sexta-feira, agosto 31, 2018

Os diários da Virginia -- um blog que, muito vivamente, recomendo





Sou viciada em leitura. Omnívora. Se vou à cabeleireira, antes de me instalar, vou buscar revistas. Se percebo que as únicas que não li têm mais de um ano, não me importo. Se vou ao médico, o que me alivia enquanto espero é ter revistas para ler, mesmo que sejam da tap ou de artigos médicos de há séculos. Se me põem a revista do ikea na caixa de correio, pego nela como se fosse pitéu caído do céu. Se estou à espera de qualquer coisa e não tenho que fazer small talk, pego no telemóvel e ponho-me a ver notícias, blogs ou mails. 

Antes disto, na fase pré-histórica em que não havia net, preenchia o espaço entre livros com cartas. Na adolescência, o capítulo epistolar preencheu parte significativa da minha vida. Adorava escrever e receber cartas. Agora, não há cartas. Sinto falta da emoção de abrir a caixa de correio e descobrir lá um envelope gordo e de ir a correr para dentro de casa para desdobrar as folhas e ler a deliciosa prosa lá contida. Nos tempos que correm, são mails longos, com histórias de vida. Um presente que recebo agradecida. Pena serem tão poucos assim.


Se passo numa livraria, tenho que entrar e entro com um sentimento quase de urgência, como se não tivesse nada que ler; e, se nada encontro que me agrade, sinto uma frustação irracional.

Os meus gostos são difíceis de explicar: por um lado, sou tolerante quanto a tretas sem qualquer interesse e qualidade e, por outro, sou completamente intolerante quanto a coisas armadas em boas. Pegar num livro com uma historieta sem substância ou escrito num estilo rudimentar é coisa para mim impossível mas pegar numa vip ou numa nova gente de há um ano onde tudo o que lá vejo é estúpido e ridículo e onde, na maioria, se fala de gente de que nunca ouvi falar, já me parece aceitável. É certo que isso só acontece a espaços bem afastados e por não mais do que por uma hora mas, ainda assim, é incompreensível. É como se fosse uma forma de conhecer uma parte do mundo que me é estranha. 


Feita esta confissão, ficará estranho eu dizer que estou cada vez mais exigente quanto à inteligência e elegância da escrita. Mas é verdade. É sem escrúpulos ou remorsos que abandono um livro a meio ou antes de lá chegar se as palavras se arrastarem sem graça, se não for surpreendida por uma forma inesperada de dizer ou não me encantar com a singeleza do estilo, com a luminosidade que transparece das frases. Mais: tolero a insolência, as contradições ou o mau feitio de quem escreve se escrever bem, se me tocar com a emoção das suas palavras. E sinto saudade, como se fosse coisa do coração, se me vejo privada de algumas leituras.

Gosto de ler diários. Não sigo disciplinadamente a cronologia. Posso abrir ao acaso e não sinto falta de perceber a sequência temporal. Mas, se estou com tempo, como agora que estou de férias, vou de carreirinha, certinha, da primeira entrada à seguinte, à seguinte, à seguinte.


Ou blogs. Blogs que sejam verdadeiros. Não gosto especialmente de blogs monotemáticos, monocórdicos. Por exemplo, blogs que têm uma agenda política ou económica bem vincada e não se desviam daí nem um milímetro, não deixando espaço a um estado de alma ou a uma ironia, para mim não são especialmente apelativos. É certo que se pode criar um blog apenas para divulgar receitas de cozinha ou, outro, apenas para falar de livros ou, ainda outro, para mostrar gráficos sobre economia -- têm o seu público e ainda bem. Mas a mim é que me maça seguir um blog que é sempre e só mais do mesmo. Mas pelo-me por blogs com apontamentos diários, genuínos, espontâneos.

Comecei a ler agora o da Virginia e já estou agarrada. Tudo ali tem graça, leveza, inteligência, humor. Há ironia, há desprendimento, há elegância.

Agora não tenho tempo para transcrever alguns excertos pois estou a ser puxada para outro programa mas, logo que possa, volto aqui para vos mostrar porque é que estou a gostar tanto e porque é que tão vivamente o recomendo.


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