quarta-feira, agosto 21, 2019

A casinha das manas Poppy & Cara.
E alguns dedos de prosa a propósito disto, de casas.







Bem, repetir-me-ei se disser que gosto imenso de decoração. Tal como aqui já uma vez contei, em conversa com a Isabel, tenho um movelzinho cheio de revistas de decoração. Art et Décoration, por exemplo. Ou a Casa Cláudia, também por exemplo. Ou a Casa e Jardim. E outras. Tudo coisas que demonstram à saciedade que sou vcc. Mas, desde tempos imemoriais, sempre gostei. E muitas vezes gosto até mais das casas que são o oposto das minhas. Não interessa. Gosto, mesmo que não tenha nada a ver comigo. Se bem que isto de 'ter a ver comigo' tem que se lhe diga. É que mudo. Pode haver coisas de que eu gostava antes e que hoje já pouco ou nada me dizem. 

Por exemplo. Ainda hoje estive vai que não vai para comprar um vestido que, até não há muito, seria incapaz sequer de supor a hipótese de o usar. Hoje até o provei. E gostei de me ver, caraças. Mas é de tal forma extravagante, tem tais cores, é todo ele tão extraordinário que me parece encaixar em mim que nem uma luva. Só não comprei porque o vestido é tão bonito e tão vistoso que não estou a ver que o pudesse repetir muito. Ora estar a comprar um vestido para apenas o vestir quando o rei faz anos, quando ainda por cima nem rei temos, parece-me coisa para quem é dado a luxos, o que não é de todo o meu caso. Mas isto para dizer que me vi dentro daquele vestido e gostei -- quando antes tinha que ser vestido simples, justo, quiçá em preto. Com as casas a mesma coisa. Saísse-me o euromilhões e era ver a casa que eu ia ter. O oposto desta em que estou. No entanto, gosto da minha. Só que acho que a casa cristalizou no tempo e eu não. 
Mas acontece-me ir a casas de outras pessoas e, sem querer, dar por mim a pensar: aquele espelho está acima demais, aquele móvel devia mudar de sítio, aqueles sofás são escuros de mais. E, confesso, é com esforço que me mantenho de bico calado. Bem, na casa dos meus filhos volta e meia dou palpites. É mais forte que eu.

Quando mudámos de casa ou quando andávamos à procura de uma casa de campo vi montes, resmas, paletes de casas.
Já o contei. Repito-me. Sorry.
Mas ficava estarrecida com o que via. Há casas que revelam a vida triste dos que lá vivem. Há casas que mostram quão fictícias são as vidas dos que lá se esforçam por parecer felizes. Há casas que deprimem quem lá entra, nem que apenas por minutos.

Não me lembro se já contei sobre uma casa que me deu muita tristeza. Era uma casa grande, envolta por um jardim relvado. Quem mostrou a casa foi a dona. Uma mulher bonita, vistosa, platinada, bem maquilhada, bem vestida. A casa, mal entrei, deu-me vontade de fugir. Um hall enorme. Chão aos losangos de mármore em preto e branco. Vitrais nas paredes. Uma escadaria hollywoodesca. Uma sala grande com uns sofás de veludo em preto com almofadas também em veludo, umas em dourado e outras, se bem me lembro, rosa choque. Na sala de jantar, uma mesa de vidro com grandes pés dourados. E uns jarrões gigantes que não me lembro se eram chineses ou achinesados. E aquele chão que só por si canibalizava qualquer decoração. E lá em cima os quartos com grandes cortinados vaporosos e uma colcha com folhos. Tudo uma coisa do além, tudo a pretender ser ofuscante, tudo too much. Um kitsch copioso, quase opressivo. E, então, a senhora, comovida, contou que era com grande desgosto que ia separar-se daquela casa de sonho, uma casa que tão carinhosamente tinha decorado. O marido tinha arranjado outra, tinha saído de casa, estavam a divorciar-se, ela não podia conservar a casa. Estava de rastos.


Tive muita pena. Devo ter dito que compreendia o desgosto, e compreendia mesmo, mas escondi tudo o que pensava pois o que, sobretudo, pensava é que aquela casa era um cenário impossível, uma ficção, ali não seria possível viver uma vida a sério. E quase apostava que a senhora era daquelas que quer manter sempre a casa imaculada, nem uma almofada torta, nunca uma toalha molhada, amarfanhada a um canto do toalheiro.
E digo isto, detestando a maneira como o meu marido põe a toalha no toalheiro. Mas, ao fim de algum tempo, desisti. Que se lixe a toalha. Não vou estar a maçá-lo a ele e a mim por causa de uma toalha. E almofadas fora do sítio, cá em casa é mato. Isso e tudo. Mas a casa daquela senhora era notoriamente o cenário de um filme do qual o actor principal fugiu -- melhor, em que qualquer actor fugiria.
Isto para dizer que as casas são importantes na vida das pessoas. Têm que ser boas para acolher a vida, têm que saber respeitar a vida de quem lá vive. E é bom que deixem entrar a luz e o ar, que gostem de movimento, de desarrumação, que tenham cor e que, simultaneamente, sejam lugares, também, de recolhimento e serenidade. Se, pelo contrário, rejeitam as manifestações de vida ou tentam domesticá-la, então, não são casas, são prisões, são gaiolas, são armadilhas, são uma caixa cheia de tristezas. 

Podia ir, aqui, agora, para enfeitar o texto, fazer umas fotografias às minhas almofadas, às minhas caixinhas de música, às minhas clepsidras, às minhas pequenas ânforas de vidro fosco e cor de água, às minhas molduras com gente desalinhada lá dentro, aos meus livros. Mas não me apetece. Estive até agora com um olho no burro e outro no cigano, deliciada a ver um dos meus programas de eleição, a Prova Oral do Alvim. Já vos contei que adoro o Alvim? Love, love, love. Tudo o que é maluco me encanta. E hoje teve lá outro dos meus malucos de estimação, o Pedro Paixão. Que bom, o Alvim e o Paixão juntos. Um pitéu. Um piteuzaço.

E agora, mal o Paixão acabou a leitura do texto sobre o seu amor adormecido (coisa mais boa de ouvir...), virei para o Alone. Está a dar o último episódio. Emocionante. O David vai ganhar. Quem diria? O mais inábil, aquele que eu achei que não ia aguentar. Foi a força da vontade de obter o dinheiro para pagar os estudos dos filhos, foi a força do grande amor que sempre demonstrou por eles e da vontade de os compensar por nunca lhes ter podido dar o que eles precisavam.

Por isso, já estão a ver, não é fácil levantar-me e fazer uma reportagem fotográfica caseira.


Passo, então, à fantástica casa das manas Delevigne, a Poppy e a Cara. Lá está: acho que nunca decoraria a minha casa assim. Acho. Mas sei lá. Até porque, por acaso, até gosto. Caraças. Gosto mesmo. São da casa delas as fotografias que aqui coloquei. E a graça delas...?



Não é tão gira, a little casinha delas?

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Quanto à perspectiva de mais uma greve do Pardal só tenho a dizer que não há pachorra. Enquanto as televisões continuarem a dar-lhe palco isto não vai parar porque é isto que ele quer: palco para poder exercer a sua agenda pessoal.

Isto vai sair do bolso dos pobres dos motoristas que andam a ser instrumentalizados e ainda não perceberam.

E, senhores juristas, uma questão de carácter geral: qual a forma legal de lidar com uma pessoa que pratica a sistemática manipulação ou o desvio da verdade? Pergunto.

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4 comentários:

Isabel disse...

É...também gosto de decoração, mas não me identifico nadinha com esta casa das manas Poppy e Cara. Se me saísse o euromilhões comprava uma casa rasteira (grande), com espaço exterior que transformaria num jardim (selvagem). Teria piscina. Mas não me desfazia de nada daquilo que tenho, porque gosto das minhas coisas. Parece um pensar pobrezinho, mas é mesmo assim. Não me considero deslumbrada e gosto de coisas velhas, de coisas da família, de peças rústicas. A minha casa de euromilionária também teria muitas pinturas. E, claro, seria uma casa junto ao mar.E teria um pavilhão onde seria o meu atelier (grande, espaçoso e cheio de luz).

Esta casa das manas é muito bonita, mas para hotel de luxo.

Beijinhos e continuação de boa semana:))

(Vi os videos das entrevistas à Maria Bethânea e ao Caetano Veloso e também o da musa de Picasso e achei muito interessantes)

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Eu queria uma casa com um pátio interior, com claustros e bancos silenciosos, e, ao meio do pátio, um jardim com laranjeiras. E se calhar um lago com peixes.

E queria uma divisão gigante, pé direito alto, com livros toda à volta e, num canto, ao pé de uma porta a dar para o jardim, uma mesa grande para eu escrever e na mesa uma jarra com flores. E, dessa sala, num canto, uma porta que mal se visse para onde se passasse para um espaço só meu, um atelier. E lá telas e uma mesa com tintas e música. E uma máquina de costura (embora tivesse que aprender a lidar com ela).

E uma horta. E um bosque com montes de pássaros. Rolas, por exemplo, com rabo em leque. E melros. E uma cozinha grande com uma mesa gigante ao meio. E um forno para fazer pão.

E um quarto com uma varanda reservada para poder apanhar banhos de sol toda nua e nesse quarto quase nada, E ao lado uma divisão com roupeiros à volta para poder ter tudo muito organizado e arrumado.

E uma ala para a criançada toda, camaratas, para poderem estar na conversa e na risota até às tantas da noite.

Agora imagine eu a dizer isto a um arquitecto e o pobre com a cabeça às voltas a ver como traduzir isto numa casa de jeito.

Mas percebo a sua escolha. Gostava de conseguir ser moderada e contida como a Isabel. Quando for crescida gostava de ter a sua sensatez...

Beijinhos, Chabeli.

Anónimo disse...

Ninguém consegue dormir num quarto como o da foto. Mesmo às escuras os losangos põem a cabeça de uma pessoa às voltas.
Abraço,
JV

Isabel disse...

Ah!Ah!Ah! E eu quando crescer quero ser reformada!


Mas a sua casa de euromilionária também seria bem interessante. Uma mistura de mosteiro com palácio! Até consigo visualizá-la!

Beijinhos e bom domingo:))