quarta-feira, novembro 28, 2018

Como distinguir um gémeo de outro?


Lidar, lidar de perto com gémeos só me lembro de duas vizinhas quando eu era pequena. Andavam também na minha escola. Tinham um irmão mais velho e adoravam gatos. Melhor dizendo: massacravam gatos. Tinham imenso jeito para a costura e faziam roupinhas para vestir aos gatos, como se os gatos fossem bonecas. Os gatos miavam, gritavam, tentavam escapulir-se mas uma agarrava e a outra vestia. 

Deviam ter um ano ou dois a mais que eu. Gostava muito delas. A mãe delas dava-lhes liberdade e elas faziam as coisas mais incríveis. O irmão zangava-se com elas, tenho ideia que até lhes batia. Mas elas eram unidas que só visto, defendiam-se bem.

Uma casou com um que tinha um restaurante e ela era a chefe da cozinha. Da outra não sei. Eram iguais. Toda a gente dizia que não se distinguiam. Mas os pais e o irmão distinguiam-nas. E eu também.

Na escola eram uma dor de cabeça para os professores e para os colegas. Eram como se tivessem um poder especial, como se cada uma tivesse ali, à sua disposição, o seu próprio duplo. Eu achava um fenómeno fascinante e, por muitas maluqueiras que elas fizessem, eu achava-as sempre o máximo.

A mãe vestia-as de igual, usavam ambas tranças compridas, tinham a voz igual, riam-se das mesmas coisas.Mas a ideia que guardo é que a mãe as evitava ou as temia. A minha mãe não gostava muito que eu andasse muito com elas mas acho que era porque tinha medo que algum dia um gato se assanhasse e eu fosse atacada por tabela.

Tirando elas só voltei a ver gémeas mais tarde: andava eu no liceu e apareceram umas raparigas novas, giras, giras, desenvoltas, desempoeiradas, ultra modernas. Dizia-se: a mãe é divorciada. Tinha vindo de novo para a cidade, ela, uma mulher alta, elegante, seios grandes, vistosa, e as suas três filhas, muito altas, muito bonitas, muito descaradas. Duas eram gémeas e era um escândalo. Surpreendentes, vindas de um qualquer plateau, roupas nunca vistas. Toda a gente as olhava de lado. Pareciam ter vindo de um outro planeta, de um outro tempo. Falavam muito alto, riam muito. Os próprios rapazes as olhavam de longe, intimidados. As gémeas, então, eram demais. Todas nós, normais, versão reduzida, nos sentíamos diminuídas face a tanta exuberância e, ainda por cima, em duplicado. Tinham também nomes raros. Éramos hostis.  E elas riam-se de nós. Depois, assim como apareceram, desapareceram.

Depois disso, não voltei a saber de mais nenhuns gémeos nas minhas proximidades.

Mas, enfim, nada disso vem agora ao caso. Só estou a lembrar-me disto porque vi uma fotografia deliciosa.


Simples.

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