Depois de, no post abaixo, ter falado de melancolia, aqui, agora, introduzo o tema do amor. Não uma dissertação que eu não sou doutora (nem sequer mestre) na matéria, apenas uma brevíssima introdução, nada mais que um amuse bouche.
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Há quem ostente ter amado muito e quem se acuse de ser incapaz de amar. Ambas as declarações, ainda que sinceras, denotam uma teatralidade suspeita.
Existem muitas histórias de amor no mundo - apaixonadas, dolorosas, violentas, de mau gosto - mas talvez poucos amantes verdadeiros.
Os mais suspeitos - quase sempre de boa fé como todos os feirantes, efectivamente inflamados e compenetrados do seu papel, quando impingem um pataco qualquer, mesmo sublime - são talvez os corações sempre à caça da paixão que os inebria e os dilacera, aqueles que sentem forte e poeticamente a sedução de toda a vida e do seu vertiginoso fluir e se enamoram de toda a flor no seu variegado desabrochar, de todo o rosto encantador, e de todo o sorriso fugidio, como a nós encanta a luz do meio-dia, o canto das cigarras, as primeiras campainhas-de-inverno.
no fogo da sedução
Sou dama da minha vida
deixo nela a minha pista
Senhora de meu desejo
de meu prazer e paixão
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- A escultura é Le Baiser de Rodin,
- a pintura é de François Boucher, Hercule et Omphale,
- o texto em itálico é parte da crónica 'Os défices do amor' de Claudio Magris in 'Alfabetos',
- o trailer refere-se ao filme L'Amant sobre obra homónima de Marguerite Duras.
- A poesia é 'Conquista' de Maria Teresa Horta in 'a Dama e o Unicórnio'.
- O graffitti 'Follow your heart' é de Banksy
- e a música é 'É o amor' de Maria Bethânia.
Como diria o poliglota e inteligente Passos Coelho: isto é um menu. O amor para todos os gostos, senhores e senhoras.
Se quiserem agora uma certa dose de melancolia, desçam, por favor, até ao post a seguir.
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Muito gostaria que dessem também uma vista de olhos ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje por lá tenho o Luís Quintais a quem o Pedro Mexia muito justamnete incluíu na colecção de poesia da Tinta da China. Por lá ainda, a seguir, encontrarão a música suave de Mayra Andrade.
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E, por hoje, é isto.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.
De preferência com amor e pouca melancolia.
2 comentários:
A propósito de amor, lembrei-me...
do meu pequeno livro de Daniel Filipe, A invenção do amor.
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um cartaz denuncia que um homem e
uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter
de urgência
deixando cair dos ombros o fardo
incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham
olhos e coração e fome de ternura
e souberam enterder-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta
A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
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A História está repleta de histórias amorosas interessantíssimas e curiosíssimas. Conta-se que um jovem mancebo se apaixonou perdidamente pela famosa estátua de Praxiteles, a Afrodite de Knidos, de tal modo que se fechava escondido no Templo onde se encontrava a referida estátua, acabando por deixar indícios dos seus afectos amorosos na dita estátua. De Dido e Eneias, cuja lenda regista como ter, daí, resultado a maldição de Cartágo contra Roma e que Purcell mais tarde veio a inspirar-se para uma das suas famosas composições. Outra história também, que igualmente inspirou posteriormente famosos pintores (como Tiopolo, Jodocus, David, etc) a retratar a cena histórica, foi a do extraordinário Apelles, quando pintava Campaspe, a bela concubina favorita de Alexandre o Grande. Apelles, à medida que a pintava, acabou profundamente apaixonado pela jovem, o que mereceu a compreenssão de Alexandre, que lhe terá posteriormente facilitado o encontro entre ambos. A paixão do Imperador Adriano pelo jovem Antinous, para amargura da imperatriz Vibia Sabina, ficou na História de Roma e deu origem a muita escrita sobre o mesmo. Já a paixão entre Cleópatra e Marco António levou à ruína de ambos e ao fim dos Ptolomeus no Antigo Egípto, que passou para a autoridade de Roma e de Octávio Augusto. A chegada da barca real de Cleópatra a Tarsus, onde se encontrava Marco António, que a convocara, relatada por Plutarco, é absolutamente extraordinária. O nosso Rei D.João V, a par das múltiplas infidelidades, veio, ao que se disse, a nutrir uma muito especial e funda predilecção amorosa pela bela Soror Paula, do Mosteiro de Odivelas. O Convento era, na linguagem de hoje, uma verdadeira “casa de passe”, com um misto de clero e fidalguia à mistura, como “visitantes amorosos”. D. João V foi ali progenitor, em função das suas múltiplas aventuras de leito, de uns 3 filhos, todos de freiras, vulgarmente conhecidos pelos “meninos de Palhavã”. A paixão do Sultão Suleimão o Magnífico por Roxelana é outra das que ficou nos anais da História, não só porque a bela ucraniana tinha sido uma das concubinas do seu harém, mas pela intensidade dessa relação amorosa. As cartas trocadas entre ambos são verdadeiras pérolas, extraordinárias declarações de amor eterno! Quanto a Rodin, a sua musa foi, como se sabe, Camille Claudel, vinte anos mais nova. Quando Rodin decidiu acabar com aquela ardente paixão, Camille, que também foi escultora (a sua obra talvez mais conhecida é a Valsa), Camille ainda tenta consolar-se com Claude Debussy, mas foi uma relação breve, sem resultado e a escultora sucumbe à depressão, acabando os seus dias num hospício. Tenho para mim que uma das coisas mais belas numa relação amorosa é a substituição, gradual, da paixão (ardente) por um outro tipo de sentimentos, como o de uma ternura imensa e um carinho profundo, que dão á relação um sentimento mais sólido e talvez até mais encantador.
P.Rufino
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