quinta-feira, novembro 07, 2013

O que é a melancolia? Veja, meu Caro/a Leitor(a), se é um melancólico/a ...... [Claudio Magris ajuda a perceber no seu livro 'Alfabetos]



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Ron Mueck (genro de Paula Rego) - Big Man, 2000

Para o melancólico, as coisas são enigmáticas, desvinculadas, cada uma isolada em si mesma, privadas de autêntico significado porque ele não as vê com aquela afectividade, aquele desejo e aquela confiança que lhes conferem calor, tornando-as familiares, amigas das mãos que as tocam e as trabalham, enquanto elementos da vida - como as estações do ano, em cuja cíclica repetição podemos inserir-nos com harmonia. Para o melancólico, pelo contrário, tudo isso se resume num inútil florescer e desvanecer.

A melancolia - observava Goethe - é a incapacidade de amar a repetição que pauta a nossa existência (as estações, o dia e a noite, os afazeres e hábitos quotidianos, o suceder das gerações) e de usufruir das inumeráveis e surpreendentes variações que cada aparente repetição diária  - na realidade sempre nova e aventurosa - contém. 

A melancolia percepciona pelo contrário o fluir e o repetir-se como uma infinita monotonia, o destilar de segundos e minutos sempre iguais no vazio. 


Jean-Louis-François Lagrenée, dit l'Ainé (1725-1805)
-'la melancolie'-huile sur toile-1785
Paris-Musée du Louvre
A melancolia é uma tristeza que não sabe precisar o seu objecto e a sua causa; acusa intensamente a perda de algo, sem poder dizer o quê.

A melancolia não só não pode definir a falta de que se sofre, como nem quer fazê-lo, porque se compraz e se nutre dessa perda indefinível e da sua indefinição, acrisola-se no seu próprio voluptuoso tormento; o tormento não quer fazer o luto, mas postergá-lo sem limite.

Ainda que tenha raízes antigas e implicações religiosas, além de uma inseparável dimensão clínica, a melancolia é sobretudo uma categoria, um modo de ser (...)


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                                                                  Escutamos aluimentos de felicidade.
                                                                  A arte de quem perde
                                                                  faz um eco impossível de esconjurar.

                                                                  Dentro de quatro linhas,
                                                                  alguém espera, o tempo dilata-se,
                                                                  uma dose de melancolia impõe-se.


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O texto em itálico é parte da crónica 'Melancolia e modernidade' integrada no livro 'Alfabetos' de Claudio Magris. A música é 'Cantus In Memoriam Benjamin Britten' de Arvo Pärt sobre imagem de Tilda Swinton em 'War Requiem' de Derek Jarman.

O poema é 'Portugal, durante a derrota' de Luís Quintais in 'depois da música' e a mulher de aparência melancólica é Cléo de Mérode que afinal não levou uma vida nada melancólica.


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1 comentário:

jrd disse...

A melancolia é presença constante da "ausência"...