sexta-feira, agosto 16, 2019

Quem é o palhaço na palhaçada do Pardal?
Sei mas não digo.
Por isso, avanço para as deepfake e para o morphing -- mais duas bolas a saírem da caixinha de Pandora


O meu dia feriado foi passado in heaven. A família reunida, as crianças felizes, todos bem dispostos em volta da mesa. Todos na conversa, todos contentes por estarmos juntos. De manhã à noite. Cheguei tarde a casa. E ainda me fui pôr a ver o Alone. Portanto, passa da uma da manhã quando abro o computador. 

Parece que a tal grande cruzada do Pardal que tanto entusiasma os adeptos do Bloco de Esquerda vendo naquela palhaçada (Pardal dixit) uma nova alvorada nestes tenebrosos tempos de ditadura, vai acabar no ridículo. 

Os outros sindicatos estão a percorrer o caminho das pedras, avançando na negociação, estabelecendo acordos enquanto o Sindicato que o Pardal engendrou (para lhes sacar umas massas a redigir estatutos? a assessorá-los? a apresentar queixas e o escambau? para conseguir mediatismo? para lançar a confusão no país? -- you name it) vai sendo exposto ao ridículo, isolado, reduzidos a um grupo de ingénuos manipulados por um artista como há tempo não tínhamos sob os holofotes.

E, no fim, veremos quem sairá chamuscado de toda esta pífia história a que o próprio Pardal chamou palhaçada
E não me refiro ao Pardal que a esse, cá para mim, um dia destes acontecerá algo mais do que um simples chamuscamento -- mas isso o tempo o confirmará. 

Por isso, não é ao Pardal que me refiro. É que, cá para mim, para além do PSD, o BE também não vai ficar nada bem na fotografia. Como se a maturidade que vinham começando a demonstrar fosse fingida, logo a deixaram cair, mostrando que o espírito de grupelho que se péla por encenar o reviralho ainda não saíu de dentro deles. É pena. E revelaram falta de presciência e, também uma forte apetência pelo populismo. Viram o filme desta greve selvagem todo ao contrário, colocando-se ao lado de alguém a quem ninguém de bom senso alguma vez comprará um carro em 2ª mão.

Mas isto foi o que fui ouvindo durante o noticiário da TSF. Tirando isso, nada mais sei e, provavelmente também não perdi grande coisa.

Face-morphing of assorted celebrities

O que sei é que esta outra coisa que dá pelo nome de deepfake tal como essa outra coisa que dá pelo nome do morphing são duas bolas que saíram do saco quando dentro dele deveriam ter ficado para todo o sempre. A caixa de Pandora foi aberta e de lá só saem monstros.

A inteligência artificial ao serviço de tudo o que der na bolha de quem domina a tecnologia é um perigo quando não existem linhas vermelhas de qualquer espécie.

Jornais como The EconomistThe GuardianThe New York Times ou outros vão alertando para os riscos de andarem monstros à solta que jamais poderão voltar para dentro da caixa. Mas quem é que quer saber de temas destes? Está bem, está.

AI brings Mona Lisa to life

Claro que nisto do morphing ou das deepfake pode haver muita utilização inócua: no marketing, na publicidade, em vídeos cómicos, por exemplo. O pior é quando a coisa é usada com maus intuitos, para enganar o maralhal, para que ninguém já saiba o que verdadeiro ou falso, para que os falsários neguem evidências dizendo que é tudo mentira, que não eram eles, que o que se vê é morphing, ou que não foram eles que disseram aquilo, que foi tudo deepfake. Ou, o contrário: imagine-se que começam a aparecer vídeos do nosso ubíquo Marcelo a falar com a voz arrastada, a dizer inconveniências, como se tivesse tido um almoço bem regado e tivesse perdido a noção... e que a coisa vira viral e que, às tantas, toda a gente comenta e... -- e às tantas já ninguém vota nele nas próximas eleições porque ninguém quer um presidente que envergonha a família e o país. E tudo baseado em vídeos forjados com recurso a estas tretas. E por muito que muito boa gente desmentisse, dos desmentidos já ninguém quereria saber porque o que tem graça são vídeos que arrasam 'os poderosos' e 'os políticos' e não desementidos que são uma seca.

E o que me preocupa nisto é que todas estas coisas vão fazendo o seu caminho num mundo apático, em que nada disto é regulamentado. Os humanos são bons a descobrir 'cenas' e a adoptar e adaptar tecnologias que atentam contra a sua boa existência.

Mas não vos maço mais. Peço apenas que vejam os vídeos abaixo e que, por favor, pensem.



Deepfakes: Is This Video Even Real? | NYT Opinion


---------------------------

E uma boa sexta-feira.

3 comentários:

Gato Aurélio disse...

...definitivamente a Humanidade tem ciclos...e este ciclo de exposição, da imagem, do "importante é ser falado mesmo que mal", parece-me que felizmente está a morrer... Lá voltaremos ao "papel", às televisões visíveis, às rádios audíveis...
O que é realmente preocupante nesta fase é o aproveitamento dos "culpados", pois...vocês não sabem que isto é tudo "fake"?!? Isto é que me assusta...

Anónimo disse...

Notas soltas possivelmente demonstrativa de psicopata social: 1)Não duvido que o objetivo primeiro de Pardal seja ganhar umas massas valentes à conta do sindicato, mas agora deve andar tão inchado com o recém adquirido protagonismo que vá lá saber-se quais as ambições atuais. 2) Por outro lado: ontem ouvia um camionista de pesados de mercadorias que falava de terem de ser os camionistas, depois de 10/15 horas de estrada a terem de fazer os descarregamentos nas grandes superfícies, enquanto o receptor toma notas. Agora que penso nisso já vi acontecer, embora nunca me tenha ocorrido o esforço extenuante a que isso exige e nos perigos inerentes. Pelo amor de Deus, acabem com isso. 3) E, já agora, de caminho, aumentem os salários miseráveis das pessoas (não, não estou a falar de ajudas de custo - queria ver os doutores que se insurgem contra os tais 800€ e tal euros a ter esse plafond para pernoitar e comer fora 15 dias por mês. É sempre muito dinheiro o que está nas mãos dos outros.) 4) Por mim, que sou pouco mais que uma precária sem férias, bem pode o Algarve ficar sem gasolina, que vou continuar a ir de metro para o trabalho. Afinal, é o egoísmo que vale quando estão em causa os direitos dos outros, não é? Pobres médicos, professores, enfermeiros, funcionários das Finanças e Conservatórias e demais gente boa, trabalhadora e cumpridora e que se vê a jeito de férias estragadas. Mais vale ser como eu, socialmente insensível à miséria alheia.

Abraço,
JV

Paulo Batista disse...

Não me preocupa o que quer o Pardal ou deixa de querer. Preocupa-me a miopia política de quem achou que podia tirar dividendos desta situação (e um desses partidos, é o atual partido de governo).
Já o disse aqui e perdoe-me a repetição: não acho que a ação sindical seja um exercício desligado da política. Tal como não acho que é um exercício restrito a uma dada empresa ou um dado sector.
Os sindicatos tradicionais (aqueles que, bem comportadinhos, conseguiram, durante 20 anos, a inexistência de aumentos salariais) parece que finalmente, mesmo no meio do período de greve, conseguiram um acordo que o próprio patronato classifica como histórico. Tudo isto conseguido num quadro, insólito, no qual os partidos de esquerda finalmente foram tidos e achados para a construção de condições de governabilidade reais (foram frequentemente ostracizados no passado, mais do que "radicais") e onde a semente da peregrina ideia de centristas, liberais e conservadores, apoiantes do ideário do sindicalismo independente como a "machadada" final no poder sindical real e na sua relação umbilical à política, eis que o efeito é inesperado e abriram a caixa de pandora: a reconfiguração imprevisível da ação sindical, deixando-a à mercê de novas influências políticas (movimentos neo-fascistas), que acenderam uma réstia de esperança na alteração do final apregoado no "fim da história".

E isto não anda longe dos problemas da tecnologia, onde não me parece que é mais regulação que falta (ao jeito que os liberais tanto gostam: o estado mínimo, que se limita a "regular" - nem que seja por via das armas), mas mais estado:
- Um estado responsável pela promoção, universal, da literacia digital e tecnológica;
- Um estado que promova o livre e aberto acesso a dados e código fonte de todo e qualquer serviço digital, seja público ou privado;
- Um estado que forneça uma infraestrutura de telecomunicações onde os principios de neutralidade na rede sejam efetivos e não uma farsa.
- Um estado que garanta a interoperabilidade automática e instântanea entre qualquer serviço que recorra à recolha e utilização de dados de utilizadores;
- Etc, etc etc.
Tal como se demonizou a organização coletiva e federada dos trabalhadores, também se demoniza o papel central do estado na gestão da infraestrutura digital e tecnológica. Os resultados serão visíveis no futuro próximo e não auguram nada de bom.

Um abraço,

Paulo Batista

PS: Passei uns dias na Região de Lisboa no inicio da semana e não só andei pelas agradáveis avenidas novas, pela baixa e marginal, como dei uma espreitadela aos arrabaldes (a margem sul fica para as núpcias do Festival de Teatro de Setúbal e/ou do Avante). Sempre de transporte público (autocarro, que gosto de ver as vistas) e procurando carreiras e horários de quem lá vive. Se é verdade que a Lisboa asseada das Avenidas Novas, da Baixa, da Marginal, está mais airosa e cheia (demasiado!) de gente, também é verdade que achei a região muito mais desigual e contrastante. Como reagirão as pessoas quando se aperceberem que a euforia da recuperação económico-financeira as deixou numa posição relativa pior do que aquela de onde saíram? Sim, com mais dinheiro no bolso (talvez... porque preços de casas... preços da alimentação... upa upa), mas numa posição relativa (qualidade urbana?) que as afasta definitivamente as esperanças de ascender sócio-territorialmente? «Chega» e outros que tais? Esperemos que não.