Não me parece que Rui Rio seja alternativa válida face a António Costa. É menos arrojado e menos corajoso que Costa, é menos 'moderno' e aberto à mudança que o Costa, é menos cosmopolita e menos consensualizador do que Costa, é menos sensível a questões sociais e culturais do que Costa. Portanto, não vejo que os portugueses, entre Costa e Rui Rio, tenham dúvidas em optar por Costa.
Contudo, Rio é uma pessoa credível, não é estarola, não é populista, não é troca-tintas, não é ignorante para além da conta, não é gabarola, nem, em geral, incompetente. Portanto, poderá fazer uma oposição saudável à actual maioria e não envergonhará os eleitores laranjas. Penso, aliás, que poderá reorganizar o partido e dar-lhe alguma sustentabilidade, nomeadamente a nível ideológico, área em que aquele partido anda tão falho. Não será nunca brilhante pois não é um visonário e falta-lhe aquela bagagem ou apetência cultural que faz a diferença. Mas, diga-se em abono da verdade, que Rui Rio vira a página da mediocridade absoluta que se viveu durante a lamentável égide lapariana.
Quanto a Santana Lopes é o que se sabe. Gosta de andar nestes bailaricos armados, gosta de se fazer ora de menino-guerreiro ora de bebé-prematuro, ora de ensaiar a pose de senador. Em suma: não se enxerga. E lá irá continuar o seu percurso mudando de mulher, de ocupação profissional, de ideias, de ambições.
E se alguns acharão que isto foi uma derrota para Marcelo -- que apadrinhou a candidatura do que hoje saíu derrotado -- tenho para mim que talvez tenha sido, sim, uma derrota mas que foi, sobretudo, um alívio. Depois de ver o Flopes nos debates e de ter constatado que a idade apenas o tinha piorado, Marcelo devia estar a rogar a todos os santinhos para que os eleitores laranjas não cometessem o disparate de o pôr à frente do partido. Rui Rio é atilado e centrado demais para se derreter com os excessos de Marcelo e para ser a voz do dono mas, enfim, do mal o menos. Um maluco a dizer parvoíces ou a aventurar-se à maluca por terrenos que não domina, dizendo disparates a toda a hora, é tudo o que Marcelo dispensaria.
Portanto, chegou a hora de Rui Rio. E não duvido de que terá com ele o partido -- que depois de anos de desafecto, andará, certamente, carente de uma liderança racional -- e o discreto beneplácito de Marcelo.
Contudo, também para ser sincera, tenho que confessar: tenho uma certa pena pois Rui Rio não deve inspirar-me grandes galhofas enquanto que com o derrotado bebé-incubado o gozo estava garantido.
Assim, olha, vou esperar para ver.
Assim, olha, vou esperar para ver.
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