domingo, outubro 29, 2017

Cherchez la lune




Recebo um mail. Fala de eu saber viver com ilusão e de como isso é importante para se gostar de viver. Recebo outro que vem de detrás dos montes e que fala do meu modo intenso de falar. E um outro que me oferece palavras lindas, das mais lindas que já recebi. E outro que me agradece e me deseja um bom fim de semana. Sorrio, agradecida eu, feliz pela simpatia que me chega de quem me lê. Um mail tem o título 'abençoada' e é assim que eu me sinto, abençoada pelo que recebo.

E leio outras palavras. Poemas, desabafos, queixumes, sinais, sorrisos, meias palavras, agrados. Gosto do que leio. Se me parece que não vou gostar, não me forço. Mas há casos em que as palavras que leio entram sempre, intactas e luminosas, no meu coração. 

Hoje, enquanto andei entre as árvores, aspirando o perfume do alecrim e dos pinheiros, encantada como sempre por aqui ando, ainda mais encantada fiquei ao perceber, no céu tão azul, uma meia lua branca. Rendilhada, delicada, feita para que nela convirjam os olhares dos apaixonados.


Princesa da Lua. Assim me chamava, às vezes, o meu pai, sabendo que eu gostava tanto da menina da história com esse nome. Sempre gostei da lua. Talvez toda a gente goste da lua. Mas eu gosto de uma maneira muito especial. Conto-vos. Quando estava grávida, à noite, costumava ir para a varanda e, aí, levantava a roupa e deixava que o luar pousasse no meu ventre repleto de vida. Não sei porque o fazia. Nunca me deito a perceber o que faço pois sinto que a percepção dilui a magia e, em algumas situações, a magia é melhor influência que a percepção. Sei que sentia que a luz branca que me chegava da lua era seda e carícia e traria felicidade aos bebés que cresciam dentro de mim -- e, sem o questionar, era isso que eu fazia.

Ambos nasceram no verão. Lembro-me muito bem dessas noites de luar. De noite, bem tarde, calor, muito calor, eu na varanda, tão jovem, um ventre tão bojudo. E eu, tão cheia de esperanças, ali, entregue à luz da lua, quase despida, com as mãos recebendo o reflexo prateado e com ele acariciando a pele morna e esticada para que a suavidade daquela luz branca levasse uma doce serenidade aos filhos pequeninos que, nessa altura, eu ainda não conhecia.


A lua. Eu, uma pequena princesa da lua no meu passado ainda tão presente, eu, ainda e sempre, clair de lune. Eu, aquela cujas palavras deslizam pelo imenso espaço até o vosso olhar as tocar.

Por entre as árvores, escondida, à vista, presente, insinuada, a lua branca e rendilhada. 

Cherchez la lune. Cherchez la femme. 
Je suis ici. Avec vous.

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