domingo, outubro 29, 2017

Andam pessoas a voar no céu



Um calor quase opressivo de tão seco. Aos bombeiros já voltou o helicóptero. Tem bandeira espanhola e deve sair caro mas transmite confiança a quem o vê ali pousado. 

Continua a não ser possível usar a máquina roçadora. O mato devia ser cortado mas, assim, limitamo-nos a cortar pernadas de árvores. Dantes, por esta altura, já o tempo estava mais frio e mais húmido, numa zona limpa, fazíamos uma queimada. Agora não fazemos. Já nem sabemos onde pôr tanto ramo e ramagem. Era bom se houvesse carros que recolhessem isto; mas não há.


O campo está bonito, as cores douram a vegetação. O céu azul, limpo, a visibilidade absoluta até às maiores lonjuras.

Ao fim da tarde, aumenta o número de pequenos riscos brancos no céu. Há um pontinho brilhante à frente que vai deixando atrás um rasto branco. Hoje, em dada altura, contámos cinco risquinhos em simultâneo, três para um lado, dois para outro. Infelizmente nessa altura não tinha a máquina comigo. Mas acreditem que sim: ao mesmo tempo cinco risquinhos voando no céu e eu, aqui, in heaven.


Depois os risquinhos vão deslizando para longe, cada vez mais pequeninos até que desaparecem. Podia ser uma estrelinha com cauda, podia ser um enfeite com que os anjos brincassem no céu. Mas penso que são pessoas que lá vão, pessoas tão pequeninas que de baixo não podem ser vistas. Irão sentadinhas ao lado umas das outras, metidas numa caixinha metálica, e nem devem lembrar-se que, assim, cá de baixo, são coisinhas nenhumas. Só a caixinha onde vão brilha e deita um fuminho branco; delas não vemos nem vestígios, quase menos que longínquos passarinhos.

..................