quinta-feira, setembro 12, 2019

Portugal, terra mais linda do meu coração






Ainda estou de férias. Chegam-me mails, tenho que responder a alguns, tenho que despachar uma ou outra coisa mais premente. Mas sinto-me distante. O que me enviam parece-me coisa pouca, coisa que quase se resolveria por si. Outras coisas parecem-me mal encaminhadas. Leio e penso: uma vez mais, a gastar-se dinheiro para nada, não é nada daquilo. E fico a pensar se não deveria enviar um mail ou fazer um telefonema a alertar. Mas opto por não dizer nada. Seria chover no molhado. Não vale a pena. Coração ao largo.


Aqueles meus calções brancos, os que comprei numa loja de chineses em Lagos, têm-me dado um jeitão. Lavo-os ao fim do dia e, no dia seguinte, sem serem passados a ferro, estão impec. Ou com uma coisinha de nada para ir para a praia, tendo o cabelo apanhado e umas havaianas brancas de tirinha douradinha clarinha, ou com um camiseiro florido ou uma túnica engraçada, brinquinhos postos para dar um arzinho e cabelo solto e uns ténis, para usar a passeio, estão sempre au point. Com um senão. As pernas muito visíveis. O meu marido chama-me a atenção: 'Serão pernas que se apresentem?''. E até estão num tonzinho a atirar para o bronzeado. Não é isso, portanto. A questão é que, in heaven, ando sempre com elas a todo o léu, em especial se somos só os dois (e mais os gatos e cães que por lá aparecem para a galdeiragem). E ou porque quero tirar uma dúvida a limpo ou porque vou dar uma ajuda no desbaste que o meu marido não se cansa de infligir a aroeiras, azinheiras, madressilvas e outras pobres árvores e arbustos a verdade é que não me cinjo aos caminhos empedrados tendo que me adentrar por onde calha. Ou seja, não há dia em que não nasça novo little arranhão. Sendo de pele clara, tudo se nota. Seja quando está fresco, por vezes em sangue, seja na fase de cicatrização em que ficam riscos igualmente avermelhados, não há como disfarçar. Nem tento. Aliás, nem me lembro de tal coisa. Ele é que me pergunta. E eu só penso é que, quando for trabalhar, não terei pernas capazes para usar saia ou vestido. A alma é de camponesa mas a pele é urbana. 


E isto dos calções vem a propósito do que me ajudam a reduzir o guarda-roupa necessário em caso de emergência.

Explico.

Ontem já quase não tínhamos nada que fazer. Máquinas de roupa feitas, lençóis e toalhas estendidas nas cordas entre árvores, depois tudo apanhado, dobrado e arrumado, casa mais ou menos limpa e arrumada, incapacidade para me pôr ao computador durante o dia de tal forma estou habituada a pegar nele só a desoras, ele as portadas já lixadas e o bondex aplicado, mato desbastado, laranjeiras regadas, candeeirozinhos solares aplicados na entrada da casa, etc, parecia que o tempo nos estava a sobrar. Dá ideia que não conseguimos habituar-nos ao descanso. Temos que estar a trabalhar, a trabalhar a bom ritmo, a despachar. E quando sobra tempo ficamos entediados.


Portanto, ontem à noite resolvemos que estava mas era na hora de nos pormos a caminho. Pensámos em Espanha mas ou o lugar ou os hotéis ou a distância ou o não sei o quê não nos convencia. Para sul, não. Para o lado, não. Para a Galiza talvez. Mas onde que fosse mesmo bonito e o sítio onde ficar também bom?

À noite, em conversa com o meu filho, ele perguntou o que íamos fazer e contei-lhe destes quadrilemas. Contrapôs uma alternativa em Portugal. Disse-lhe: ainda há um ou dois anos lá estivemos, já fomos tantas vezes... A verdade é que me apetecia algo. Sem o saber o meu marido perguntou se um lugar mais ao menos na região que o meu filho sugeriu não seria uma hipótese. Abanei a cabeça, encolhi os ombros. Outra vez...? Ele também não estava muito convencido. Mas, pelo sim, pelo não, vimos hotéis. E, então, eis que um nos pareceu agradável.


Hoje, estava a tomar o pequeno almoço quando ele chegou da rua, perguntei-lhe o que fazíamos. Vamos? Vamos, disse ele. Liguei para o hotel e marquei.

Não fizemos mala. Não há pachorra para andar com malas. Juntei umas roupecas, pouca coisa, fatos de banho, escovas e pasta de dentes, protector solar e hidratante e coloquei tudo numa little mochila. Ele foi ainda mais minimalista mas guardou também uma toalha daquelas ultra fininhas. E mais o computador. E, em menos de nada, estava feito. Pusemo-nos a caminho.


Fizemos um pequeno desvio, para almoçarmos junto ao mar e revermos a bela Princesa. E depois foi só mais um bocadinho. Ainda não há muito aqui tínhamos estado mas coisa breve, de passagem. E já aqui tínhamos estado, várias vezes, embora nunca aqui ficando. Isto que me lembre. Embora me recorde de um belo jantar. Se calhar, ficámos uma noite a caminho de qualquer outro lugar e, nas outras vezes, vínhamos à praia mas estávamos numa outra cidade. Mas sempre vínhamos fixados era na praia, não na cidade ou vila. 


E hoje, aqui instalados, explorando o lugar em si, independentemente da praia que sempre procurávamos (embora lá tivéssemos estado também, claro), tem sido uma epifania atrás de outra. Lugar mais lindo. Mais lindo, mais lindo. Que País mais lindo o nosso Portugal. Mais lindo, mais lindo. Que encantamento sinto.

Fiz quase duzentas fotografias. O tempo que agora levei a escolher algumas. Já com sono e nisto. Mas gosto de mostrar o que os meus olhos vêem pois quero partilhar o meu amor por este país tão lindo, tão diverso, tão bom para se viver.


Ponho-me a pensar nos outros lugares bonitos de outros países que conheço e não há outro lugar que me lembre de ser tão bonito como os lugares mais lindos do meu país.

Passeámos toda a tarde, rio e mar, dunas e serras. Até ao belo e sereníssimo anoitecer.

Depois, pela vila. Tanta gente... E que terra tão linda, tão diferente de como me recordava dela.

Andámos até à noite, uma noite fresca, e a vila a esvaziar-se de gente. As ruas, anoitecidas, silenciosas, tudo tão limpo, tão arranjado e bonito.

Aliás, todo o pais tem vindo a ficar mais bonito, todas as terras se embelezaram. Eu ia a qualquer outro país e vinha de lá fascinada com a forma desempoeirada como as pessoas curtiam a rua, as esplanadas, os jardins, enquanto, por cá, as ruas estavam vazias, soturnas, não havia esplanadas, ninguém caminhava nos parques ou à beira-mar, ninguém apanhava banhos de sol na relva dos jardins públicos, ninguém ria e conversava em voz alta. Era uma tristeza.

Agora, nada disso: agora as esplanadas, as praças, as ruas, os passeios ribeirinhos, tudo tem gente, gente que dá vida e graça às terras. 


Bem. Stop.

Ponho-me a escrever e esqueço-me que aqui, na net, as coisas são para ser breves, ninguém tem tempo ou paciência para grandes lençóis descritivos. Mas eu gostava que toda a gente conhecesse bem Portugal em vez de andar a conhecer outras terras. Claro que nem toda a gente terá posses para viajar. Mas há comboios, autocarros, há hostels muito em conta. O importante é conhecer e dar a conhecer o país, amar este nosso lindo país. 

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Para aqui pôr, estive a ver se me lembrava de alguma música portuguesa de Portugal dedicada ao mar ou aos rios, mas não queria uma coisa muito óbvia, muito conhecida. Nem Amália nem Dulce Pontes nem o Fausto.  Não me ocorreu. Fica a Bethânia, madrinha dos mares, presença que aqui sempre me abraça a alma.

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Desejo-vos a todos uma bela quinta-feira. 
Portem-se mal. 
Sintam-se bem.
Combinado?

2 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A UJM deveria ser uma embaixadora do Turismo de Portugal, este seu texto e as suas fotos valem muito mais que todas as campanhas de promoção do país.

Continuação de ricas férias.

Um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Ora aí está uma coisa que faria com todo o prazer: divulgar os bons lugares do meu País. E, à pála disso, gostaria de conhecer pessoas de cada lugar que visitasse. Gostava de perceber se vêem e sentem o lugar com os mesmos olhos deslumbrados com que eu os vejo.

Thanks pela amabilidade das palavras.

Um abraço e uma bela friday para si, Francisco. Enjoy.