terça-feira, novembro 27, 2018

É mesmo viciado em livros? Será...?
Ora faça lá o teste.





Rondo as livrarias. Ainda hoje: espreitei en passant, ou seja, passei ao largo. Bem comportada, mostrando indiferença, sem querer saber das novidades. A gente consegue disfarçar e, quando quer mesmo, disfarça tão bem que chega a parecer indiferença a indiferença que a gente não tem. Parafraseio para tentar dar um ar da minha graça. Ia dizer desgraça mas seria seria um exagero. Não se pode chamar de desgraça a uma opção racional. Mas a verdade é que não é fácil. Inquieto-me por não poder saber se algum dos meus escritores de eleição terá escrito um livro que me deitaria por terra e que eu aqui esteja, como se nada se tivesse passado, na maior ignorância.

Não sei dizer melhor: sinto-me como se tivesse entrado num convento, tivesse virado as costas aos prazeres do mundo, a caminho de ficar esquecida de tudo. Mas ainda hesitante. Que pode haver de melhor que justifique uma pessoa fugir das alegrias do mundo? Êxtases divinos? Não, não sou dessas. 


Mas persisto. Fecho os olhos, não quero saber, cansei-me de pecar. Tanto, tanto livro é pecado. Tanta, tanta palavra é perdição. Estou rodeado por eles. A toda a volta os há: objectos de desejo, tesouros, promessas de conhecimento infinito. Mas chega. Os que aqui estão chegam-me. Não preciso de mais.

Afasta de mim, esse cálice. No more livros. Os que tenho chegam-me e sobram-me. Enough is enough.


Ora bem. Chega de converseio que eu a fazer de santinha nem a mim me convenço. Nasci para pecar e não me arrependo.

Bora mas é fazer o teste a ver se há por aí mais viciados como eu, gente agarradinha, daquela que chuta para a veia: palavras a circular no sangue, a oxigenarem a mente, e perfumar o coração.

Assinale as frases em que se revê para no fim fazer a contabilidadezinha:


1 — Comprar mais livros do que é capaz de ler.



2 — Deliciar-se com o cheiro de um livro novo.



3 — Mergulhar incansavelmente num livro e depois ficar arrasado porque a leitura acabou.



4 — Apaixonar-se por um personagem.



5 — Entrar numa livraria prometendo que só vai dar uma “olhadinha”, mas sair com um saco cheia de livros novos.


6 — Torcer para as visitas se irem embora rapidamente para poder voltar a ler.

7 — Insistir para os amigos lerem aquele livro que você adora.

8 — Acordar com dor nas costas depois de adormecer sentado, durante a leitura.

9 — Encontrar posições impensáveis para ler com mais conforto.


10 — Fazer contorcionismos para tentar descobrir o título do livro que um desconhecido está a ler num local público.



11 — Desenvolver a habilidade de ler em qualquer lugar.



12 — Ter a certeza de que a sua estante de livros é o que há de mais valioso em casa.


13 — Prometer não comprar livros novos até terminar a leitura de todos os que tem, mas não cumprir (nunca).

14 — Julgar um livro pela capa.

15 — Amar e cuidar dos livros como se fossem bichinhos de estimação.

16 — Insistir para alguém ler um livro só para ter com quem conversar sobre ele.

17 — Imaginar diferentes maneiras de matar uma pessoa quando ela interrompe a sua leitura por nada.



18 — Ler o mesmo livro após anos e ter a impressão de que é um livro completamente diferente.



19 — Prometer ler “só mais um capítulo” e atravessar a noite mergulhado na leitura.



20 — Ter insónia ao descobrir que um livro que você estava a amar tem um fim terrível.

21 — Comprar livros para presentear alguém, mas acabar por ficar com eles.

22 — Começar um livro novo quando ainda está na metade da leitura do anterior.

23 — Sofrer quando alguém pede um de seus livros emprestado.

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Resultados

Se se identifica com todas as frases ou, vá, com mais de vinte, digo-lhe: é agarradinho, viciado mesmo, coisa na base da maluqueira, caso perdido. Coloque-se uma rédea curta porque V. não é de fiar. Qualquer dia tem que pôr pilhas de livros debaixo da cama, no frigorífico, a servir de mesa e de cadeiras.

Se se identifica com mais de doze e menos de vinte, então saiba que está a caminhar para lá, que é um verdadeiro wannabe, se lhe dão corda ainda acaba pior que o Marcelo que tinha lido tudo, que tinha todos os livros á superfície da terra, que doava livros, que faz feiras de livros 

Se o seu score é abaixo dos doze então ok, esqueça os books, não é a sua praia, na boa. E, olhe, fique-se por blogs como o meu, onde não se aprende nada, que aqui é que se tá bem. Tá do verbo tar, claro.


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As frases e a ideia do post, com alguma adaptação vêm da Revista Bula, de um artigo de Jéssica Chiareli

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E agora não deixe de descer até aos Casados à Primeira Vista para ver se consegue perceber porque é que um Conde que leva com um ferro de engomar nas costas não salta logo para cumprir com a faena para a qual a sua doce e paciente mulher está a aliciá-lo. 

(Paciente é como quem diz, que aquela ali pode ter graça mas paciência e compreensão para com a dormência de parte do corpo do Conde está quieto. Estou a ver que, não tarda, está a despejar-lhe caixas de Viagra em pó no sumo de laranja, que o Conde, sem saber como, ainda fica a fazer a prancha da próxima vez que levar com um ferro de engomar nos costados). 

Mas desça até ao post seguinte que aqui neste é mais livros.

13 comentários:

Anónimo disse...

Escapei a uma... Acabou! Agradeço-lhe este post, UJM. Tenho de me libertar. Eu não era assim!

No outro dia gastei em livros centenas de euros. Plural a sério. Até me envergonho. Pensar que estou descapitalizada, que não tenho poupanças nenhumas. Mas mesmo, não é exagero para dar ares. Loucura completa. Doideira. E tinha estado, dias antes, numa Leya, porque alguém teve a brilhante ideia de marcar encontro aí, achando que me impressionava, com certeza - quando não fez mais que ganhar o meu ódio mortal. É claro que a pessoa que se encontrou comigo não comprou nada. Eu pensei "Bem, um semítico ainda vá, agora dois a entrar sem levar nada...? Vou ao menos levar um, para não parecer mal..." Andava-me essa pessoa a falar em Bukowski. Não é bem a minha praia, mas era o livro mais bonito à vista: capa azulona, com uma mulher-tesoura de saltos altos. Levei, claro. Depois vi um do Vargas Llosa que não conhecia, espreitei a parte detrás, o resumo deixava água na boca. Agarrei. Contive-me a custo até à caixa. Vi o último do Vasco Graça Moura e quase com lágrimas deixei-o lá. Agora já o tenho, pois claro. O que não estou a contar é que dois dias antes, tinha-me deslocado a essa mesma Leya, porque quando o meu amigo me falou nela ainda não a conhecia e fiquei com curiosidade. Não podia entrar só por entrar, não é? Primeiro foi um pequeno Kundera, tão levezinho que não conta. Depois, fui à poesia. Desilusão - não tinha quase nada. Mas tinha uma edição bilingue de um belo poeta inglês. Pensei: "Este é para a minha mãe, fica já para o Natal." Quando cheguei a casa, guardei-o bem escondido. Qual quê? Tivesse eu deixado à vista como os outros que tenho para ler há que tempos e, certamente, nem pensaria mais nele. Assim, foi a voragem que foi. Comprei duas estantes grandes no verão e já tenho livros atulhados na mesa do escritório outra vez. Na semana anterior tinha havido dia de promoção da literatura em inglês e foi outro descalabro. Dos grandes. Por outro lado (literalmente, acabo de receber da Amazon uma encomenda feita há quase dois meses. Coleção estrangeira, que não se vende em Portugal. Os russos já praticamente só compro assim: em inglês ou francês vindos do estrangeiro. Cá nem existem. Pushkine? Um senhor que escrevia prosa, não é? Sobre damas de espadas e a filhas de capitães, certo...? Depois, temos não sei quantas traduções para português do Crime e Castigo. Fã de Dostoievski que sou - como de nenhum outro! - não percebo. Nem falo das mil e uma tempestades do Shakespeare... Já agora, onde anda o Quevedo? Nem em espanhol o encontro! Protomiséria sem fim. Mas vingo-me: os portes da amazon.es para Portugal são... € 0,99.

Porém, isto tem de acabar. É que não leio nem metade, não faz sentido! E continuo a comprar livros que já li - há anos, no iPad, quando era boa menina e ligava mais ao som das palavras na mente do que ao cheiro do papel nas mãos. Tenho de começar a gastar dinheiro em perfumes ou cigarros, a ver se me passa a doideira. Senão, qualquer dia, estou como O Bebedor de Livros - assassino em série por causa desta insana patologia. Gente perigosa.

Abraço,
JV

a outra disse...

Chumbei o texto, porque não são todos os amigos que tento convencer a ler algum livro, só uma ou duas, ainda não pensei em matar alguém que por nada me interrompe a leitura e não tive insónias por fins terríveis...

Isabel disse...

Identifico-me com quase tudo, mas há duas ou três que não! Eu sei que sou uma viciada; mais em comprar que em ler, porque ando tão ocupada, e chego tão cansada ao fim do dia, que pouco leio. Mas compro livros quase todas as semanas. Evito mesmo ir a uma livraria (aqui só há duas de jeito, mas basta-me uma: a Bertrand. Depois a Wook, A Lumière...os livros são o meu grande vício. Nunca fumei, não gasto muito dinheiro em produtos de beleza, só o básico. Roupas, gosto de comprar,mas não me prendo com coisas muito caras...agora os livros...é mesmo um vício e a minha desgraça. Mas fico tão feliz, que acho que só compreende essa felicidade quem pensa igual. Tenho uma biblioteca bastante heterogénea e compro pensando que um dia talvez tenha tempo para ler. Sei que nunca, mas nunca, vou conseguir ler nem uma parte do que tenho e compro, mas não me importo. É mesmo a minha loucura. Paciência!

Achei piada ao comentário da JV. Mais uma ao clube das insanas!

Gostei deste post:))

Beijinhos:))

Um Jeito Manso disse...

JV, brava criatura!

Adorei. Eu podia ter escrito este seu comentário. É isso aí mesmo.

E sabe o que lhe digo: mulheres que lêem são perigosas, melhores que escrevem são perigosas, mulheres que amam livros são perigosas. Prepare-se porque está a caminho de se tornar uma mulher perigosa. O que está dentro dos livros, lidos ou não, dá-nos um poder danado. Quem tem livros e tem por eles tão grande paixão tem, dentro de sim, um poder extraordinário.

Perceba isso. Usufrua disso. As mil vidas que se escondem dentro dos livros vão proteger, guardar e ajudar a sua vida de uma forma fantástica.

Seja feliz, JV, seja feliz de uma forma boa, festiva.

Um Jeito Manso disse...

Olá Outra,

Mas se só falhou essas, falhou poucas. Portanto, vá de festejar esse vício quase total. Livros é coisa boa, animal de estimação do melhor que há.

Dias felizes, Outra.

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

São boas companhias, os livros. Podemos não os ler agora que eles saberão esperar por nós. E mesmo que não tenhamos tempo para eles, eles estão por perto, guardam-nos, estão aí para quando os quisermos.

É loucura, sim, é loucura mas loucura inofensiva, boa.

Beijinhos, Isabel!

Anónimo disse...

Há alguns anos (menos de mil) trocámos ideias sobre este assunto e concluímos que não havia cura possível para tal doença.
Leio muito desde criança. Havia muitos livros lá em casa e eu devorei-os todos (alguns à socapa, diziam que ainda não os podia ler...).
Trabalhei uns anos fora de Lisboa, mas quando vinha aos fds era para vir ao cinema e para comprar livros e discos.
Nunca me passou a "saudável loucura" e, com esta idade, nunca vai passar - e ainda bem!
Agora que vivo nos arredores de uma cidade do interior, apenas com uma livraria digna desse nome, torna-se mais fácil resistir à tentação. Isso e o facto de ter muito menos money para extras. Sendo cuidadora de uma pessoa muito querida que vive comigo, já não posso ir por aí conhecer livrarias e bibliotecas, como tanto gostava de fazer.
Às vezes a vida é sempre a perder, como dizia O Homem do Leme...
Mas para quê lamentar-me? Tenho montes de livros (mais do que alguma vez conseguirei ler) e, de quando em vez, ainda me permito uma ou outra loucura.
Claro que não fiz o teste, não senti nexexidade...
Tenha um dia feliz ⚘

🌲 & 📚 Lover.

Anónimo disse...

Há alguns anos (menos de mil) trocámos ideias sobre este assunto e concluímos que não tínhamos cura possível para tal doença.
Provavelmente já nem se lembra...
Comecei a ler ainda criança, havia muitos livros lá em casa e eu devorei-os todos (alguns à socapa, diziam que ainda não os podia ler...)
Trabalhei uns anos fora de Lisboa, mas quando vinha aos fds era para ir ao cinema e para comprar livros.
Agora que vivo nos arredores de uma pequena cidade do interior, apenas com uma livraria digna desse nome, torna-se mais fácil resistir à tentação.
Isso e o facto de ter muito menos money para extras.
Como também sou cuidadora de uma pessoa muito querida que vive comigo, já não posso ir por aí conhecer livrarias e bibliotecas, como tanto gostava de fazer.
Mas não vale a pena lamentar-me, tenho muito mais livros do que alguma vez conseguirei ler e, de quando em vez, ainda me permito uma ou outra loucura.
Claro que não fiz o teste, não senti nexexidade...

Tenha um dia feliz ⚘

🌲 & 📚 Lover

Anónimo disse...

Ora bolas!
Dois comentários gémeos, ou quase.
Eu a querer publicar, e esta coisa a insistir para eu "inserir", e eu (pitosgas e sonolenta) lá reescrevi e inseri.
E agora saem-me dois.
Ridículo!😄
Se puder e quiser, apague um deles, talvez o segundo.
Caso contrário, fica assim...😗

Como já acendeu luzinhas de Natal aí em casa, deixo-lhe aqui uma Christmas Tree 🎄


Anónimo disse...

Só para partilhar o seguinte: do manancial de livros que recentemente me chegaram às mãos não sei eu como (devo ter estado momentaneamente possuída por um qualquer deus livresco), abri um, o primeiro, em página ao calhas; foram estas as palavras que então surgiram por entre os meus dedos:

"Pensa o sentimento, sente o pensamento;
que teus cantos tenham ninho na terra,
e quando em voo, um dia, ao céu se ergam
nas nuvens não se percam."

Deus bom, deus tão bom!!

Abraço,
JV

Anónimo disse...

E depois, minutos depois, isto:

"Quisiera no saber lo que dijese,
nada decir, hablar, hablar tan sólo,
con palavras uncidas sin sentido
verter el alma."

Chega agora, senão transformo esta secção de comentários em espaço de derramamento poético à discrição, como se isto aqui fosse a Casa da Maria Joana e não da Sta UJM.

JV

Um Jeito Manso disse...

Olá Ms Tree Lover,

Vi os comentários no telemóvel e fiquei na dúvida. Depois vi o terceiro mas se o deixasse ficar e apagasse um dos outros, o 3º não faria sentido. Se o apagasse era mal empregado. Fica assim, tem graça e não ofende. Acontece a gente não saber se o comentário já seguiu ou se se perdeu.

De resto: lembro-me bem de termos falado nisso e dos seus gostos. Quem gosta de livros, está sempre em boa companhia e os momentos bons estão sempre garantidos.

Tudo a correr bem, por aí. Deve estar um frio danado...

Uma boa quinta-feira!

Um Jeito Manso disse...

Ah JV, que palavras tão belas. Eu também sou assim, de abrir e ficar logo rendida ao que acabei de ler. Quer crer que fiz aquela reorganização da minha biblioteca e deixei ficar uma pilha aqui ao meu lado. Abro e leio de vez em quando. Alguns com poemas mais lindos... E não arrumo estes livros. Parece que preciso de ter alguns ao alcance da mão.

E agora tenho que ir ver esse livro e, se não tiver, não vou descansar enquanto o não tiver. Que doença isto...

Olhe, sabe o que lhe digo?: tente incorporar no seu dia a dia algumas destas palavras. Vai deixar o pessoal KO.

Abração!