segunda-feira, julho 02, 2018

Afinal as mulheres são peludas.
Billie: o anúncio que está a dar que falar



Devo dizer que, talvez por ser de pele clara, nunca fui de muito pêlo. Tenho ideia que as morenas são-no mais. Contudo, mal cheguei à adolescência, vi-me confrontada com a necessidade de me depilar. Ademais, todas as minhas amigas se depilavam e eu não podia ficar atrás, pareceria que ainda não tinha crescido. Em época de praia, então, era tema recorrente. Umas depilavam-se com lâmina de barbear, outras com uma espécie de luva que cheguei a tentar, uma coisa que parecia lixa e que tinha um cheiro estranho quando esfregada na pele. Lembro-me de uma amiga dizer que a tia lhe fazia depilação com açúcar derretido, a quente. Antevi horrores.

Arvida Byström, que teve problemas depois de ter protagonizado este anúncio aos ténis com as pernas não depiladas

Eu ouvia com atenção e na altura, tal como hoje, tenho para mim que não se aguenta mulher peluda, mesmo que pelo claro e ralo. 

Há uma imagem de que nunca mais me esqueço pelo insólito e desagradável. Já aqui falei da minha amiga psiquiatra. Gira, gira. E com uma voz bonita. Alta, bem vestida, rosto e corpo bonitos. Mas maluca que só ela. 

O relacionamento dela com o namorado e, mais tarde, com o marido sempre foi uma coisa tormentosa.Volta e meia havia crise da pesada, chumbo grosso. Sempre ela a desencadear as tempestades mas, nestas coisas, não interessa muito quem começa quando os dois não conseguem respeitar-se e viver em paz e acabam habituados a viver em permanente clima de desconfiança e clivagem.

Uma vez, num desses períodos tempestuosos, quis falar comigo e foi-me buscar ao emprego. Na altura, conduzia um carro daqueles pequenos, desportivos. Não me lembro o nome, só me lembro de 'mini' mas aquilo tinha um nome conhecido. Não interessa. Eu entrei no carro e ela estava, como sempre, toda gira. Era verão, estava com uma saia justa, relativamente curta. Sentei-me ao lado dela e, então, para meu espanto, como o carro era baixinho e a saia justa lhe subia nas pernas, vi que, acima de uma linha que ela devia achar que não se via, estava peluda mas peluda a sério. Daí para baixo, depilada. A visão daquelas pernas indecentemente peludas de meia coxa para cima mostrou-me um lado animalesco que eu não associava a ela. Quase gritei: 'O que é isso? Credo!' E ela muito natural: 'Não estou para ter trabalho com o que não se vê'. Eu horrorizada: 'Vês tu, bolas! E vê o teu marido! Credo, que horror'. Encolheu os ombros, o problema dela era outro. Eu ainda tentei: 'Com umas pernas dessas como queres que ele se interesse por ti, mulher?' Mas ela nunca percebeu que o amor é um somatório de coisas, algumas das quais insignificantes e nada espirituais.

Enfim.

Eu usava cera. Havia umas bandas pouco eficazes mas pareciam-me higiénicas. Primeiro que me enchesse de coragem para puxar... Ui... E, por isso, a medo, puxava devagarinho, devagarinho... e não arrancava nada e depois, quando ia aplicá-las de novo, já não aderiam. Lixo. Um desperdício, uma perda de tempo e uns nervos.

Mais tarde, alinhei com a prática vigente e comecei a ir a 'institutos de beleza' onde punham a cera nuns reservatórios nos quais a cera era reaproveitada. Quando penso nisso parece-me uma coisa pré-histórica. Hoje a ASAE não haveria de permitir. Sempre achei aquilo uma coisa horrível, meio nojenta, mas supostamente o calor necessário para derreter a cera mataria a bicheza de umas e outras. E, de resto, meio mundo usava este lindo processo -- e podia doer mas matar parece que não matava.

Mais tarde, esses pequenos 'institutos' de bairro começaram a usar também cera descartável, mais eficaz que a dos primórdios.

Contudo, mal apareceram aquelas maquinetas pequeninas e ultra-eficazes que arrancam o pêlo pela raiz, silk-épil, rendi-me a elas. Há muitos anos que o faço em casa. No entanto, os pêlos parece que, com o tempo, vão rareando e, portanto, apenas de vez em quando me lembro de passar a máquina nas pernas.

Nas axilas nunca me arrisquei. Acho que deve ser muito doloroso e, portanto, aí, é mesmo com a lâmina de barbear. No inverno mal me lembro mas no verão, para aí uma vez por mês, passo a lâmina.

Lembro-me de um amigo que, uma vez, pelos anos da filha, uma jovem universitária, lhe ia oferecer uma depilação a laser na Clínica do Pêlo. Queixava-se que era um balúrdio mas que a filha, peluda a sério, tinha que andar sempre a depilar-se pelo que ele achava que era um investimento que ajudaria na felicidade da filha.

E mais nada tenho a dizer sobre a problemática.

O tema não é sexy mas eu já antevia que, com o verão a rondar e com a minha vontade de férias, a coisa rapidamente se poria a galope em direcção a  um registo silly. Portanto, se vos espanta a vocês que eu aqui esteja a escrever sobre isto, a mim não me admira nada. Devem, aliás, estar prevenidos para que a coisa possa ainda descambar mais.

Mas foi ter lido sobre o anúncio que aqui vos mostro (no vídeo abaixo) que me fez escrever isto. Claro que, pelas bandas onde a coisa se vende, o mulherame anda numa agitex: feministas e não feministas debatem sobre se ter pêlos à vista é uma libertação ou se libertação é falar abertamente da necessidade de nos vermos livres deles. 

A mim tanto me dá. Mas o anúncio tem graça e isso chega-me.

Billie


Hair, hair: users applaud razor ad that shows women actually shaving





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