segunda-feira, dezembro 25, 2017

Depois da véspera, segue-se agora o dia propriamente dito:
N A T A L





Quando eu era pequena apenas se festejava o Dia de Natal e conseguíamos acomodar os festejos sem ter que antecipar para a véspera ou transbordar para o dia seguinte. Nem me lembro bem como era. Se calhar estávamos com uns ao almoço e com outros ao jantar. Tenho ideia que os que não encaixavam no dia de Natal encaixavam no dia de Ano Novo. Era uma coisa tranquila e não tenho ideia de assistir a grandes trabalheiras. 

Quando me casei a coisa começou a complicar-se. A família começou a alargar-se e tanto mais quanto começou a fazer sentir-se o peso da terceira idade e alguns avós, tios e tias já não iam a lado nenhum, já éramos nós que tínhamos que ir buscá-los e, mais tarde, apenas visitá-los. Todos esses já se foram mas, ainda assim, a família tem vindo a multiplicar-se e a desdobrar-se e, de facto, os festejos e respectivos preparativos são obra.


Já há muitos contactos que são apenas por telefone. Muita gente, muito dispersa, impossível conseguir conjugar toda a gente. Primas e primos, por exemplo. Ontem foram uns, quando me ligaram estavam juntos na praia, ouvi o riso da criançada. Filhos que não acabam. Um que tem menos cinco anos que eu, casou com uma rapariga muito mais nova e ainda o ano passado tiveram mais uma menina. Outra minha prima, teve também uma menina há cinco anos, dez anos depois depois da última. Esta noite foi uma outra que, vá lá, ultimamente não tem procriado. Pelo meio, mensagem da minha mãe para não me esquecer de falar à prima com quem na véspera não tinha falado. Sabe que, no meio do reboliço culinário, me esqueço.

Grande parte da tarde foi passada na cozinha. Ouço que há quem vá para hotéis ou restaurantes e sei de quem encomende a comida feita. Isso para mim não é nada. E não que esteja a criticar quem o faça. Cada um faz como lhe apraz. Eu sou assim: de fazer tudo, tudo. Só doces é que não gosto de fazer. De resto, tudo. E gosto de o fazer em quantidades e variedades generosas. E improviso. Gosto de estar na cozinha com mil coisas para fazer. Não gosto de falar enquanto cozinho nem de ter gente por perto a perguntar-me o que estou a fazer. Não sei responder. Só sei no momento em que o faço.


Agora que cheguei da consoada (em casa alheia), já fui rechear e besuntar o gigante que amanhã, quando madrugar, o meu marido haverá de pôr a assar pois aquilo é animal para precisar de umas quatro horas, até porque gosto de ter o calor brando. Antes de ir consoar -- e enquanto fazia tiropitas de alheira e de farinheira*, massas recheadas com queijo e salmão e umas tarteletes que me saíram muito mal paridas (mas que eu já antevia que era manobra de alto risco: tarteletes de açorda de bacalhau) -- estava também a fazer o recheio com castanhas assadas, bacon, sultanas douradas, azeitonas, ameixas pretas, pão ralado, chouriço de carne, salsa. à chegada, já estava repousado e frio, enfiei parte para dentro do bicho e com o resto fiz um rolo que embrulhei em papel de alumínio.
* Ponho a massa crua devidamente tendida (compro no supermercado já pronta a usar). Ponho uma fiada bem aviada de ricota, cebolinho, fatias de maçã e numas ponho farinheira e noutras alheira. Enrolo. Besunto-as de azeite, depois ponho mel em cima e polvilho com sementes de sésamo. Levo ao forno. 

Já recebi alguns presentes e já dei alguns. Gosto, especialmente, de oferecer. De receber nem tanto pois tenho a sensação de que não preciso de nada e que tudo o que recebo aumenta o supérfluo que já tenho de sobra. 

Do meu marido não vou ter presentes-surpresa. Ontem, quando estava a abrir os sacos para acondicionar os presentes por destinatário, fui dar com um saco de que não tinha qualquer ideia. Ao contrário dos outros, este estava fechado com ar de presente. Tive que abrir para perceber para quem seria. Não reconheci. Estava estupefacta a pensar que demência tinha avançado sobre mim, não tinha qualquer ideia de ter comprado semelhante coisa, qualquer!, quando o meu marido entrou na sala e deu com aquilo. Ficou passado: 'Isso é para ti! Para que é que foste abrir?'. E eu: 'Ó caraças! Então porque é que foste pôr no meio dos outros presentes?'. E ele, fulo: 'Sabia lá eu que já ias tratar disso... Quando soubesse que ias, sacava de lá. Não disseste nada.'. Pronto. Não avisei. Quem é que ia supor que tinha ido pôr o meu presente no meio dos outros? Agora já o vi. Só não digo aqui o que é porque senão deixa de ser surpresa.

Este não deu à costa nem é o Pai Natal mas aposto que gostava de ser.
Marcelo foi ao banho na véspera de Natal: parece que é cisma que tem.
Para o ano parece que vai vestido de Santa Claus e, claro, sempre com as televisões atrás.
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Jingle Bell Rock


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E, uma vez mais, os meus votos: aos que possam, um feliz Dia de Natal. 
A todos quantos a vida não tem estado de feição, pois que as sombras pesem menos e que surjam algumas abertas em que os sorrisos espreitem.

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