira, fevereiro 28, 2020

Alguns bem-pensantes que eu conheço
(desabafos em noite de inquietações)





A dúvida que tenho é: um dia que possa falar, falarei, ou, pelo contrário, não quererei perder mais um minuto da minha vida com as fracas figuras com que me tenho cruzado?
Os cobardes. Tantos. Os tacticistas, os interesseiros. Tantos. Os inertes. Aos montes. Os oportunistas. Tantos. Os zeros que só sabem dizer mal e nada acrescentam. Tantos. Os irresponsáveis. Demais. Os inconscientes. Demais. Os bajuladores. Montes. 
Quanto da história das nossas empresas, da nossa economia e do nosso país se explica por tão grande número de imprestáveis?

Em geral, traço uma linha, que me é ditada pela minha consciência, e por aí vou seguindo o meu caminho. Desalinhada, têm-me dito. pergunto sempre: Desalinhada em relação a quê? A uma linha torta? Outras vezes, cobardemente, justificam-se como se a culpa fosse minha por estar desfasada no tempo: Ter razão antes de tempo é igual a não ter razão. Se sabem que tenho razão, porque a ignoram? 

Em certas situações, só me apetece dizer palavrão, dar joelhada nos seus miseráveis tomates, imprimir numa folha A4 'Se acontecer alguma coisa, atirem-me ovos podres à cara porque sou um cobarde e um irresponsável' e pregá-la nas costas dos seus impecáveis casacos.

Coração ao largo, menina, abstrai-te, pensa em coisas boas, marimba-te neles -- penso. Mas não é fácil. Há dias em que não é fácil.

E ocorre-me: e se um dia fizer de conta que me passei e desatar a dizer aqui para que todos saibam? Os nomes por extenso, os actos enunciados: 
Fulano de tal, perante isto, fez aquilo. Sicrano, perante a necessidade de fazer isto, fez aquilo. Beltrano, perante o risco disto, fez aquilo. 
Ou seja, e se eu deixar de ser solidária (ie, cúmplice) e desatar a dizer tudo?

Mas não: Roma não paga a traidores.

E, de resto, será que o que é importante para mim, é importante para mais alguém? Com tanta nódoa por todo o lado, que interessa a denúncia de mais umas quantas? Provavelmente, quem lesse encolheria os ombros com indiferença e diria: Incompetentes. E daí? Isso é o que mais por aí há a pontapé. Qual a novidade? Dahhhh.

Por isso me ocorre: se agora não o farei, será que um dia que esteja livre, sem amo, recordarei e revelarei estas minhas revoltas? 

Ou esquecerei?

Ou farei algo mais inteligente: vídeos de 'Lições aprendidas', descrevendo aquilo a que assisti como o que não deveria ter acontecido?

Ou farei guiões para séries cómicas, parodiando o que são os comportamentos típicos de grande parte da classe bem pensante do país?

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Pinturas de Yolanda Dorda ao som Heaven Is Closed na interpretação de de Willie Nelson

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E, para (des)anuviar, queiram descer para ver um vídeo que tem que se lhe diga: Be a Lady.

E uma boa sexta-feira!

2 comentários:

Anónimo disse...

Cúmplices por omissão de filhos da puta é o que mais há. Como dizem nos casamentos dos filmes "que fale agora ou se cale para sempre"

Um Jeito Manso disse...

Se as coisas fossem assim tão fáceis...