Tal como não lerei a maior parte dos livros que, certamente, gostaria de ler, também, de certeza, não visitarei grande parte dos lugares que amaria de paixão.
Assim é a vida: breve, incompleta.
Tenho um questionário para acabar de responder. Volta e meia, isto. Como gosto de responder a testes, não me importo. Mais um assessment. A minha alma já voi virada e revirada do avesso não sei quantas vezes e os resultados, cá para mim, mostram sempre o mesmo. Contudo, por algum motivo que desconheço, não os aproveitam de umas vezes para as outras. Se calhar acham que, de cada vez, a metodologia é melhor e que é melhor sujeitaram-nos a nova lente para descobrirem o ser secreto que se esconde debaixo da nossa pele. Não me importo. E vai haver uma entrevista, eu e mais duas pessoas, durante mais de duas horas. Acho graça, não me incomoda nada. Só que este é estranho, não percebo o sentido de algumas perguntas. A outras não me apetece responder, versam coisas com que nada tenho a ver. Mas, se não responder, aquela coisa não segue adiante. E longo, longo. Tinha que sair, já era tarde e aquilo ainda a meio. Resolvi acabá-lo agora em casa. Mas cheguei tarde, não me apetece.
Em algumas questões, é pedido que se ordenem as nossas prioridades de vida. Quando me apareceu essa resposta disponível para escolher, coloquei sempre em primeiro lugar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Jamais sacrifiquei a vida pessoal à profissional. Mas, de facto, sempre trabalhei muito. Se tivesse ficado professora como a minha mãe tanto desejou para mim, a minha vida teria sido bem outra, certamente com mais tempo livre e muito menos maçadas.
No carro, agora à noite, um telefonema. Defendi, uma vez mais e com grande convicção, que algumas pessoas deviam ser postas a andar. Não é bonito dizer isto aqui pois, de forma descontextualizada, pode parecer uma patifaria da minha parte. Mas não é ou, pelo menos, assim o acho. Tenho para mim que é inadmissível que uma meia dúzia de pessoas, com a sua incompetência ou má fé, ponha em risco os postos de trabalho de muitas centenas. Contudo, como todas as opiniões, a minha também pode ser considerada injusta ou arbitrária. Admito. Mas é a minha opinião e tudo farei para levar a minha adiante, travando as guerras que tiver que travar, desgastando-me o que tiver que me desgastar.
Mas, com tanta coisa a toda a hora, a verdade é que ando desde o princípio da semana para responder ao dito questionário e, durante o dia, não tenho conseguido. Tanta reunião, tanta coisa para tratar, tanta coisa sempre. E mal me sento no gabinete, entra um, depois outro e depois outro. Ou os telefones. Ou os mails a chegarem. Penso: quero chegar cedo a casa, quero não ter mais nada que fazer, quero ter tempo para os mails pessoais, quero ter tempo para ler. Mas o dia estendeu-se, o trânsito complicou-se, cheguei com uma hora de atraso à fisioterapia, na volta mais trânsito, horas roubadas ao meu tempo. À hora de almoço queria ter caminhado nos Jardins, queria ter tido tempo para a livraria. Nada, trânsito e mais trânsito e daí a nada outra reunião noutra ponta da cidade. E isto, nestes detalhes, não é uma escolha. São as circunstâncias que nos vão conduzindo ao longo da vida.
Várias vezes e de diferentes maneiras, no questionário, perguntam onde me vejo nos próximos anos. Tudo é de escolha de entre várias possíveis, não há respostas livres. Se pudesse, teria respondido que 'não sei nem me interessa saber'. Mas não tenho como responder assim e, então, rendo-me a dar uma resposta que não é a minha. Mas fico a pensar que há coisas absurdas a que me sujeito e, bem vistas as coisas, não sei bem a troco e quê.
Ao almoço, não havia nenhuma mesa livre. Sentámo-nos numa mesa onde estava uma senhora. Passado um bocado, chegou uma amiga dela e, ainda mal se tinha sentado, já estava a conversar, a contar que tinha ido a uma agência de viagens para tratar de uma ida a S. Petersburgo e logo contou da luta das mulheres russas e a outra recomendou que ela fosse ver um certo museu e logo mostrou que conhecia bem aquelas bandas. E eu, ao lado, entre reuniões e trânsito, a almoçar à pressa, sem tempo para sequer sonhar em ir passear, a pensar que há tantos, tantos lugares que gostava de conhecer e onde, de certeza, nunca irei.
E agora, uma da manhã, eu praticamente a dormir, sem conseguir ir aos mails pessoais, sem ser capaz de alinhar meia dúzia de palavras.
Gostava de aqui vos contar de como gostaria de fazer um percurso de bibliotecas e de livrarias. Mostro-vos algumas cujas fotografais encontrei na Elle francesa. De todas as que ali se vêem, só conheço a Lello (cuja escadaria se pode antever na 2ª destas fotografias que aqui tenho).
Também gostava de fazer um percurso de belos edifícios abandonados e decadentes. Ou de jardins. Ou de florestas que nasceram do nada. Ou de castelos ou palácios à beira de rios.
Gostava. Gostava mesmo.
Mas como não sei se algum dia conseguirei fazê-lo, vou-me contentando em ver fotografias e vídeos. Quem não tem cão, caça com gato, quem não passeia com os pés, passeia com os olhos.
Gostava de aqui vos contar de como gostaria de fazer um percurso de bibliotecas e de livrarias. Mostro-vos algumas cujas fotografais encontrei na Elle francesa. De todas as que ali se vêem, só conheço a Lello (cuja escadaria se pode antever na 2ª destas fotografias que aqui tenho).
Também gostava de fazer um percurso de belos edifícios abandonados e decadentes. Ou de jardins. Ou de florestas que nasceram do nada. Ou de castelos ou palácios à beira de rios.
Gostava. Gostava mesmo.
Mas como não sei se algum dia conseguirei fazê-lo, vou-me contentando em ver fotografias e vídeos. Quem não tem cão, caça com gato, quem não passeia com os pés, passeia com os olhos.
O rio Caño Cristales em Meta, Colombia
O homem que plantou uma floresta
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Não estou capaz de reler o que para aqui acabei de escrever e tenho a nítida sensação de que o texto vem aos tombos por aí abaixo. Várias vezes adormeci pelo que não estou nada certa de ter retomado o texto onde o tinha deixado. Relevem, please, se a escrita estiver cambaleante.
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E tenham, meus Caros Leitores, um belo sábado.
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